Marine Le Pen já não vai ser oradora da Web Summit em Lisboa

Afinal Marine Le Pen já não vai participar no Web Summit, em Lisboa. O Presidente executivo da Web Summit, Paddy Cosgrave, anunciou hoje no Twitter que decidiu retirar o convite à líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, depois das críticas de vários setores.

“É agora claro para mim que a decisão correta para a Web#Summit é retirar o convite a Marine Le Pen”, escreveu Cosgrave na sua conta na rede social Twitter.

Primeiro, numa longa mensagem publicada no site Medium, Paddy Cosgrave explicou que é defensor da liberdade de expressão, para justificar a razão do convite à política de extrema-direita francesa, mas também se mostrava disponível para aceitar as críticas e até retirar o convite, compreendendo as diferenças históricas entre o seu país, a Irlanda, e Portugal. “Se os nossos anfitriões em Portugal, o Governo português, nos pedirem para cancelar o convite a Marine Le Pen, iremos, evidentemente, respeitar esse pedido e fazê-lo imediatamente”, afirma o cofundador da Web Summit, que este ano se vai realizar pela terceira vez em Portugal, no mês de novembro.

Para Cosgrave, os pontos de vista de Marine Le Pen “são errados”, mas o facto de que “mais de 30% dos eleitores franceses a escolheram na mais recente eleição presidencial da França não legitima”, afirma, “as suas opiniões”. Acrescenta que também a ascensão ao poder de políticos igualmente de direita em Itália, na Áustria, na Hungria e em outros lugares “não legitima os seus pontos de vista repreensíveis”.

O criador do evento de tecnologias e empreendedorismo, que se vai realizar pela terceira vez em Lisboa, tenta explicar com profundidade as razões do convite a Marine Le Pen e, ao mesmo tempo, deixa uma margem ampla para esse mesmo convite ser retirado. “Enquanto eu era estudante em Trinity, se alguma vez a universidade pedisse a um estudante que admitisse cancelar um convite a um terrorista, anarquista ou fascista para falar num evento, tenho certeza de que teríamos feito isso imediatamente. Teríamos protestado, por uma questão de princípio, mas teríamos respeitado os pedidos da nossa anfitriã, a universidade”, declarou.

Paddy defendia que a sua posição quanto aos limites do debate e discussão e sobre os méritos da proibição e silenciamento de dissidentes e militantes “são, em grande parte, moldados pela história única da Irlanda. E a Irlanda até há pouco tempo estava a lidar com um conflito terrorista incrivelmente violento e desumano”.

Já a história recente de Portugal “é um pouco diferente”, diz Cosgrave afirmando-se consciente e “sensível a esse fato”. “Em última análise, o interesse dos nossos anfitriões, Portugal, e o interesse do povo de Portugal, deve ser colocado muito acima dos da Web Summit”, clarifica.

 

Pressão para “desconvidar” foi grande

O Bloco de Esquerda (BE) tinha exigido que o Governo e a Câmara de Lisboa tomassem uma posição sobre o convite da Web Summit à líder da extrema-direita francesa, considerando inaceitável serem utilizados dinheiros públicos para passar mensagens de xenofobia e racismo. “Neste momento, tem de haver uma tomada de posição e tem de ficar esclarecido qual é que é a posição do Governo e da Câmara de Lisboa sobre este convite”, disse a bloquista Isabel Pires.

Na segunda-feira, a associação SOS Racismo exigiu que as entidades envolvidas na organização da Web Summit assumam uma posição pública sobre o convite feito à líder do partido francês Frente Nacional, Marine Le Pen, e que esta seja desconvidada. Em comunicado, a SOS Racismo sublinhou que “o racismo não é uma opinião” e que, por isso, condena que a líder da extrema-direita francesa tenha sido convidada para estar presente como oradora na Web Summit.

No site do evento, o nome de Marine Le Pen estava entre os oradores convidados da edição deste ano, surgindo um pequeno texto identificando o cargo, formação e os últimos resultados eleitorais da líder do partido francês.

 

Governo diz que não teve intervenção

Por seu lado, o Governo português esclareceu que não tem intervenção na “seleção de oradores” do Web Summit. “O Governo português, estando, pelo seu impacto, empenhado no acolhimento deste evento privado, não tem, como em outros eventos, intervenção na seleção de oradores”, informou o Ministério da Economia em comunicado.

Na mesma nota, o ministério dirigido por Manuel Caldeira Cabral refere que a Web Summit é um evento tecnológico e de inovação, com milhares de oradores, que atrai anualmente a Portugal dezenas de milhares de empreendedores e investidores. “Trata-se de um fórum alargado de discussão de tendências de mercado, cujo alinhamento – oradores e programa – é da exclusiva responsabilidade da organização”, justifica aquele Ministério.

 

 

LusoJornal