Lusa | Manuel de Almeida (arquivo)Funeral do cantor Marco Paulo realiza-se no sábado em Lisboa_LusoJornal·Comunidade·25 Outubro, 2024 O funeral do cantor Marco Paulo, que morreu ontem aos 79 anos, realiza-se no sábado à tarde em Lisboa, decorrendo o velório a partir das 16h00 desta sexta-feira, na Basílica da Estrela, anunciou a agência funerária Servilusa. O corpo de Marco Paulo estará em câmara ardente entre as 16h00 e as 22h00 de sexta-feira e as 09h00 e as 12h00 de sábado (horas portuguesas), de acordo com a funerária, num comunicado divulgado ontem à tarde. O funeral terá início às 14h30 de sábado, com missa de corpo presente, seguindo depois para o cemitério dos Prazeres, também em Lisboa. Marco Paulo morreu ontem “pacificamente, na companhia dos seus entes queridos”. “Aos 79 anos terminou a sua batalha contra o cancro, em paz e rodeado de todos os cuidados e o amor da família, amigos e fãs”, partilhou a família do artista num comunicado divulgado ontem de manhã. Intérprete de êxitos como “Eu tenho dois amores” e “Maravilhoso coração”, Marco Paulo, nome artístico de João Simão da Silva, nasceu a 21 de janeiro de 1945, em Mourão, fixando-se com a família em Alenquer, no distrito de Lisboa, no final dos anos 1950, e depois no Barreiro, no distrito de Setúbal, já na década de 1960. Entre outros músicos, escritores/letristas, produtores, Marco Paulo trabalhou com António José, Mário Martins, Rosa Lobato de Faria, Joaquim Luís Gomes, Fernando Correia Martins, Jorge Machado, Shegundo Galarza, Luís Filipe e Emanuel. . José Luís Marques recorda mais de 250 concertos em França “Mais um que nos deixou. Deixa-me o melhor” disse ao LusoJornal José Luís Marques, que foi agente de Marco Paulo entre 1973 e 1988. Aliás o cantor morou temporariamente em Sainte Geneviève-des-Bois. “Correu a França comigo em mais de 250 cidades” lembra José Luis Marques. “Até sempre meu amigo Marco”. O cantor, cuja carreira esteve ligada durante cerca de 34 anos ao produtor musical Mário Martins na discográfica Valentim de Carvalho, construiu um repertório maioritariamente de versões em português, tendo optado por um modelo de atuação no esteio de nomes como Tony de Matos (1924-1989), Rui Mascarenhas (1929-1987) e António Calvário. “O perfil artístico que desenvolveu gerou controvérsia pela imagem e estilo interpretativo que cultivou, popular”, lê-se na “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX” (2010). Segundo a sua biografia oficial, “50 Anos a Viver um Sonho” (2017), de Cristiana Rodrigues e Ana Oliveira, Marco Paulo cantou pela primeira vez num casamento, quando tinha pouco mais de 11 anos, tendo interpretado “La Campanera”, do repertório do ‘cantor-menino’ espanhol Joselito. . Cidália Meireles foi a pessoa que o descobriu Em 2017, em entrevista à Lusa, o cantor recordou “a pessoa que o descobriu”, a fadista Cidália Meireles (1924-1972), que na década de 1940 se celebrizara no trio das Irmãs Meireles. A fadista ouviu-o num ensaio com a cantora lírica, e levou-o ao seu programa na RTP, “Tu cá, tu lá”, em meados de 1965. “Foi aquele momento, aquela hora, que despontou tudo”, disse Marco Paulo. De imediato seguiram-se as primeiras gravações, as participações no Festival da Figueira da Foz, em 1966, com a canção “Vida, alma e coração”, de Eduardo Damas e Manuel Paião, e no Festival RTP da Canção, em 1967, com “Sou tão feliz”, de António Sousa Freitas e Nóbrega e Sousa. Voltou ao Festival da RTP em 1982, com “É o fim do mundo”, de João Henrique e Fernando Guerra. O seu disco de estreia, “Não sei”, de 1966, foi uma versão de António José da canção “Vorrei”, dos