LusoJornal / Mário Cantarinha Home Cultura Morreu Cruzeiro Seixas: Isabel Meyrelles é a última representante dos surrealistas portuguesesLusojornal·10 Novembro, 2020Cultura [pro_ad_display_adzone id=”46664″] A escultora e poetisa surrealista Isabel Meyrelles lamentou a morte do artista plástico Cruzeiro Seixas, no domingo, aos 99 anos, em Lisboa, recordando que “ninguém desenhava à pena tão bem como ele”. “Nunca encontrei ninguém com a habilidade dele para desenhar com uma pena. Os outros desenhos dele também são bastantes bons, mas mais normais. Esses à pena são uma maravilha”, comentou a criadora, em declarações à Lusa, a partir de Paris, para onde partiu em 1950, região onde continua a residir. Cruzeiro Seixas morreu no Hospital Santa Maria, no domingo, anunciou a Fundação Cupertino de Miranda, de Vila Nova de Famalicão. A esta fundação doou o artista a coleção pessoal em 1999, um legado de um dos nomes fundamentais do Surrealismo em Portugal, autor de um vasto trabalho no campo do desenho e pintura, mas também na poesia, escultura e objetos/escultura. Nascida em Matosinhos, em 1929, Isabel Meyrelles viveu em Lisboa e, antes de partir para Paris, fugindo à ditadura do Estado Novo, fez amizade com os elementos do Grupo Surrealista Português e com os seus dissidentes, reunidos no Grupo Surrealista de Lisboa/Os Surrealistas, que incluíam Mário Cesariny, António Pedro, Cruzeiro Seixas e Alexandre O’Neill. “Na verdade, sou eu a última representante dos surrealistas portugueses, mas, na altura, não fiz parte do grupo deles. Os portugueses sempre tiveram essa tendência de pôr de lado as mulheres”, comentou à Lusa a autora de “Palavras Noturnas” e “O Rosto Deserto”, entre outras obras. Recordou que manteve o contacto com Cruzeiro Seixas e Mário Cesariny ao longo dos anos, e a última vez que estiveram juntos foi em novembro do ano passado, quando a Fundação Cupertino de Miranda homenageou a artista com a exposição “Como a sombra a vida foge”, reunindo cerca de 80 obras. “Ele foi lá, a Vila Nova de Famalicão, já estava com 99 anos e fragilizado, mas fez um esforço para estar presente. Fiquei muito comovida”, disse a artista à Lusa. Escultora, poetisa e tradutora, Isabel Meyrelles continua a fazer traduções em casa, de onde não sai, devido à pandemia. “Continuo a fazer traduções de português para francês”, disse a tradutora de escritores como Jorge Amado. “Mas em França já se publica muito pouca poesia. Quase ninguém lê poesia. As edições têm tiragens de apenas uma centena de exemplares”, lamentou a autora portuguesa. O surrealismo está presente nas várias fases da obra plástica da artista, que se inspirou em peças de outros criadores do mesmo movimento, especialmente de Cruzeiro Seixas, e também de artistas como René Magritte e André Breton, por quem tinha grande admiração. Isabel Meyrelles é a organizadora da “Obra Poética”, de Cruzeiro Seixas, que começou a ser publicada este ano, em junho, pela Porto Editora, no âmbito da coleção “Elogio da Sombra”, coordenada por Valter Hugo Mãe. Os três primeiros volumes da obra poética de Cruzeiro Seixas reúnem poemas já publicados, nomeadamente pelas Edições Quási, mas que se encontravam esgotados no mercado, e o quarto, que encerrará o projeto, vai coligir inéditos e dispersos. O primeiro volume foi publicado em junho, o segundo deve chegar às livrarias no final do ano e, o terceiro, “nos inícios de 2021”, segundo fonte editorial. Em outubro deste ano, Cruzeiro Seixas tinha sido distinguido com a Medalha de Mérito Cultural, pelo “contributo incontestável para a cultura portuguesa”, ombreando, com Mário Cesariny, Carlos Calvet e António Maria Lisboa, como um dos nomes mais relevantes e importantes do Surrealismo em Portugal, desde finais dos anos 1940. Cruzeiro Seixas, cuja obra está representada em coleções como as do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Cupertino de Miranda, faria 100 anos a 03 de dezembro. Atualmente, estão em curso várias iniciativas que assinalariam os 100 anos de aniversário do artista plástico, nomeadamente exposições na Biblioteca Nacional de Portugal e da Perve Galeria, em Lisboa, ambas patentes até dezembro, e a edição da obra poética de Cruzeiro Seixas, iniciada em junho e que se estenderá até 2021. [pro_ad_display_adzone id=”37509″]