Gabriel Abrantes estreou curta rodada no Louvre, sobre arte e política

O realizador Gabriel Abrantes estreou no domingo passado, no festival de Cannes, um novo filme de ficção, sobre arte e consciência política e com uma visão sobre um certo espírito da atualidade, contou à Lusa.

Um ano depois de ter sido premiado na Semana da Crítica com a longa-metragem “Diamantino”, Gabriel Abrantes esteve novamente em Cannes para mostrar a curta-metragem “Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre”, na Quinzena de Realizadores.

O filme, que combina animação e imagem real, foi rodado dentro do Museu do Louvre, em Paris, palco de uma ficção em que as obras de arte ganham vida, assim que as portas fecham. Uma banal escultura de uma jovem rapariga, ignorada pelos visitantes por estar ao lado da Vitória da Samotrácia, decide sair e conhecer a vida fora do museu.

Gabriel Abrantes explicou que se inspirou numa obra de Hans Christian Andersen para contar a história de alguém que se quer transformar “num ser com mais sentido, com mais ambição política e se confronta com o mundo real”, complexo e cheio de contradições. “O filme está a reagir a um fenómeno que estamos a ver pelo mundo fora: no Brasil, com um voto de protesto da classe média que fez com que Bolsonaro chegasse ao poder, nos Estados Unidos, a mesma coisa com o Trump, em Inglaterra, com o ‘Brexit’. (…) O filme tem uma visão sobre esse espírito do nosso tempo”, sublinhou o realizador português.

Gabriel Abrantes recorda que, tal como esta ‘curta’, os últimos filmes têm tido uma personagem bastante ingénua que se confronta com contextos políticos e situações atuais. “É um olhar de fora para a atualidade”, disse antes da projeção, adiantado que estava curioso para saber como é que o filme ia ser recebido em França e dentro do contexto do festival.

O realizador português explicou ainda que procurou inspiração nos filmes de animação da Pixar e da Disney e que esta curta-metragem é uma espécie de ensaio para duas longas-metragens que planeia fazer, uma integralmente em animação e outra que combine imagem real e animação. “Sempre foi um dos meus sonhos. Tanto tenho um lado de vídeo experimental, cinema de autor como tenho uma grande paixão e respeito pela animação feita para uma família, e vou tentar fazer estes projetos que comecei na fase de pesquisa com esta curta”, afirmou.

Sobre o facto de ter passado duas noites a filmar no mais emblemático e visitado museu de Paris, Gabriel Abrantes fala de “um sonho que achava que seria impossível de realizar”.

“Mas apercebi que o Louvre tem uma política de rodagens bastante acessível. Gostaram muito do guião e tentaram ajudar o máximo possível”, recordou.

“Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre” é uma coprodução luso-francesa e contou com a participação do estúdio português de efeitos visuais Irmã Lúcia.

A Quinzena de Realizadores, um dos programas paralelos do Festival de Cannes, é organizada pela Associação dos Realizadores de Cinema, começou na quarta-feira e termina neste dia 25.

Na Semana da Crítica – outro dos programas paralelos ao festival – estiveram presentes as curtas-metragens “Dia de Festa”, de Sofia Bost, e “Invisível Herói”, da lusodescendente Cristèle Alves Meira.

 

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LusoJornal