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Jennifer Caschera: estilista lusodescendente de Lyon criou “A vos Souhaits Création”

Estilista e criadora de vestidos de cerimónia, a lusodescendente Jennifer Caschera transforma as suas peças únicas em verdadeiras obras de arte. Cada desenho, cada criação, é inteiramente feita à mão, de forma artesanal. Podemos encontrá-la na cidade de Lyon, mas os seus clientes vêm de toda a parte da França.

Estudou Artes aplicadas e tecelagem têxtil, mas é como autodidata que faz a maioria das suas peças. Entrou no mundo da moda, da alta-costura, para realizar o sonho de criança, hoje inspira-se nos filmes de fantasia e no mundo dos sonhos, e é isso que transmite através dos seus vestidos.

Jennifer Caschera conta-nos um pouco do seu percurso, numa entrevista ao LusoJornal.

 

Conte-nos um pouco da sua história, como começou e porque decidiu enveredar pelo caminho da moda?

Foi um pouco por culpa da minha mãe e do meu pai. Quando ainda era criança, a minha mãe também costurava, na altura trabalhava para Chantal Thomass (reconhecível pela sua franja eterna no cabelo e presente mesmo no logótipo) e eu fui observando. E foi nesta altura que também comecei a desenhar vestidos e isso deveu-se mais ao meu pai. Quando era mais nova, aproveitava a minha roupa que tinha sido comprada e transformava-a, tentava melhorá-la ao meu gosto, à minha maneira, a minha irmã servia de modelo, como ainda é hoje em dia para o meu trabalho. Na escola tinha boas notas em todas a áreas, especialmente na de desenho. Estudei na área do têxtil em Lyon, no Lycée La Martinière-Diderot, sempre próximo da família. A família significa muito para mim. E isto deveu-se aos valores incutidos pelos meus pais. A minha mãe quando era pequena, sempre me disse que teria de saber fazer de tudo um pouco, hoje em dia, graças a ela, acho que sei fazer quase tudo. Obrigada mãe! Mais tarde, fui trabalhar para o departamento 42, na Loire, onde exerci a função de estilista numa empresa, no entanto o lugar era temporário, o que não se revelava estável e tive de optar por outra solução, e regressei a Lyon. Encontrei-me no desemprego e solicitei formações, foi o grande passo para a criação de uma empresa. Trabalhar em casa para mim seria o ideal, uma vez que tenho os meus filhos menores e acompanho no que for necessário.

 

O gosto pela moda sempre fez parte da sua vida?

Sim, a minha irmã participou num concurso e na altura precisavam de vestidos, e eu fiz dois vestidos para aquele evento, a partir daí os organizadores dos Comités de misses começaram a solicitar os meus serviços, os fotógrafos de moda, os modelos e o meu trabalho começou a ser conhecido nesta área.

 

Como foi sua trajetória até à criação da empresa?

Trabalhei muito a imagem de marca, criei o meu website e lancei as minhas páginas Facebook e Instagram, onde comecei a publicar o meu trabalho em parceria com fotógrafos profissionais, onde divulgo no dia-a-dia os meus trabalhos e juntando tudo, foi meio caminho para a criação da minha empresa em fevereiro de 2019, “A vos Souhaits Création”.

 

Podemos dizer que hoje vive das suas criações?

Sim, hoje trabalho e vivo da moda. Posso dizer que este ano pago faturas da casa com o meu trabalho (risos).

 

Possui loja física na região de Lyon?

Não, ainda não. Neste momento o meu antigo quarto, em casa da minha mãe, é o meu showroom. Tenho o meu escritório e atelier na minha sala, com os manequins adultos e crianças. E é aqui que vou trabalhando os meus vestidos, tanto para os adultos como para crianças. Os meus clientes… são poucos os de Lyon, são de mais longe, chegam a fazer quilómetros para encomendar, comprar ou alugar os vestidos.

 

Como é o seu dia-a-dia profissional?

É um pouco complicado. No sentido que há muita concorrência. Temos de ser criativos, fazer algo novo, original, evitar as cópias. É isso que vejo no mercado. Ora, o meu objetivo é fazer algo diferente e único e que seja destacável. Não é fácil todos os dias, tenho a minha vida familiar também, mas tento sempre conciliar.

 

Como funciona o seu processo criativo, desde a etapa de pesquisas até a conceção dos modelos?

Sirvo-me muito das minhas origens, são as minhas influências, também vejo muitos filmes de fantasia e fantástico, o ambiente em redor também é um bom fator de inspiração. Assim como os vegetais, a flora, gosto de trabalhar muito com as flores.

 

Preocupa-se com o ambiente? É adepta da reciclagem nos tecidos?

