Legislativas’24: Carlos Gonçalves lançou oficialmente a campanha eleitoral em Ormesson



O comício de lançamento da campanha eleitoral de Carlos Gonçalves às eleições legislativas de 10 de março, pelo círculo eleitoral da Europa, teve lugar em Ormesson-sur-Marne, no Centro Cultural da cidade onde o candidato da Aliança Democrática reside, na presença da Maire da cidade Marie-Christine Ségui.

Para estas eleições, o PSD aliou-se ao CDS-PP e ao PPM, e a candidatura surge no quadro da coligação Aliança Democrática (AD).

Apesar da chuva que se fez sentir e de todos se terem queixado dos grandes engarrafamentos, a sala acabou por encher para acolher primeiro o discurso de David Gomes, Maire Adjoint em La Chapelle Saint Mesmin, no Loiret, de Rosa André, Conselheira municipal em Saint Germain-en-Laye e do Presidente da Comissão Política do PSD em Paris, Joaquim Morais.

Marie-Christine Ségui assistiu a toda a cerimónia, mesmo se praticamente tudo se passou em português, porque a Maire da cidade compreende a língua portuguesa por a ter praticado há vários anos.

“Eu moro aqui há cerca de 30 anos, os meus filhos foram à escola aqui, há uma importante Comunidade portuguesa nesta cidade, que já vai na 3ª e 4ª geração. Aqui os Portugueses integraram-se bem, mas a população local também acolheu bem os Portugueses” disse Carlos Gonçalves no início da sua intervenção.

Marie-Christine Ségui tratou Carlos Gonçalves de “Amigo” e sublinhou que se trata de uma “Amizade real” explicando que “por vezes em política as amizades não são bem reais…” disse a autarca francesa. “O Carlos trabalha muito, é muito determinado, está sempre no terreno, é um homem de proximidade e isso é importante em política” e depois completou que “começar esta campanha em Ormesson só lhe pode dar sorte” e foi fortemente aplaudida.

Evocando o facto de Carlos Gonçalves não ter sido o candidato na última eleição legislativa, Joaquim Morais disse que “este homem passou o fel da amargura, mas vejam a qualidade dele. Também ele foi crucificado, mas não morreu, ficou sempre connosco, nunca nos traiu, apesar de andar naquele tormento, participou sempre nas reuniões… Este homem foi assassinado, mas ressuscitou. Este homem não tem limites”.

Carlos Gonçalves respondeu-lhe: “Eu não morri. Os políticos não morrem. Algumas pessoas estavam indignadas porque diziam que eu continuava a agir como um Deputado, mas eu continuava apenas a agir como cidadão e quando sou cidadão, fico preocupado com a vida dos cidadãos que convivem todos os dias comigo. Ser político é preocupar-se com aqueles que estão à nossa volta, em vários fóruns, nas associações, no Conselho nacional do Partido, na minha Comissão política, junto do meu Sindicato,… para defender aqueles que estão à minha volta” disse Carlos Gonçalves. “Portanto, aqueles que ficaram indignados por eu ter deixado a Assembleia da República, mas ter continuado a defender-vos, não perceberam o que é a democracia”.

“Em 2022, o líder do meu Partido decidiu, numa decisão unilateral, que eu não seria candidato às eleições legislativas, e temos de respeitar. Não vale a pena estar com grandes comentários e ninguém me viu, em lado nenhum, fazer um comentário negativo ao Dr. Rui Rio por não me ter escolhido. Infelizmente perdemos o lugar de Deputado por este círculo eleitoral, mas esse não é o meu problema. É o meu problema enquanto português e enquanto cidadão, mas não é o meu problema em termos políticos, mesmo se fiquei, evidentemente, desiludido, desanimado, porque agora, voltar a ser Deputado num círculo eleitoral onde não temos Deputado, não é a mesma coisa que quando tínhamos um Deputado”. E depois acrescentou que “como se costuma dizer, se fosse fácil, provavelmente não seria para mim. E cá estou, com grande orgulho, com energia, para vos defender com a mesma forma como vos defendi no passado”.

Rosa André confirmou isso mesmo: “Estás sempre disponível para estar próximo de nós. Quando te convidei, respondeste sempre presente. És o candidato que necessitamos ter em Portugal, depois destes anos caóticos, em que nada era claro, necessitamos de ti para desempenhar esta missão”.

David Gomes falou em “erro de gestão” e diz-se “feliz por poder ser agora corrigido este erro que afastou Carlos Gonçalves na última candidatura” porque “não há nenhum político que conheça tão bem como o Carlos Gonçalves a realidade da Comunidade e até o tecido político na Europa”.

Na sala estavam membros da Comissão política do Núcleo do PSD em Paris, mas também dirigentes associativos, autarcas franceses de origem portuguesa, empresários e a comunicação social. “Há aqui pessoas que têm uma história de vida notável. Alguns que estão em Portugal – e que falam das Comunidades portuguesas a partir de Portugal – deviam estar aqui, deviam falar convosco, conheceram as vossas vidas, para perceberem que Portugal é muito mais do que aquilo que eles pensam” disse o candidato.

