Lusa | José Sena Goulão

Législatives’24: A desilusão de Bardella e a surpresa da Esquerda e do Centro


A noite eleitoral de ontem foi cheia de surpresas, mas a maior foi certamente o resultado do Rassemblement National. É verdade que o RN aumenta bastante o número de Deputados (ainda há poucos anos tinha apenas 7!), mas falha redondamente a vitória nestas eleições, que já estava a ser festejada desde a primeira volta das legislativas.

Até André Ventura já se tinha mostrado disponível para vir a Paris à tomada de posse do Governo de Jordan Bardella.

Na primeira volta, Marine Le Pen antecipou-se a todos e foi a primeira a discursar para anunciar a vitória do RN. Desta vez, deixou Jordan Bardella sozinho, visivelmente tenso e desiludido, falar ao país. Estava só, sem ninguém ao lado.

Mesmo se o Presidente do Partido veio dizer que nunca o RN teve tantos Deputados, a verdade é já se imaginava em Matignon, já tinha dito que tinha o Governo formado e até pedia uma maioria absoluta.

Acabar por ser a terceira força do país é pois uma derrota.

A campanha do Rassemblement National estava baseada no silêncio. Quanto menos falasse, mais subia nas sondagens! Recentemente, quando Bardella se descaiu com a questão do “Direito do solo” e com os “Binacionais”… foi perdendo eleitores todos os dias.

E derrotado saiu também Eric Ciotti, que num ato incompreensível e isolado, se aliou ao RN para estas eleições. O líder dos Républicains já tinha em previsão uma pasta no Governo e por isso, também foi um dos grandes derrotados da noite eleitoral.

A vitória da Esquerda unida

A Esquerda unida foi a grande vencedora das eleições. Apareceu como a primeira força política do país e confirmou que a estratégia da “barragem” ao RN funciona ainda.

Mas Jean-Luc Mélenchon, quebrando a tradição do vencedor ser o último a falar, decidiu passar à frente de todos e falou ao país, antes mesmo de se coordenar com os seus principais aliados do Nouveau Front Populaire. Falou para chamar a si esta vitória, numa atitude incompreensível de dessolidarização em relação aos outros partidos.

Deixou assim claro que este bloco não coeso, e que cada um puxa a braza à sua sardinha.

Se a Esquerda não teve uma vitória mais clara nesta eleição é, sem dúvidas, devido a Jean-Luc Mélenchon. Com o seu estilo provocador, o líder da LFI, criou anticorpos, nomeadamente com o seu discurso sobre a polícia e sobre a emigração. Mesmo Rufin, un aliado desde a primeira hora, veio dizer que era um “boulet”.

A LFI é o partido com mais Deputados eleitos, mas é de notar que o Partido Socialista teve um resultado bastante bom, aumentando o número de Deputados na Assembleia Nacional.

Uma “maioria presidencial” ainda bastante forte

Outra surpresa importante da noite eleitoral foi o resultado do “centro-macronista”. Quando toda a gente deu o partido como desfeito, o resultado é mais do que surpreendente, já que é ainda a segunda força política do país.

Sem dúvida que uma parte importante deste resultado deve ser atribuído a Gabriel Attal. O Primeiro-Ministro foi claro ao dizer que não tinha decidido esta dissolução da Assembleia Nacional, mas encarou a campanha com muita frontalidade.

Gabriel Attal não ganhou estas eleições, mas ganhou certamente muitos pontos para mais tarde.

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Ainda outra surpresa é o resultado dos Républicains. Toda a gente dava também o partido como destruído, mas com cerca de 65 Deputados, é uma peça importante no próximo hemiciclo.

O partido tem pela frente uma restruturação e a eleição de uma nova liderança.

Finalmente, uma palavra para a participação, que foi ainda maior do que na primeira volta das legislativas. Os 68% de votantes bateu recordes das últimas décadas e isso é muito positivo.

E agora? Quem vai governar?

Este é outro assunto, mas não deixa de ser impressionante o número de comentadores que acha que só deve governar quem tem maioria absoluta. Ora, há muitos países com Parlamentos sem maioria absoluta e que têm de governar com acordos e alianças.

Se os Deputados agora eleitos perceberam a mensagem dos eleitores, encontrarão certamente forma de chegar a acordos de Governo.

Mas este é o grande tema para os próximos dias e para as próximas semanas.

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