LusoJornal / Jorge Campos

Manuel Dias: “Sentir-se emigrante… ontem, hoje e sempre!”

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Nas décadas de cinquenta e de sessenta, Portugal vivia em pleno Estado Novo onde se faziam sentir muitas incertezas e carências. Faltava um pouco de tudo. As mais sensíveis eram as populações que viviam da agricultura, nas vilas e nas aldeias.

Em 1955, nasceu Manuel, numa aldeia perto de Óbidos, e logo na sua tenra idade teve conhecimento da partida do pai, em 1959, para terras de França, procurando meios de subsistência e um futuro melhor para a família.

Em 1962, tinha Manuel sete anos, e acompanhado pela mãe, também ele rumou para França ao encontro do pai, que residia então na região de Paris. Começou a sua escolaridade em França, dos 7 aos 12 anos, onde aprendeu a falar e a escrever francês. “A família cresceu, outro rapaz se juntou ao agregado familiar, nasceu o meu irmão”, conta.

Por razões familiares, com 12 anos voltou a Portugal, onde viveu até aos 15 anos, na companhia da avó. Frequentou a escola portuguesa e conseguiu obter o certificado escolar da quarta classe. No ano seguinte, com 16 anos, está de volta a França e reintegra o núcleo familiar em Faubourg St. Honoré, onde residiam os pais e o irmão.

“Retomei os meus estudos em francês e obtive um CAP de mecânica geral. Mas não era esta a minha vocação, e como tinha que arranjar um emprego para obter a ‘Carte de Séjour et de Travail’, encontrei um trabalho na rede de sapatarias Manfield, onde comecei a trabalhar na loja da Bastille e depois na de Victor Hugo. Mais tarde fui nomeado Diretor responsável dessas lojas. O meu percurso nestas lojas durou 25 anos”. O tempo passa e Manuel foi nomeado pelo mesmo grupo para Lille, onde residiu e trabalhou perto de 11 anos. Entretanto conheceu a esposa Elvira, e desta união nasceram dois filhos, o Cristóvão e o Max.

“Nascemos na mesma aldeia e conhecemo-nos em tempo de férias, em Portugal. Ela vivia em Toulouse. Fui lá visitá-la várias vezes durante o namoro e até à nossa união que aconteceu em 1978”.

“A minha paixão desportiva foi sempre a do futebol, que pratiquei até hoje. Em Portugal cheguei a jogar no Caldas, e em França joguei nos juniores do PSG”.

Os anos passaram com uma vida profissional e familiar bem preenchida. Depois de Lille, o novo destino foi Lyon, onde dirigiu, durante 11 anos, a loja Manfield na Part-Dieu, e onde se aposentou.

“Eu sempre vivi no meio social francês, tinha poucos amigos portugueses, só agora com 66 anos e já reformado, é que, a pedido de alguns conhecimentos, me prontifiquei a tomar a Presidência de uma associação portuguesa onde o futebol é a maior atividade aqui na região de Lyon”.

“Estou muito contente com o meu percurso de vida. Filho de emigrantes e emigrante eu mesmo, sempre gostei da nossa cultura e do nosso cantinho que é Portugal. Os nossos valores humanos e também a nossa cultura social, fazem com que hoje a minha família siga os meus passos, e mantenha laços fortes com Portugal, que visitamos todos os anos, uma ou duas vezes por ano, mesmo se a cultura de vida a que estamos habituados tenha algumas diferenças”.

Manuel não perdeu o sonho de voltar para Portugal, “para ai finalizar o meu percurso de vida. Estou já a preparar, em acordo com a minha esposa, esta possibilidade de voltarmos à terra que nos viu nascer, e onde hoje tenho muitos amigos”.

Manuel Dias teve um percurso de vida idêntico ao de centenas de portugueses que, nessas décadas do após-II Guerra mundial, vieram reconstruir a França, graças à mão de obra vinda então do sul da Europa.

Todos ganharam: o país de acolhimento e os trabalhadores que puderam assim viver os seus sonhos de uma vida material mais confortável.

 

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