Golpe de Estado na Guiné-Bissau: Militares tomaram o poder e General Horta Inta-A é Presidente de transição


Os militares tomaram ontem o poder na Guiné-Bissau, depois de um tiroteio que durou cerca de meia hora, segundo um comunicado das Forças Armadas guineenses. O comunicado foi lido na televisão estatal guineense TGB pelo porta-voz do Alto Comando Militar, Dinis N’Tchama, que informa que os militares assumiram a liderança do país.

O General Horta Inta-A foi hoje empossado Presidente de transição da Guiné-Bissau, numa cerimónia que decorreu no Estado-Maior General das Forças Armadas guineense, um dia depois de os militares terem tomado o poder.

A informação está a ser veiculada nas redes sociais de meios de comunicação guineenses, nomeadamente a Televisão da Guiné-Bissau (TGB).

Na comunicação de ontem informa-se que foi “instaurado pelas altas chefias militares dos diferentes ramos das Forças Armadas, o Alto Comando Militar para a restauração da segurança nacional e ordem pública” e que o mesmo “acaba de assumir plenitude dos poderes de Estado da República da Guiné-Bissau”.

O Alto Comando Militar informa que depôs o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e que encerrou, “até novas ordens, todas as instituições da República da Guiné-Bissau”.

Informa ainda que estão suspensas “as atividades de todos os órgãos de comunicação social”, assim como decidiu “suspender imediatamente o processo eleitoral em curso”.

Os militares encerraram também todas as fronteiras do país, terrestres, marítimas e espaço aéreo nacional, e estabeleceram “recolher obrigatório das 19h00 até 06h00, até repostas as condições necessárias para restaurar a normalidade constitucional do Estado guineense”.

No comunicado, explica que se trata de uma reação “à descoberta de um plano em curso de destabilização do país”, atribuído a “alguns políticos nacionais com a participação de conhecidos barões de droga nacionais e estrangeiros”.

Segundo os militares, o plano consistiria na “tentativa de manipulação dos resultados eleitorais” das eleições gerais de domingo, cuja divulgação estava agendada para esta quinta-feira.

O Alto Comando Militar acrescenta que “foi descoberto pelo Serviço de Informação de Estado um depósito de armamento de guerra” destinado à “efetivação desse plano”.

O Alto Comando Militar exercerá o poder do Estado a contar da data de ontem “até que toda a situação seja convenientemente esclarecida e respostas as condições para o pleno retorno à normalidade constitucional”, acrescenta.

Os militares apelam “à calma, à colaboração dos guineenses e compreensão de todos perante” o que classificam como “grave situação imposta por uma emergência nacional”.

Este golpe militar em curso na Guiné-Bissau surge depois de terem sido ouvidos tiros de armas ligeiras e de guerra no centro da cidade de Bissau, capital da Guiné-Bissau, desde as 12h40 de ontem, segundo relatos feitos à Lusa via telefone por testemunhas no terreno.

As missões de observação eleitoral da União Africana e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) tinham afirmado que o processo eleitoral decorreu de forma “ordeira e organizada”, pedindo respeito pela vontade dos eleitores e pelos princípios democráticos, num balanço preliminar das eleições na Guiné-Bissau feito no início da semana.

Na terça-feira, e já depois de o candidato Fernando Dias da Costa se ter declarado vencedor das eleições sem necessidade de uma segunda volta, o porta-voz de Sissoco Embaló disse igualmente que “tudo indica que não haverá segunda volta”, mas não adiantou os resultados alcançados pelo então Presidente da República na votação de domingo.

Em declarações feitas antes do golpe de Estado em curso, Óscar Barbosa exortou os guineenses “a manterem serenidade e que aguardem pela divulgação dos resultados das eleições pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), a ser feita na quinta-feira”.