Livro de Daniel Bastos com fotografias de Fernando Mariano Cardeira foi apresentado em Paris


O livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência” do historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, foi apresentada na Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade Internacional Universitária de Paris no passado dia 21 de setembro, com intervenção do Deputado Paulo Pisco.

A edição bilingue (português e inglês) traduzida por Paulo Teixeira, tem prefácio do historiador José Pacheco Pereira e integra cerca de 150 das mais de 70 mil fotografias do espólio fotográfico deFernando Mariano Cardeira.

“O livro está praticamente esgotado, mas não podíamos deixar de vir a Paris” lembrou Daniel Bastos. “Este é um tributo a todos os anónimos que saíram do país e um tributo ao papel importante da Comunidade portuguesa”.

A sessão de apresentação encheu a Casa de Portugal e o Diretor da instituição lembrou que a apresentação tem lugar no quadro das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. “A Casa de Portugal insere-se num movimento pacifista que, entre as duas guerras, fundou a Cité universitaire internationale de Paris. Os seus fundadores decidiram construir uma estrutura para as relações humanas, para a paz. Eles pensaram que fazendo encontrar estudantes estrangeiros vindos do mundo inteiro, eles compreenderão que, apesar de origens diferentes, não são assim tão diferentes” lembrou João Costa Ferreira. “Neste ano em que celebramos os 50 anos da Revolução dos Cravos, quero salientar a interdependência que existe entre o projeto de paz da Cité internationale universitaire de Paris e a liberdade que os Portugueses conquistaram há exatamente 50 anos. Porque é difícil, e até impossível, de imaginar um mundo de paz sem liberdade, porque é difícil dialogar com censura. É por isso que todos os eventos que são organizados aqui por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril, são tão importantes para nós”.

“É a primeira vez que aqui estou” lembrou Daniel Bastos antes de contar como encontrou Fernando Mariano Cardeira, na apresentação de um outro livro da sua autoria, com fotografias de Gerald Bloncourt, “que imortalizou a história da emigração portuguesa para França”.

“Apresentei esse livro na Associação 25 de abril, em Lisboa e o Fernando Mariano Cardeira estava na assistência. Não nos conhecíamos. No fim veio ter comigo e disse-me que gostava que um dia visse as fotos dele” e o resultado está agora nesta obra que já foi apresentada em Portugal no Canadá antes de ser apresentada agora em Paris.

“O Fernando é desertor, exilado político, emigrante, andou sempre acompanhado de uma máquina e utilizou a fotografia como arma social” explica o autor. “Tem fotografias das manifestações de maio de 68 (ainda em abril), dos ‘bidonvilles’ de Lisboa, do embarque dos soldados para a guerra colonial, onde seguiu um irmão, fotografou o ‘salto’ que fez pela fronteira do Gerês, esteve primeiro em França e depois na Suécia”.

Para Daniel Bastos, que é historiador, “estas fotos ajudam-nos a compreender a realidade da sociedade portuguesa, mas também a coragem daqueles que tomaram decisões difíceis, até contra a opinião de familiares, e desertaram”.

“Gosto muito de apresentar livros. É a melhor maneira de conhecer realidades e contam-nos sempre alguma coisa se soubermos ler” começou Paulo Pisco na sua longa intervenção. “Em vez de passarmos pelas fotografias, devíamos parar e olhar cada uma como se o fizéssemos através de uma lupa, porque cada fotografia tem uma mensagem muito clara, de um homem corajoso que teve a coragem de desafiar o regime. Ele podia ter seguido uma carreira militar, que não contrariasse a família, bem pelo contrário, e disse que não, por aí não vou. Com os custos que isso acarretou, de incerteza perante a vida, mas ele tinha a certeza que por ali ele não queria ir”.

No final da sessão de apresentação do livro na Casa de Portugal André de Gouveia, os presentes puderam degustar de uma seleção de Vinhos Verdes, promovida pelos Vinhos Norte.

LusoJornal