“La Révision Critique du Cinéma Brésilien”, a obra mais polémica do realizador Glauber Rocha

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O realizador brasileiro Glauber Rocha (1939-1981) sempre foi aquilo o que define um grande artista: os trabalhos que realizou nunca foram consensuais. Ora foram vilmente atacados por uns, ora colocados no pedestal por outros. Essa característica essencial torna-se ainda mais relevante nos nossos dias onde o “ser consensual”, o agradar a gregos e a troianos, é, estranhamente, considerado o maior dos elogios. Rocha foi, pelo contrário, um criador de controvérsias, capaz de incomodar com a sua reflexão e visão do mundo o mais insosso dos críticos.

E tudo começou de forma muito precoce na vida de Rocha: aos 23 anos, depois de várias curtas-metragens, realizou a sua primeira longa-metragem – “Barravento” (1962), filme que conta o regresso de um pescador à aldeia onde nasceu para libertar o seu povo das garras da religião – e, depois, em 1964, aos 24 anos, lançou um livro disruptivo que acaba de ser lançado em França: “Revisão Crítica do Cinema Brasileiro”.

A editora francesa L’Harmattan publicou então “La Révision Critique du Cinéma Brésilien” (tradução de Sylbie Debs), obra prefaciada por Paulo Antônio Paranaguá, no fim deste mês de maio.

Numa época em que o jovem Cinema Novo brasileiro titubeava ainda, Rocha decidiu publicar uma crítica militante, algo panfletária, passional (e apaixonante) da história da sétima arte no Brasil até então. Muitos olharam para esse livro escrito por um imberbe de 24 anos como uma tolice com demasiado sangue na guelra. A isto, Glauber Rocha respondeu, logo em 1964, com “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, um marco do Cinema Novo Brasileiro, do qual ele se tornou um dos ideólogos.

Esta “Revisão Crítica do Cinema Brasileiro” tornar-se-ia, portanto, e apesar das críticas, um dos mais influentes estudos sobre o cinema brasileiro da primeira metade de século XX.

Paranaguá no seu prefácio dá-nos o contexto da época: “o extraordinário otimismo do começo da década de 1960, caracterizado pela construção de Brasília, a eclosão da Bossa Nova e a mobilização social, favorecerá o espírito de resistência dos meios culturais”. Glauber Rocha e a sua obra são os frutos desses tempos de efervescência criadora; tempos que a História suprimiu com o golpe de estado militar de extrema-direita de 1964.

Homem de esquerda, Glauber Rocha, com o endurecimento da ditadura – há uns anos foi tornado público um documento oficial do regime militar no qual constava o nome de Glauber Rocha com alvo a abater – foi obrigado a exilar-se a partir de 1971, vivendo, por exemplo, em Portugal, onde adoeceu em 1980. Regressou ao Brasil para morrer no ano seguinte. É ainda hoje um dos realizadores brasileiros mais premiados internacionalmente.

 

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LusoJornal