Guineenses de França votam hoje para as Legislativas da Guiné-Bissau mas com fundo de polémica

Este domingo decorrem as eleições legislativas na Guiné-Bissau, com 21 Partidos políticos a concorrer, num ato eleitoral que tenta pôr fim a uma crise política que dura desde 2015, depois de o Presidente, José Mário Vaz, e o líder do PAIGC se terem incompatibilizado.

Em França estão a funcionar quatro Mesas de voto: Paris, Lille, Mantes-la-Jolie e Évry. Mas o total de recenseados passou dos mais de 4.000 Guineenses nas últimas eleições, para apenas 800 nomes nas listas oficiais para a votação deste domingo. “Normalmente, aquilo que está consagrado na lei, quando se fala da diáspora, a quem cabe organizar e decidir onde as pessoas se devem recensear, é a Embaixada, mas desta vez não foi o caso. Então, isso trouxe todo o problema. Foi um recenseamento seletivo com a intenção de recensear certas pessoas e deixar outras”, disse à Lusa a Embaixadora da Guiné Bissau em França, Filomena Mascarenhas Tipote. Por isso a diplomata diz que “eu acho que na história do multipartidarismo do país [desde 1994], este foi o pior recenseamento jamais visto. Em todos os sentidos, não só na Diáspora, mas também dentro da própria Guiné-Bissau”, apontando que não falhou apenas a organização do processo de recenseamento, mas também a forma como foi coordenado a partir de Bissau.

A Embaixadora Filomena Mascarenhas Tipote explicou que os esforços financeiros em França para garantir o processo de recenseamento, a formação dos representantes das mesas de voto e o estabelecimento das mesmas tem sido, até agora, arcado na íntegra pela Embaixada. A diplomata espera que a representação em França seja ressarcida o mais breve possível.

 

Comunidade também está descontente

Junto da Comunidade, a impressão é a mesma. “Não sei como foi feita essa campanha para o recenseamento. Deu polémicas, porque me desloquei duas vezes à Embaixada, mas nunca me consegui recensear. Deu-me a impressão que há uma má vontade em fazer as coisas”, afirmou Nú Barreto. Artista plástico guineense, instalado há vários anos em Paris, Nú Barreto não vai conseguir votar este domingo.

A falta de ‘kits’ de recenseamento biométrico, na Guiné-Bissau e nas representações diplomáticas, foi uma das dificuldades deste processo, que obrigou ao adiamento das eleições, inicialmente previstas para 18 de novembro.

Também o cantor Sidónio Pais, conhecido como Sidó, igualmente radicado em França e que conseguiu recensear-se, explicou à Lusa que a Comunidade guineense foi chamada a mediar problemas entre a Administração central e a Embaixada. “Houve um desentendimento entre quem veio da Guiné e a Embaixada e a Comunidade interveio no problema, fazendo mediação”, explicou o músico, esperando ainda que “tudo se passe na calma”.

Rui Quaresma, guineense residente em França e que dirige uma associação de ajuda às crianças da ilha de Jeta, assegurou, por seu turno, que se podiam ter recenseado mais Guineenses: “Houve muitos problemas, mas não me vou pronunciar sobre isso. Podia-se ter recenseado mais gente. Há muitas pessoas com nacionalidade senegalesa que são Guineenses de origem e essas pessoas também têm direito ao voto”.

A Comunidade da Guiné Bissau em França diz-se cansada do impasse em que o país tem vivido. “Espero que o povo faça uma boa escolha porque estamos fartos da situação de impasse. O país precisa de paz e estabilidade, assim é mais simples governar e nos próximos tempos é ver também a situação da educação e da saúde”, disse Rui Quaresma.

Nú Barreto diz identificar não só no povo do seu país, mas também na Comunidade que residente em França, uma clara vontade de mudança. “A vontade de mudança é flagrante, porque desde há quatro anos é uma sucessão de inconstâncias e incompetências e isso, por mais que o povo seja cego, chega a uma determinada altura que se apercebem da realidade”, afirmou.

Ao mesmo tempo, a frustração junto da Comunidade guineense com a situação política no país de origem tem-se agravado. “Já não suportamos ver o nosso país assim, sobretudo nós, na diáspora, que temos investido tanto para que as coisas melhorem. É mesmo essa a definição do emigrante, vir aqui para fora, trabalhar e criar melhores condições para os seus mais próximos e, consequentemente, também para todo o país. Mas o país não avança”, desabafou Sidó.

 

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LusoJornal