italianos Sergio Bardotti e Gian Piero Reverberi, gravada pelo francês Alain Barriére, em 1965. Seguiu-se um disco com Simone de Oliveira, com a qual gravou “Tu e só tu”, uma versão de “Something Stupid” (Carson Parks), gravada em 1966 por Nancy e Frank Sinatra. Em 2016, quando celebrou 50 anos de carreira, em declarações à Lusa, o intérprete de “Ninguém, ninguém” afirmou que vendeu milhões de discos, gravou mais de 70 álbuns e EP, contabilizando 140 galardões de platina, ouro e prata, e um de diamante. Marco Paulo argumentou que conhecia o país “como poucos”, pois atuou “em todo o território, de cidades a vilas e aldeias”, sem esquecer os antigos territórios ultramarinos sob administração portuguesa, e as comunidades portuguesas em França, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Venezuela e África do Sul, entre outros locais. Uma “carreira imensa” da qual se afirmava grato, reconhecida em 2016 com um Globo de Ouro/SIC-Caras por Mérito e Excelência. . Um respeito profundo pelo público “Quem me fez chegar aqui foi o público, de todas as idades e de todas as condições. Foram eles que compraram os meus discos, que assistiram aos meus concertos”, disse, referindo ter tido “sempre gente muito competente” ao seu lado, de produtores a músicos, compositores e autores. O cantor apresentou dois programas na RTP, “Eu tenho dois amores” (1994) e “Música no coração” (1996), que adotavam títulos dos seus êxitos, e um na SIC, com Ana Marques, “Alô, Marco”. “Taras e manias”, “Nina”, “Joana”, “Morena, morenita”, “Sempre que brilha o sol”, “Como passaram os anos”, “Só falei para te dizer que te amo”, versão do sucesso de Stevie Wonder, foram alguns dos êxitos de uma carreira que ganhou novo impulso em 1977 com sucessos como “O comboio da meia-noite” e “Mulher sentimental”. Em 2016, Marco Paulo prometia continuar a cantar, enquanto se ‘sentisse bem’ e projetava novos álbuns. “Não estou a pensar terminar daqui a dois anos, ou deixar de cantar. Eu quero continuar a cantar enquanto o público me deseja e eu sinta que o posso fazer. Se me sentir bem e [se sentir] que as pessoas me apoiam, quero continuar a cantar, mas não vou andar aí a arrastar-me. Vou continuar a ir aos sítios onde eu gosto e me sinto bem”. Em 2017, Marco Paulo publicou o duplo álbum “Ao Vivo No Campo Pequeno – Tour 50 Anos”, que assinalava o meio século de carreira; em finais de 2019, depois de ter atuado nesse ano na então Altice Arena, publicou o CD/DVD “As nossas canções”, a que se seguiram os ‘singles’ “Abraça-me”, “Adeus, adeus (Bella ciao)” e “Jesus Salvador”. Em maio de 2022, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou o cantor com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique, e Marco Paulo publicou o seu derradeiro álbum de estúdio, “Por ti”, anunciado pela editora Espacial, que o representou nos últimos anos, com quatro inéditos de José Cid, Elton Ribeiro, Miguel Gameiro e Nelson Canoa, a par de versões de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, e de uma homenagem a Dino Meira. .O cancro que o levou… Em junho desse ano, o artista anunciou que sofria um cancro no pulmão, mas afirmou acreditar que ia ultrapassar a doença. “A primeira vez, há 18 anos, os médicos viram os meus exames e davam-me três meses de vida. Ainda cá estou, mas sempre em vigilância”, disse o cantor recordando outro episódio oncológico detetado na mama. “Eu sou muito positivo. Quem já passou por quatro problemas de saúde complicados e vai para o quinto… Tenho a sorte de me rodear de médicos que me permitem tratar-me”. Desta vez os médicos não puderam fazer mais nada!