Governo socialista sai sempre por incompetência

No início da sua intervenção, Carlos Gonçalves evocou o contexto político em Portugal e a demissão do Primeiro-Ministro. “Se se demitiu é porque tinha consciência de que, independentemente de ter uma maioria absoluta, ter todas as condições para governar, independentemente de ter todas as condições para reformar e para preparar o futuro do país, percebeu que o seu Governo desmoronou, com uma credibilidade completamente afetada, com cerca de 15 Ministros e Secretários de Estado afetados e alguns acabaram por não se demitir, apesar de terem provavelmente razões para isso, desde logo o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que estava implicado em vários casos e até o Secretário de Estado das Comunidades que também está sujeito a uma investigação”.

Evocando “maioria absoluta desperdiçada”, Carlos Gonçalves perguntou: “Como é possível que Portugal tenha um Governo a quem o povo português deu todas as condições para governar e desperdiçou tudo isto em dois anos, e é por isso que temos agora eleições antecipadas”.

“Nós também fizemos erros, porque fizemos muita coisa, mas saímos sempre de cabeça levantada, seja Cavaco Silva, Santana Lopes, Durão Barroso ou Pedro Passos Coelho, que governou o país em condições muito particulares, mas ganhou as eleições e saiu de cabeça levantada” disse o candidato. “O nosso grande adversário, o Partido Socialista, sai do Governo com José Sócrates, que fez as primeiras páginas dos jornais franceses com o escândalo que afetou o país e agora temos um Primeiro-Ministro que também faz a capa dos jornais em França, associado a um problema de corrupção. Nós saímos sempre de cabeça erguida, eles saem sempre porque têm de sair por incompetência e incapacidade para se ocupar do destino do país e do destino dos Portugueses”.

Metodologias de voto e mais Deputados pela emigração

Numa intervenção que durou mais de meia hora, Carlos Gonçalves assumiu que “temos de dar voz, temos de dar mais voz, temos de dar a voz a que se justifica, aos Portugueses que residem no estrangeiro” alegando que apesar de termos 1,5 milhões de eleitores inscritos nestas eleições, “muitos não votam, não podem votar, porque as metodologias de voto não permitem muitas vezes votar”.

“Já em 2004-2005, era eu Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, avançámos para um teste do voto eletrónico e foi um teste bem-sucedido. 20 anos depois, ainda há partidos políticos na Assembleia da República que chumbam todas as propostas que o PSD apresentou para a realização de testes de voto eletrónico”. Evocou as propostas chumbadas em 2017 e mais recentemente pelo Partido Socialista. “Eu pergunto: como é possível ir às Comunidades, apelar às Comunidades portuguesas para votarem, quando, sempre que está em questão a facilitação do seu voto, votam contra, têm dúvidas e não acreditam que o voto de quem está fora deve valer tanto como o daqueles que estão em Portugal”.

“E depois dizem que votam poucos. É verdade que votam poucos. Mas nas últimas eleições legislativas fomos 256.000 os que votámos, com esse número de votos, o distrito de Leiria elegeu 8 ou 9 Deputados. E nós só temos 4”. Foi interrompido pelos aplausos.

O Candidato do PSD acrescentou que “Rui Rio propôs uma reforma com redução do número total de Deputados, mas com aumento de 4 para 5 Deputados na emigração. Temos de ir mais longe, e não tenho nenhum problema em defender isso na Assembleia da República” afirmou no seu discurso. “O que conta para mim é que pela primeira vez um Partido trabalhou na Assembleia da República no sentido de aumentar o número de Deputados pela emigração e fico mais feliz ainda porque foi o meu Partido, independentemente de ter sido o Dr. Rui Rio. Foi uma medida positiva, independentemente de ter sido menos audaz do que eu gostaria”.

O que fizeram os dois Deputados socialistas?

Carlos Gonçalves perguntou: “O que se passou durante estes dois últimos anos? O PS teve dois Deputados por este círculo eleitoral na Assembleia da República, o que se passou? Houve viagens, jantares, visitas às Comunidades, tudo bem, também é importante, mas a Assembleia da República não é só para isso, é sobretudo para apresentar propostas, é sobretudo para discutir temas do vosso interesse, é sobretudo para ter a coragem de confrontar o próprio Partido pela inércia e pela incapacidade daquilo que faz. Ser Deputado é defender aqueles que representamos, sobretudo na ação e na capacidade legislativa que altere a vossa vida e a vossa relação com Portugal” concluiu Carlos Gonçalves e voltou a ser interrompido pelas palmas.

“Ao fim de dois anos, em que não se passou absolutamente nada, com condições extraordinárias como nunca ninguém teve, com os dois Deputados pelo círculo eleitoral, com maioria absoluta, com um Presidente da República que foi o mais institucional possível na relação com o Governo… não se passou nada”.

