I Guerra Mundial: Portugueses já combatiam antes de Portugal entrar no conflito

Um site gerido pelo Governo francês revela a identidade de mais de meia centena de soldados nascidos em Portugal e mortos em combate em França a partir de 1914, muito antes da entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial.

«Os registos permitem conhecer a proveniência dos soldados. Se aparecem soldados de origem portuguesa, é porque viviam em França e foram naturalizados franceses para poderem ser recrutados pelo exército francês. Também há alguns voluntários. Quanto a saber se faziam parte da Legião Estrangeira, é possível», explicou à Lusa Sandrine Aufray, Diretora do projeto «Mémoire des Hommes», gerido pelo Ministério da Defesa francês.

Um dos nomes que aparece com a menção «Morto pela França a 4 de julho de 1916» é Carlos Franco, «um grande amigo do poeta Mário de Sá-Carneiro e do Fernando Pessoa, que seria um cenógrafo da Ópera Cómica de Paris, que se alista na Legião Estrangeira e que morre tragicamente na Batalha do Somme», identificou à Lusa o historiador de arte Carlos Silveira.

«O Sá-Carneiro dizia que ele citava de cor poesias dele e do Fernando Pessoa. Aliás, a peça ‘O Marinheiro’, que o Fernando Pessoa publicou na ‘Orfeu I’ é dedicada ao Carlos Franco», acrescentou o historiador.

Através dos diários das operações de todas as unidades militares, também reunidos no site francês, pode chegar-se aos diários do Regimento de Marcha da Legião Estrangeira, onde se alistou o soldado Carlos Franco e ler o relato do ataque de Belloy-en-Santerre, na região do rio Somme, no dia 4 de julho de 1916, quando houve 131 desaparecidos, incluindo o próprio português, e vários mortos, como o poeta norte-americano Alaan Seeger.

O site www.memoiredeshommes.sga.defense.gouv.fr apresenta diferentes bases de dados, mas a mais volumosa contém um milhão e 350 mil fichas de soldados que adquiriram a menção «Mortos pela França», oriundas de um vasto ficheiro criado em 1921 pelo então Ministério das Pensões e Subsídios de guerra.

A base, disponível online desde 2003, reúne fichas dos militares que morreram em combate ou que foram vítimas de doença ou de ferimentos provocados pela guerra e cada registo apresenta informações sobre o estado civil, o local do recrutamento, a patente militar, o contingente a que pertencia, a data, o local e a causa da morte do soldado.

Victor Pereira, historiador e professor na Universidade de Pau, alertou que pode também haver nesta base de dados «filhos de Franceses que nasceram em Portugal mas que são Franceses», precisando que «a presença portuguesa em 1914 em França era ainda diminuta e os Portugueses eram tão poucos que não apareciam nos censos».

Já o autor de «A Batalha de La Lys», Manuel do Nascimento, observou que os soldados nascidos em Portugal que aparecem na base de dados morreram entre 1914 e 1916.

O site apresenta, também, uma base com mais de 70 mil registos de soldados que pertenceram às aviações do exército, onde se pode encontrar, pelo menos, mais um nome de um português, Alfredo Portugal, «Capitão do exército português em 1 de outubro de 1917, recrutado em Lisboa e oriundo da Legação Portuguesa» mas – segundo a explicação de Sandrine Aufray – «deve ter sido integrado no exército francês».

A responsável do site acrescentou que o projeto tem tido «um enorme sucesso porque é fácil para as pessoas colocarem o nome de um antepassado e saberem o que lhe aconteceu», precisando que pode ser «uma base para continuar a investigação através de outros arquivos».

 

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LusoJornal