Isabel Wiseler-Lima, eurodeputada luso-luxemburguesa formada em França

A eurodeputada Isabel Wiseler-Lima, filha de emigrantes no Luxemburgo e que mantém nacionalidade portuguesa, escolheu um cravo para representar a Europa durante um dos debates da campanha, e considera que o 25 de abril faz parte da sua identidade. Isabel Wiseler-Lima licenciou-se em França na Sorbonne, em Literaturas Francesas.

“A minha identidade política está ligada à Revolução. Eu tinha 13 anos, mas tinha a consciência do que era uma ditadura e do que era viver livre na Europa”, contou.

Eleita a 26 de maio, a cabeça de lista dos cristãos-sociais (CSV), o partido de Jean-Claude Juncker, nasceu em Lisboa e veio para o Luxemburgo com três anos, dez anos antes da Revolução dos Cravos.

A eurodeputada, de 57 anos, lembra-se de em criança atravessar as fronteiras, para ir de férias em Portugal, e de “sair de um mundo livre para entrar numa ditadura”, recordando o medo de falar alto em público e o receio da polícia.

“Eu lembro-me perfeitamente de o meu pai levar jornais escondidos no forro da mala para mostrar à família o que se dizia de Portugal cá fora. E com uma criança no carro, não imagino o medo que ele passou”, recordou Isabel Wiseler-Lima.

“É por isso que, para mim, a liberdade, o Estado de Direito, são as coisas mais importantes que a gente tem”, defendeu, recordando a importância da entrada de Portugal na então Comunidade Económica Europeia.

“Há críticas à política económica europeia, e com razão, mas quando se vê o que trouxe a Portugal… Eu lembro-me como era, os bairros de lata, em Lisboa, antes do 25 de abril”.

O pai, reformado do setor da construção, chegou ao Grão-Ducado em 1961. Após o 25 de abril, a família quis voltar definitivamente a Portugal, mas desistiu ao fim de seis meses.

“Viram que a vida não se desenvolvia como eles tinham imaginado, habituados ao Luxemburgo, e resolveram voltar”.

Isabel Wiseler-Lima licenciou-se na Sorbonne, em Literaturas Francesas, e foi professora de francês.

Casou com Claude Wiseler, que viria a ser ministro dos dois últimos Governos de Juncker.

Só depois de os três filhos saírem de casa é que decidiu candidatar-se às autárquicas, em 2005, altura em que brincava, dizendo que era “casada com a política”.

Foi eleita para a assembleia municipal e em 2017 chegou a vereadora da capital, cargo de que vai abdicar para assumir o mandato em Bruxelas.

A eurodeputada naturalizou-se quando casou, numa altura em que não era possível ter dupla nacionalidade, mas uma confusão administrativa fez com que nunca abdicasse da nacionalidade portuguesa, uma exigência das autoridades luxemburguesas.

“Fui à Embaixada e disse: ‘Quero abdicar da nacionalidade portuguesa’. Responderam-me: ‘Ah, mas só pode abdicar da nacionalidade portuguesa se já tiver outra nacionalidade'”, recordou.

“Eu volto às autoridades luxemburguesas e digo: ‘Olhe, eles não me deixam abdicar’. E deram-me a nacionalidade luxemburguesa. E quando me deram aquele papelinho, o senhor disse: ‘Agora era bom que fosse à Embaixada abdicar da nacionalidade portuguesa’. Eu saí toda contente dali. Se era só ‘bom’, não era obrigatório”, contou, a rir.

“Tive a sorte de nunca ter tido de abdicar. Mas também respeitei a lei luxemburguesa, e nunca fiz uso da nacionalidade portuguesa enquanto as duas não foram permitidas”.

Hoje, vê com preocupação as dificuldades linguísticas dos portugueses no país, que representam 16% da população.

“Quando não se sabe luxemburguês, há uma exclusão de facto, porque os luxemburgueses falam luxemburguês entre eles, e isso acontece frequentemente no dia a dia, e na política muito mais. Quando ainda por cima não se sabe francês, então aí é mesmo um problema”.

O seu partido foi contra o direito de voto dos estrangeiros nas legislativas, no referendo de 2015, mas a eurodeputada lamenta a fraca participação dos portugueses nas restantes eleições: só 10% estavam recenseados nestas europeias.

“Fala-se muito do direito de voto a nível nacional, mas quando já se tem o direito de votar a nível comunal e europeu e não se utiliza, custa-me imenso”, desabafou.

 

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LusoJornal