LusoJornal / Mário Cantarinha

Manuel Dias deu contributo para um futuro Museu de História e da Memória das Migrações portuguesas

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O Comité nacional francês de homenagem a Aristides de Sousa Mendes escreveu à Secretária de Estado Berta Nunes para lhe apresentar um contributo para o “Museu da história e da memória da emigração portuguesa”, baseada na experiência francesa.

O documento é assinado por Manuel Dias Vaz, sociólogo, antigo professor universitário, membro fundador do Museu da História da Imigração em França e membro do Conselho de Administração e Conselho de Orientação desta instituição da Porte Dorée, em Paris, entre várias outras funções.

Manuel Dias lembra as diligências francesas dos anos 1970 das quais emergiram “um certo número de trabalhos de investigação conduzidos por universitários, historiadores, geógrafos, sociólogos, politólogos”, em Paris e em várias outras cidades francesas e lembra as contribuições, entre outros, da historiadora Marie-Christine Volovitch-Tavares, de Luc Gruson, primeiro Diretor do Museu em Paris e grande amigo de Portugal onde tem casa, e do historiador lusodescendente Victor Pereira.

“Um museu da história e da memória da imigração e das mobilidades enquanto instituição pública, é um ato de reconhecimento destas contribuições: ‘as suas histórias são a nossa história’” lembra Manuel Dias, num processo que implicou várias associações, algumas delas portuguesas, como por exemplo o próprio Comité francês Aristides Sousa Mendes em Bordeaux, o CEDEP, a Coordenação das coletividades portuguesas de França (CCPF) e mais recentemente a associação Memória Viva.

O documento refere um certo número de eventos, exposições, conferências, artigos,… num conjunto de ações, organizados por várias instituições, que durou alguns anos e que deram depois conteúdo à criação do Museu da história da imigração em França.

Mas esta também foi uma “decisão política” e Manuel Dias lembrou que em novembro de 2001, o Primeiro Ministro Lionel Jospin confiou a duas personalidades, Remi Schevartz e a Driss el Azami, uma missão de estudo para a criação de um centro nacional de recursos sobre a memória da imigração. “O relatório foi entregue um pouco antes das eleições presidenciais, tendo, porém, ficado nas gavetas”.

Em março de 2003, depois da reeleição de Jacques Chirac à Presidência da República francesa, o novo Primeiro-Ministro, Jean-Pierre Raffarin, no quadro de um plano de lançamento da política de integração das populações imigradas, decide num Comité Interministerial, confiar a Jacques Toubon, antigo Ministro da Cultura, antigo Ministro da Justiça e membro do Conselho de Estado, uma missão de prefiguração do Centro de fontes e da memória da imigração em França.

Em junho de 2004, Jacques Toubon entregou o relatório ao Presidente da República e ao Primeiro-Ministro, e em 8 de julho desse mesmo ano, o Primeiro-Ministro e o Ministro da Cultura, Dedieu de Vabre, lançaram oficialmente e validaram o projeto de criação da “Cité Nationale de l’Histoire de l’Immigration” (CNHI) e a sua instalação num palácio da República, o Palácio da Porte Dorée em Paris. A abertura oficial teve lugar no dia 10 de outubro de 2007. “O projeto do Museu da Imigração viu o dia depois de mais de 30 anos de combates e de reivindicações. Foi a concretização de um longo percurso apesar de um contexto político difícil dado que a CNHI não foi oficialmente inaugurada pelo novo Presidente da República Nicolas Sarkosy” explica Manuel Dias.

Manuel Dias sabe do que fala porque acompanhou todo o processo da criação do Museu em França e acompanhou também, naturalmente, ao longo de mais de 40 anos, as iniciativas, discussões e também as hesitações para a criação, em Portugal, de um Museu da memória da emigração.

“Em Portugal, como em outros países, estas questões foram muitas vezes conduzidas pelas Associações, pelas Universidades, pelas coletividades territoriais e municipais, bem como por indivíduos oriundos da imigração do Brasil, dos USA, do Canadá, de França…” lembra Manuel Dias no documento, ao mesmo tempo que lembrou o trabalho de “uma pioneira nesta matéria desde o início do processo”: Maria Beatriz Rocha Trindade, da Universidade Aberta.

“Na minha opinião, a primeira vez que esta questão da memória da imigração foi levantada publicamente junto das autoridades públicas, foi em 1981, em Lisboa, por ocasião da primeira reunião mundial do Conselho das Comunidades Portuguesas. Esta questão, sem resposta, foi apresentada pelas delegações do Brasil, dos USA e da França junto dos Ministérios respetivos em 1981” escreve Manuel Dias. “Em 1984, a Dra Manuela Aguiar, à época, Secretária de Estado da Emigração e das Comunidades portuguesas, aquando de uma viagem à Suécia, visitou o Museu sueco dedicado à imigração. De regresso a Portugal, confiou a dois membros do seu Gabinete, a redação de uma circular de informação, a redação de um projeto embrionário para um futuro Museu da emigração em Portugal e a constituição de um documentário. Esta iniciativa ministerial não teve sucesso por falta de meios e de vontade política”.

No extenso documento enviado à Secretária de Estado Berta Nunes, Manuel Dias Vaz lembra o Museu da Emigração de Fafe, conduzido pelo historiador Miguel Monteiro e por Maria Beatriz Rocha Trindade. Lembra também muitas outras ações levadas a cabo em Melgaço, Viana do Castelo, Vilar Formoso, Fundão, Sabugal até à apresentação do projeto de criação de um Museu da Língua Portuguesa e das Migrações na antiga conservaria Vasco da Gama, em Matosinhos.

“Em 2020-2021, a Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Dra Berta Nunes, considerou o projeto de um Museu de História e da Memória das Migrações, como uma das prioridades do seu Ministério. Neste sentido, foi lançado um programa de inventário dos projetos, arquivos e atores nos principais países do mundo onde vivem as Comunidades portuguesas. Este primeiro inventário foi estabelecido em fins de 2020, pelos serviços do Ministério” escreve Manuel Dias, que acrescenta que Berta Nunes “decidiu criar um grupo de trabalho composto de peritos, de universitários e de personalidades qualificadas de modo a fazer avançar o projeto”. A pilotagem deste grupo de trabalho e desta missão foi confiada ao Embaixador Luís Filipe Castro Mendes.

Com este documento, Manuel Dias Vaz inventariou uma série de eventos e de acervos históricos em França, listou pessoas e instituições franco-portuguesas que poderiam estar implicadas na criação de um futuro Museu português da Emigração.

 

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