Marcial Simões de Freitas e Costa: o jogador do Benfica que participou na I Guerra Mundial

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A Lionel Delalleau, amador, amante, pesquisador sobre tudo o que está relacionado com a participação portuguesa durante a I Guerra mundial, foi oferecida um cartão postal por um amigo que a comprou através da internet.

O cartão postal representa a torre do Beffroi de Aire-sur-La-Lys antes da destruição do 9 de maio de 1914, e está datado de Roquetoire, 9 de janeiro de 1919.

Nele pode ler-se: «Minha querida […], tenho duas cartas suas a responder, o que farei logo. Igualmente uma da […] que muito agradeço. Continuo bem. Cumprimentos respeitosos a todos. Mil beijos do seu irmão…». O cartão postal foi endereçado a Mademoiselle Maria Augusta S. de Freitas e Costa, 3-2 rua João Crisóstomo, Lisboa.

O LusoJornal partiu destes dados para uma pesquisa e para uma reconstituição da história do irmão de Maria Augusta, Marcial Simões de Freitas e Costa, nascido a 29 de julho de 1891, em Lisboa.

Ao examinarmos a escritura, chegámos à conclusão que estamos perante alguém com uma certa cultura.

Marcial Simões de Freitas e Costa era um dos dois filhos do médico Luís Teodoro de Freitas e Costa da Praia e de Maria da Glória Simões de Freitas e Costa de Carvalho. O avô paterno foi farmacêutico.

Durante a sua adolescência, Marciel Simões frequentou em Lisboa o Liceu Passos Manuel.

O Sport Lisboa Benfica existia há bem pouco tempo – porque a sua fundação data de 1904 – quando Marcial Simões de Freitas e Costa se inscreveu no clube lisboeta. Estávamos longe do profissionalismo.

Na juventude, Marcial Simões jogou futebol na equipa da escola e no Sport Lisboa e Benfica. É conhecida uma foto dele como jogador do SLB datada da época 1906-1907.

A 18 de fevereiro de 1905, foram compradas as primeiras camisolas do SLB. Nos arquivos do Benfica encontra-se registo do jogo entre Ingleses e o SLB, datado de 28 de janeiro de 1906, com o dito equipamento. O encontro foi disputado no Alto de Santo Amaro, em Lisboa e Marcial Simões ocuparia no terreno o posto de extremo direito. O Benfica festejou uma vitória por 2-1 contra os ingleses… os inventores do futebol!

Embora fiel ao seu clube de coração, Marcial Simões de Freitas e Costa escolheu consagrar a sua juventude à formação académica, preparando-se para a vida profissional.

Concluiu a sua formação militar e de engenharia na Escola de Guerra de Lisboa, integrando de seguida o Regimento de Sapadores Mineiros nº1, com sede em Lisboa (hoje Regimento de Engenharia nº1, com sede em Tancos).

Marcial Simões embarcou em Lisboa a 20 de maio de 1917 com o grau de Alferes, com destino a Brest, chamado que foi a participar pelo Corpo Expedicionário Português (CEP) à I Guerra mundial.

Regressará a Lisboa quase um ano depois da assinatura da paz, por via terrestre, a 4 de agosto de 1919. Foi louvado pela maneira como comandou a Secção automóvel de tiro de abril a dezembro de 1918, tendo sido promovido a Tenente poucos dias antes da Batalha da La Lys, a 28 de março de 1918.

Depois desta batalha, parte do CEP integrou o Exército britânico, como foi o caso da Secção que Marcial Simões comandou. Podemos ler na ficha do CEP: “…tendo conseguido, pelo seu esforço, que a sua unidade colaborasse eficazmente e com o máximo rendimento, no serviço de comunicações daquele exército no que revelou notáveis qualidades de competência e dedicação pelo serviço”.

Em 30 de julho de 1928 foi condecorado com a Ordem dos Cavaleiros de Avis, com o grau de Oficial, e foi pela mesma altura promovido a Capitão.

Vai exercer o resto da sua vida enquanto engenheiro e arquiteto, deixando o seu nome ligado à antiga colónia portuguesa de Moçambique. Quatro anos depois da Guerra, apresentou um projeto que seria executado bem mais tarde, para a Catedral de Lourenço Marques. Projeto de linhas modernas, simples e em cimento armado.

Nos anos 1930 dirigiu os caminhos-de-ferro de Lourenço Marques (hoje Maputo) e em 1943 é nomeado engenheiro-chefe da Sociedade dos Portos, Ferrovias e Transportes de Moçambique.

A primeira pedra da futura Sé Catedral é lançada e abençoada com pompa no dia 28 de junho de 1936, desejando-se que as obras permitissem uma inauguração em 1940, data comemorativa da Restauração da Independência de 1640 depois de 60 anos de dominação pelos reis Filipe de Espanha.

Mas as obras atrasaram-se porque entretanto chegou a II Guerra mundial e tudo se complicou: menos dinheiro disponível para obras, muita coisa estando ainda para construir, para além dos vitrais fabricados na Alemanha terem sido bloqueados num porto holandês aquando da invasão deste país pelos Alemães.

A igreja acabou por ser inaugurada no dia 14 de agosto de 1944, ainda decorria a Guerra, mas já se prenunciava a derrota de Hitler.

As cerimónias foram presididas pelo Cardeal Cerejeira, que viajou de barco até Lourenço Marques. Foi a primeira vez que um Cardeal português se deslocou a uma colónia.

Por se ter divorciado uns tempos antes, Marcial Simões de Freitas e Costa foi considerado “persona non grata” na cerimónia inaugural e por isso terá aproveitado uma viagem aos EUA pouco antes, para ver se arranjava ferro para os CFM, e tirou uma licença graciosa em Portugal, pelo que nesse dia não estava em Lourenço Marques.

O engenheiro Marcial Simões de Freitas e Costa, segundo foi escrito, não terá recebido “um tuste” pelo trabalho executado para a Catedral de Lourenço Marques.

Marcial Freitas e Costa faleceu precisamente quatro meses depois da inauguração da Catedral, a 14 de dezembro de 1944, em Lourenço Marques. O seu corpo foi posteriormente transladado para um cemitério em Portugal.

 

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