Livros: “La Tamanoir” de David A. Lombard, uma sátira brasileira

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“La Tamanoir” (o papa-formigas) é o primeiro romance do francês David A. Lombard (1975), tendo sido publicado este verão pela editora Le Poisson Volant. Uma obra de 500 páginas que propõe ao leitor uma sátira arrojada às atuais circunstâncias políticas brasileiras.

Na verdade, é impossível olhar para o país fictício de 250 milhões de habitantes – a Federação Democrática da Amazónia – onde decorre a ação principal, para o seu presidente populista de extrema-direita – Alessandro Contente – ou para o desastre ecológico que destrói as florestas tropicais dessa nação, sem pensar, respetivamente, no Brasil, em Bolsonaro e na Amazónia que, desde que o atual Presidente foi eleito, se reduz a uma alarmante velocidade, arrastando consigo um ataque constante ao modo de vida das populações ameríndias: afinal, diz-se no romance, “os brancos destroem a Amazónia porque não sabem sonhar”.

Esta crítica ao atual locatário do Palácio do Planalto (“Palácio Orgânico” em “La Tamanoir”) reflete, sem especial subtileza, a opinião do autor sobre Jair Bolsonaro, personagem que David A. Lombard, na sua página de internet, caracteriza como “caricatura de um populista, nostálgico da ditadura de 1964-1985, ultrajante, inculto, divisor, conspiratório, homofóbico, misógino, ecocida e racista (…) um arquétipo de dirigente tóxico”.

Prefaciado pelo escritor Jean-Paul Delfino (autor de “Corcovado”, “Pour tout l’or du Brésil” ou “Samba triste”), “La Tamanoir” descreve um líder sem escrúpulos – que sofre de uma fobia a insetos, sendo por essa razão que se faz acompanhar sempre de um papa-formigas albino, o seu melhor amigo e amuleto, animal que, numa perfeita simbiose, o ajuda o desembaraçar-se dos bichos que o assustam – que faz desfilar no seu gabinete de trabalho as amantes enquanto as florestas do país ardem e as barragens rebentam. Porém, não será uma qualquer catástrofe que irá abalar a solidez do seu governo. Alessandro Contente, egocêntrico aos limites, julga-se até mais importante do que o próprio fim do mundo.

Um romance pícaro, burlesco, que, graças a um final surpreendente, não deixará nenhum leitor indiferente.

 

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LusoJornal