“Fragmentos íntimos”: uma exposição de Manuel Lousa da Costa em Dijon

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Quando escrevemos, quando produzimos arte, não será uma forma de contarmos as nossas histórias, de falarmos de nós, de descrevermos o que vai em nós? Por vezes, através das personagens das nossas escritas, dos nossos desenhos… desenhos através dos quais podemos projetar nosso propósito, o nosso pensamento…

É um pouco de tudo isto que Manuel Lousa da Costa apresenta, até 26 de fevereiro, na Hostellerie – Centre d’Art Singulier de Dijon na exposição intitulada: “Fragmentos íntimos”. Pinturas que devemos observar, que devemos ler.

Na apresentação da exposição que a associação “Itinéraires Singuliers” organiza, podemos ler: “Em torno dos seus fragmentos íntimos, é todo o universo estilhaçado de Manuel Lousa da Costa que bate à nossa porta. Quando a vida não pode exteriorizar-se por fora, por causa de uma deficiência física, abre-se ao que vai lá dentro. Convida o indivíduo a recorrer a um modo de expressão que de alguma forma transcende as alegrias e tristezas, os choros e as lágrimas que por vezes obscurecem a vida quotidiana. Manuel Lousa da Costa domestica as suas feridas, retratando-as num caos de traços multiformes, contam histórias, a sua história e traduzem a profundidade deste mistério muitas vezes incomunicável que nos anima quando queremos abraçar pictoricamente todo o abismo das nossas paisagens interiores”.

Sobre o artista, François Marie Lapchine, um dos organizadores da exposição, escreve: “Manuel Lousa da Costa é um artista que cria incansavelmente, em emergência, uma forma de expressar e tentar bloquear as repetidas agressões da dor”.

Natural do concelho de Sabugal, em Portugal, Manuel Lousa da Costa chegou a França com apenas 4 anos de idade, aos 12 anos foi diagnosticado com miopatia, aos 25 anos já não conseguia andar e viu-se numa cadeira de rodas. Tem atualmente 58 anos.

Manuel Lousa da Costa, autor de vários livros, diz de si mesmo: “A dor está inscrita em mim. Tolerável, intolerável, perturba-me, questiona-me. Com o tempo, tornou-se minha companheira… então agarrei-me ao que era mais íntimo para mim: a arte. A arte como motor da vida permite-me encontrar o equilíbrio e manter-me estável, estar em harmonia comigo próprio e com as minhas ideias. Este é para mim o caminho libertador, posso expressar-me sem constrangimento e sem proibição, este é o objetivo”.

Manuel Lousa da Costa expressa através da sua arte pictórica, através dos seus escritos, aquilo que muitos outros gostariam, mas que não podem, por estarem prisioneiros de si mesmos, tendo a dor como companhia, essa dor que Manuel Lousa da Costa expressa no seu livro “Douleur-Aie”, um livro no qual o autor, entre outras coisas, escreve 14 variações da palavra Aïe, fruto de uma reflexão, em conexão com a terapia seguida com o doutor François Volot.

Manuel Lousa da Costa resume assim o seu“Aie”: “Hoje o meu sofrimento é passado em silêncio, não despertando nenhuma preocupação nos que me rodeiam. Permaneço digno. Sufoco essa dor obsessiva que me atormenta, dia após dia, contendo-a de alguma certa forma. Infelizmente, ela é mais forte, vence, confronta-me, sem vergonha aparece, sobe ao palco, invade o meu rosto, atravessa, atrai o olhar dos outros”.

“Não posso tolerar tal rebelião. Devo pôr fim a esta insurreição, imediatamente: STOP! Respondo sem compromisso algum: Ao final, num vai e vem, uma esfoliação, e depois a passos largos, sem trégua, uma pincelada grossa de maquiagem, bem embalada e bem grossa, elimino meu intruso. Aqui estou eu, diferente, sorridente e feliz como uma cotovia”.

Manuel Lousa da Costa pela produção de arte, exterioriza o seu interior… é talvez, também, uma forma de nos pedir para compreendermos e aceitarmos o seu exterior, uma necessidade de partilhar, de se curar, de nos curar…

Para Manuel Lousa da Costa, a arte também pode passar pela sua cadeira de rodas, pelo seu espartilho: “duas extensões que são parte integrante do meu ser, embelezei-as para que o público não veja estes enxertos com mau-olhado. O humor, auto-escárnio quebra arquétipos, padrões, a diferença desaparece”.

 

Exposição

«Fragments intimes » de Manuel Lousa da Costa

Até 26 de fevreiro

L’Hostellerie – Centre d’Art Singulier de Dijon

1 boulevard Chanoine Kir

21000 Dijon

 

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LusoJornal