Livro: Apresentação do “Jornal de bordo: Brasil de 2021” de Mazé Torquato ChotilDominique Stoenesco·Cultura·25 Outubro, 2023 [pro_ad_display_adzone id=”37509″] No âmbito do Ciclo de encontros da Biblioteca Gulbenkian, sábado 28 de outubro, às 15h00, será apresentado o livro da jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil, “Jornal de bordo: Brasil de 2021”, pelo autor destas linhas. O encontro ocorrerá na Biblioteca Gulbenkian, na Maison du Portugal (Cité Universitaire de Paris). Neste “Jornal de bordo: Brasil de 2021” (editora Penalux, 2023, 78 páginas), Mazé Torcato Chotil nos apresenta uma releitura pessoal da realidade do seu país de origem, após dois anos da sua última viagem e após quase dois anos de pandemia. Apresentado em forma de prosa em versos livres, sem ser todavia nem prosa nem poesia, este “Jornal de bordo”, ou diário de uma viagem, está repartido em vinte e quatro quadros marcados pela cronologia dos acontecimentos e pelos espaços geográficos percorridos num tempo quase vertiginoso (“Terceiro dia”, “Antes da visita à mãe”, “Viagem ao centro da cidade”, “Rumo à rodoviária”, “Dia da chegada do cara-metade”, etc.). Com efeito, são vinte e quatro textos curtos, escritos numa linguagem do cotidiano, simples, com poucas conexões gramaticais entre as frases (ou versos), com verbos raramente na primeira pessoa, num estilo que marca a oralidade dos textos e que mantém o leitor em suspense até o final da jornada: “Noite curta, / dia de partida para o Mato Grosso do Sul. / Em busca do tempo passado? / Estrada longa, caminhões, o tempo indo…/ Conversas, / passado e presente, / o pai, o irmão e sua companheira”. Sempre em movimento, ora saltando de um ônibus para outro, num périplo ofegante, principalmente entre sua terra natal (Dourados, Mato Grosso do Sul) e São Paulo, ora nas suas caminhadas matinais ou nos seus passos para o lançamento de seu novo livro, acompanhamos a autora em suas partidas e chegadas, em seus encontros e reencontros, em seus momentos de incertezas, tristezas e esperanças: “Esperanças presentes, / desejos intactos, / paralisia às vezes. / Um outro mundo possível? / Em quanto tempo?” Esta interrogação é recorrente no jornal de bordo de Mazé Torquato Chotil, assim como a ânsia de querer “entender a realidade do outro / sentir vibrar o país”. Paralelamente a esta indagação, surge o dilema permanente: “querer partir, querer ficar”, um sentimento que caracteriza os homens e mulheres qui vivem na condição de emigrante ou de exilado. .Se, por um lado, como sugere o segundo elemento do título (“Brasil de 2021”), este diário é um olhar social implacável sobre um “país à procura de rumo”, em plena crise econômica e sanitária : “Nas ruas / dormem os sem tetos, / esquecidos, dementes, doentes, / deixando seus odores, seus desânimos”; ou ainda: “Energias perdidas, / prédios abandonados, reformas não / feitas, casas inacabadas. / Que país é este? / Energias perdidas”), por outro lado, é também uma autobiografia – gênero textual no qual Mazé Torquato Chotil tem revelado através de várias publicações sua competência – que nos dá vontade de querer descobrir a cada passo o mundo da sua infância mato-grossense, das suas paisagens, das suas lembranças, muitas vezes com carácter intimista e confidente. Embora “Jornal de bordo: Brasil de 2021” não seja um texto de poesia, no sentido clássico da palavra, como dissemos mais acima, o diário de Mazé Torquato Chotil é por vezes pontuado por imagens que refletem uma grande espontaneidade e sensibilidade na sua percepção da vida cotidiana, como nestas duas passagens: “A terra continua vermelha. / Uma poeira coloriu o céu do lado direito. / Uma cadeira embaixo de uma magnífica mangueira / na beira da estrada. / Quem nela se senta para ver as / estrelas em noite de luar?” “De volta à cidade, / andando pelas sombras, / fugindo do sol. / Uma bicicleta passa / o homem na frente pedala. / Atrás, uma senhora sentada de lado / com uma criança no colo”. Mazé Torquato Chotil, nascida em Glória de Dourados (Mato Grosso do Sul), morou em Osasco (São Paulo) por mais de 10 anos e vive em Paris desde 1985, onde desenvolve atividades culturais. Doutora em ciências da informação e da comunicação (Universidade de Paris VIII) e pós-doutora (École des Hautes Études en Sciences Sociales), tem 12 livros publicados, dos quais cinco em francês. [pro_ad_display_adzone id=”46664″]