LusoJornal | Carlos PereiraLouisa da Costa Gravelos mostra fotografias dos incêndios na Casa de Portugal em ParisCarlos Pereira·Comunidade·13 Setembro, 2025 Louisa da Costa Gravelos é lusodescendente, nasceu em França, mas esteve envolvida este verão num dos maiores incêndios do país. O incêndio da Serra do Alvão chegou à aldeia onde costuma passar as férias com os pais, no concelho de Mondim de Basto, tirou fotografias e apresenta-as agora no hall de entrada da Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade Universitária Internacional de Paris. Os pais de Louisa da Costa Gravelos chegaram à região de Paris em 1999. Vieram da aldeia de Pardelhas, no distrito de Vila Real. “Vieram com a minha irmã mais velha. A ideia era de ficar aqui uns anos para ganhar dinheiro, para comprar uma casa. Depois eu nasci, tinham de compor a casa. Depois o meu irmão nasceu… e continuamos cá” explica ao LusoJornal. Mesmo se nasceu e cresceu na zona de Poissy (78), Louisa da Costa Gravelos costuma ir regularmente a Portugal. “Obviamente, vamos lá sempre no verão. Sempre fui a Portugal durante as férias, nunca fomos para mais lado nenhum” confessa. “Apesar de ter nascido aqui, eu sinto-me mais portuguesa do que francesa e é um grande orgulho meu ser portuguesa. É o lugar onde eu me sinto mais em paz”. . Presidente do Comité de Residentes da Casa de Portugal Louisa da Costa Gravelos estuda em Paris e mora na Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade universitária internacional de Paris. No ano passado, foi mesmo a Presidente do Comité de Residentes da Casa, a estrutura que “estabelece a comunicação entre a Administração e os residentes”. “Aqui na Casa de Portugal temos 170 residentes, estudantes universitários, atletas de alta competição, investigadores e também artistas. Cada uma das Casas da Cidade Universitária tem um Comité de residentes que é muito importante para o desenvolvimento de atividades culturais e também para acolher e desenvolver projetos que promovam os valores da Cidade Universitária” explicou ao LusoJornal o Diretor da Casa de Portugal, João Costa Ferreira. “A Cidade universitária foi fundada em 1925, há 100 anos, e foi construída sobre um princípio de paz e de tolerância, logo após a I Guerra Mundial. O fundador, André Honnorat, acreditava que era necessário que os jovens intelectuais de todo o mundo, se encontrassem e se conhecessem para terem a noção de que, apesar das diferenças nas origens, não são assim tão diferentes uns dos outros como eles imaginam”. O Comité de residentes organiza durante o ano, vários eventos, precisamente para que os estudantes se encontrem. “É preciso salientar que a Casa de Portugal, embora se chame Casa de Portugal, não acolhe apenas pessoas de nacionalidade portuguesa. Temos atualmente cerca de 40 nacionalidades diferentes” destaca João Costa Ferreira. Louisa da Costa Gravelos confirma que “tentamos fazer conviver os residentes, uns com os outros, porque há muitas pessoas que não se iriam conhecer, porque vêm de países diferentes, não têm os mesmos amigos, não estão na mesma faculdade, moram em andares diferentes e praticamente não se cruzam”. . Estudante em literatura americana Louisa da Costa Gravelos está a tirar um mestrado de investigação em Literatura Americana, sobre a figura lendária da música e da literatura americana Patti Smith. “Eu sempre gostei de literatura, de arte e cultura e tinha boas notas em inglês. Então, encontrei este caminho que era de estudar a literatura, em inglês e gosto muito”. Começou agora o último ano de mestrado e começa a prever o doutoramento que gostava de fazer no próximo ano, quem sabe para acabar como professora universitária, ou trabalhar em embaixadas, em eventos culturais ou no universo do livro. Também gostava muito de se mudar para Portugal “porque aqui não há muito sol”, diz a sorrir. “Gostava de fazer o meu doutoramento lá”, mas ainda não encontrou o que procurava. . O incêndio da Serra do Alvão Durante as férias deste verão, Louisa da Costa Gravelos foi confrontada com o grande incêndio da Serra do Alvão, que quase chegou à aldeia de Pardelhas. “A última vez que houve um incêndio na aldeia foi em 2012, mas nós já tínhamos regressado de férias” explica ao LusoJornal. Desta vez, estava lá, com o fogo bem perto de casa. “Foi muito impressionante e tivemos muita sorte com os bombeiros e com a união da população”. “Eu e os meus amigos, o meu pai e outras pessoas, fomos enfrentar o fogo e tentámos ajudar os bombeiros, porque nós conhecemos o terreno. Foi mesmo tentar fazer o melhor que podíamos numa situação terrível. Durou bastante tempo, foi uma semana especial, em situação de alerta”. Defender a aldeia era fundamental para um grupo de jovens que, embora residentes no estrangeiro, estão unidos por aquelas poucas casas onde residem cerca de 45 pessoas durante o ano. “Nós não imaginamos o poder da adrenalina quando estamos nesses momentos. E foi muito impressionante” refere. “Juntámo-nos todos para ir combater o fogo. Porque todos nós temos um amor enorme pela nossa aldeia, pelos nossos pais e avós que estão lá, mas também para preservar a história que essa aldeia tem” explica Louisa da Costa Gravelos. “Fiquei impressionada pela força que tem uma população unida para salvar o que tem”. . Exposição de fotografias em Paris Durante o incêndio, Louisa da Costa Gravelos ia partilhando fotografias com os amigos. Um amigo viu-as e sugeriu que as mostrasse na Casa de Portugal para partilhar com outras pessoas. João da Costa Ferreira aceitou e atualmente, no hall de entrada da Casa de Portugal, lá estão, coladas na parede, as fotografias do incêndio de Pardelhas. “Aquilo que acontece perto de nós, parece sempre ser o centro do mundo. Os incêndios, que acontecem a cada verão em Portugal, é algo que nos toca profundamente. Mas alguém que viva, por exemplo, em países da África subsariana, como temos alguns aqui na Casa, eles não estarão forçosamente a par daquilo que tem acontecido” diz o Diretor da Casa de Portugal. Mais do que o aspeto artístico, as fotografias são então pretexto de conversa, de encontro, de debate até, entre os residentes. “Agora, aqui, na Casa de Portugal, ouvimos falar dos incêndios. Cada verão temos incêndios, que seja em Portugal, na Espanha, em França… Vimos isso na televisão. Mas o horror de um incêndio não se sente com a televisão ou com estas fotografias. Não se sente o calor, o barulho…” lembra Louise da Costa Gravelos que tenta, com palavras, trazer mais emoção às imagens que apresenta.