Sim, preocupo-me muito, não jogo nada fora, reinvisto. Aproveito todas as sobras dos meus trabalhos. Por vezes transformo esses restos em pétalas e elaboro flores e no final transforma-se num belo e útil acessório de moda. Utilizo também as sobras para brincos, colares, entre outros. Mesmos os fios, as fibras que sobram, aproveito para encher os forros das bonecas de tecido.

 

Já pensou trabalhar outros materiais alem do têxtil? Com papel de jornais por exemplo?

Com jornal nunca trabalhei, mas no ano passado fiz um desfilie de moda sob o tema de Portugal e nesse desfile utilizei um tecido especial com motivos de Azulejo português, algo um pouco surreal para a maioria dos artistas mais conservadores. Mas estou sempre disponível para experimentar novos desafios.

 

Onde encontra as suas matérias-primas?

Procuro e compro um pouco por todo o lado, desde lojas convencionais, feiras e mercados passando pelas pesquisas na internet. Compro também tecidos em Portugal. Quando não encontro o que procuro, personalizo eu. Desenho e passo para a impressora têxtil, que disponho em casa.

 

Quais são os materiais com os quais mais gosta de trabalhar?

Esta é uma questão difícil… possivelmente a renda. Também gosto do veludo, posso adiantar que acabei de fazer uma parceira com a Velours de Lyon e tenho gostado de trabalhar com o veludo. Acho que depende das estações.

 

É fácil trabalhar na moda?

Não, é assim fácil, temos de trabalhar é muito, só assim conseguimos um lugar no mercado.

 

Podemos dizer que a moda também é arte?

Sim, sem dúvida, claramente artístico desde da conceção do desenho até ao produto final. Mas não é obrigatório passar pelo desenho, temos de ter a tal ideia criativa.

 

Quais foram os principais desafios da sua carreira até o momento?

O principal desafio foi mesmo a criação da empresa no dia 9 fevereiro de 2019. Foi essencial para estar onde hoje estou. Um outro desafio foi o meu primeiro modelo e foi a minha irmã que me incentivou a fazê-lo. Ainda me lembro, ela precisava de um vestido branco de gala para o desfile e eu aceitei esse desafio, e alcancei-o com enorme sucesso.

 

Tem alguma experiência ou algo marcante com a moda para nos contar?

Foi no ano passado, fiz um vestido inteiro, toda a conceção foi em penas de ganso, modelo sereia, que a Miss Rhône 2018, a Claire Laplane vestiu para um desfile. Foi considerado o vestido do ano, para mim e para muitos.

 

Onde notou o maior crescimento na profissão?

Foi este verão, em que fui convidada para participar no Salão do Chocolate. Aceitei este desafio e esta semana, entre os dias 8 e 11 de novembro, estarei presente no Festival do Chocolate na Cite international em Lyon, em parceria com o prestigiado chocolateiro Bruno Saladino, mais uma vez com uma peça única, feita em renda. No final do ano irei passar num dos principais canais da televisão francesa. Vou realizar um dos meus maiores sonhos… e mais não posso adiantar por ser segredo. Penso que tudo se deveu à criação da minha empresa no início do ano e à divulgação da mesma nas redes sociais.

 

Qual a sua visão da moda em Portugal e da moda contemporânea em França?

Em Portugal, conheci a estilista portuguesa Micaela Oliveira, ela também viu alguns dos meus vestidos e felicitou-me pelo meu trabalho. Disseram-me que o meu trabalho era parecido, tinha o mesmo toque, que o dela, então fiquei curiosa e visitei-a. Fiquei surpreendida e adorei o que ela faz. É surpreendente. Quando regresso de Portugal, fico sempre com a sensação de que estão mais avançados em relação à França, são mais “avant gardistes” do que os Franceses. Mais criativos, ousados, descomplexados. Considero que Portugal esteja mais avançado na moda.

 

Quais são as peças que não podem faltar no guarda-roupa de nenhuma mulher?

Neste momento, para o outono inverno, temos de jogar com os quadrados em calças, a camisola de malha torcida, as gangas e o vestido preto nunca sai de moda.

 

Hoje, o que aconselha àqueles que querem entrar na moda?

Tenho todo o gosto em ensinar o meu “savoir-faire” e ensinar as bases de costura. Podem entrar em contacto comigo. Para quem gosta de moda, estou a promover cursos de estilismo e costura todas as quartas-feiras, exceto nas férias escolares, das 14h00 às 17h00, no Centro Social Georges Levi, em Vaulx-en-Velin.

 

Para quem quiser conhecer mais o trabalho da “A vos Souhaits Création”, como a contactar?

Podem sempre contactar-me através das redes sociais “A vos Souhaits Création”, que tem as iniciais AVS e fundo preto, ou através do email: avossouhaits.creation@gmail.com

 

Quais são os seus planos e as suas expectativas para o futuro?

Quem sabe abrir a minha própria loja ou vir a trabalhar para uma empresa de alta-costura, alguém que se interesse pelo meu estilismo…

 

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LusoJornal