Rede consular “bateu no fundo” e associações sem apoio

Carlos Gonçalves disse que “nestes últimos dois anos, a rede consular bateu no fundo, e agora, à última da hora, é que estão a recrutar, porque havia postos que não conseguiam funcionar”.

“Havia emigrantes que esperavam anos para serem atendidos nos nossos Consulados na América do Sul. Como foi possível chegar aqui, deixar os serviços consulares nesta situação?” interroga-se.

E referindo ao recente aumento dos salários dos funcionários consulares, Carlos Gonçalves explicou que “o Ministério abria concursos, por exemplo em Nova Iorque ou em S. Francisco e ninguém concorria. O salário não dava para sobreviver e os Consulados não tinham funcionários. Os Cônsules estavam perdidos, os Embaixadores estavam desanimados, então foram obrigados a subir os salários de quem entra na primeira categoria, o que permitiu a todos os funcionários de serem aumentados. Eu também fui. Mas há 10 anos que se esperávamos por este aumento salarial”.

O candidato social-democrata afirma que “temos países sem um único apoio ao movimento associativo” e salientou até o caso da região consular de Lyon, onde “nenhuma associação foi apoiada”.

“As associações tradicionais – e estão aqui algumas nesta sala – não conseguem ter apoio de Portugal. A forma como a DGACCP [ndr: Direção Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas] define os apoios para a diáspora, é não perceber como funciona a diáspora, é não perceber que estão em ordenamentos jurídicos completamente distintos, então em realidades completamente distintas, e que os pedidos não podem ser pedidos todos ao mesmo tempo, praticamente as coisas são organizadas de três em três meses”.

Críticas ao Chega e aos curandeiros

Na sua intervenção, Joaquim Morais evocou um vídeo de Marine Le Pen a convidar os Portugueses a votarem no Rassemblement National. “Espero que não haja aqui nenhum traidor ao Carlos, que não haja nenhum Judas” lembrou, quase para se fazer perdoar de ter ido, ele próprio, a um jantar-comício do partido Chega, em Paris, e se ter sentado à mesa com a irmã de Marine le Pen.

“Eu não quero ter a Marine Le Pen a governar em França, assim como não quero o Chega a Governar em Portugal” esclareceu Carlos Gonçalves. “Uma pessoa que tem soluções para todos os problemas e que, para problemas complicados, tem solução fáceis, então devemos desconfiar”.

“Acham que os grandes obstáculos se resolvem com um estalar dos dedos?” pergunta Carlos Gonçalves. Duvidem sempre daqueles que têm soluções muito fáceis” e depois explicou que “isto é como ir ao médico quando estamos doentes. O médico manda-nos fazer exames, análises, radiografias, receita medicamentos, mas se formos a um curandeiro, saímos de lá com o problema resolvido”.

Joaquim Morais evocou também a resiliência e a constância do candidato Carlos Gonçalves. “Há 30 anos que o Carlos manda rezar uma missa pelos fundadores do nosso partido, e em particular por Francisco Sá Carneiro. Há 30 anos que o faz, à volta do dia 4 de dezembro. É preciso muita resiliência”. E depois evocou o almoço, no dia anterior entre Luís Montenegro e o Cardeal Américo Aguiar. “Foi almoçar com um homem de grande valor, então também ele tem grande valor”.

Referindo ao líder atual do PSD, Luís Montenegro, Carlos Gonçalves afirma que “eu conheço muito bem o Luís, porque entrámos no mesmo dia para o Parlamento, aliás foi uma das 5 primeiras pessoas que me visitou no meu Gabinete quando fui Secretário de Estado das Comunidades portuguesas, é alguém que desde muito cedo, no Parlamento, começou a contactar com as Comunidades”.

“Ele tem uma conceção que é única. Nós não podemos estar à frente dos destinos de Portugal, sem perceber algo fundamental: que nós somos um país completamente espalhado pelo mundo. O nosso país é o nosso povo. Somos um país global, porque temos gente nos quatro cantos do mundo”.

Carlos Gonçalves lembrou ainda que Luís Montenegro visitou as Comunidades portuguesas na Europa. “Ele esteve em França, na Bélgica, no Luxemburgo, na Suíça… e quando for Primeiro-Ministro virá a Ormesson” prometeu, virando-se para a Maire Marie-Christine Ségui.

Carlos Gonçalves está esta sexta-feira no Reino Unido, mas foi Joaquim Morais, o Presidente da Comissão política do Núcleo de Paris, quem deu a receita para a campanha eleitoral: “estar aqui a bater palmas e a apoiar o Carlos, não chega. É necessário ir de porta em porta, buscar os votos”.

Para a AD, a campanha eleitoral está lançada!
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Carlos Pereira, com Mário Cantarinha

LusoJornal