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O artista português Add Fuel fez mural e vai expor em Paris

A Galerie Itinerrance recebe a partir desta sexta-feira 12 de abril a exposição “Deuxième Désintégration” do artista português Add Fuel.

No entanto Add Fuel, cujo nome é Diogo Machado, já invadiu as ruas de Paris. A última obra realizada em colaboração com a Galerie encontra-se no boulevard Vincent Auriol, no 13° bairro de Paris. Uma obra de 22 metros de altura e que se encontra perto do metro Nationale, na linha 6.

Foi junto a essa obra, e antes da abertura da exposição na Galerie Itinerrance que o LusoJornal teve a oportunidade de falar com Add Fuel.

Uma obra que teve as suas complicações. “Quando se realiza uma obra destas, há muitos parâmetros a ter em conta. Havia quatro painéis diferentes a pintar em diferentes posições. Mas com o material que foi posto à nossa disposição, conseguimos trabalhar eu e os meus assistentes que me seguem”, sublinhou o artista ao abordar a temática. “Tem tudo a ver com a minha exposição, com o que vou apresentar na Galerie Itinerrance. É a continuidade do meu trabalho. Sempre com este aspeto de haver várias leituras da obra. Se olharmos à primeira vista, temos a sensação de ver azulejos, e isso traz, sobretudo para os Portugueses, um sentimento de saudade, de lembranças, de recordações do país. Depois de um outro ponto de vista, podemos ver algo ligado à Pop Art ou até aos Comics, é uma outra leitura que vai agradar a outras pessoas. E por fim, acho que cada um pode ter a sua própria interpretação, ler à sua maneira, sentir à sua maneira. É isso também uma obra”, assegurou o artista português.

A partir do dia 12 de abril, na Galerie Itinerrance, o público vai poder descobrir o trabalho de Add Fuel, que não quer desvendar para já o conteúdo da exposição. “As pessoas vão ter uma experiência única. Acho que é preciso ver esta exposição, não se explica. Claro que vão ver o que o Add Fuel faz, as suas inspirações, a sua ligação com o Padrão português, com os azulejos, mas em vários suportes, em cerâmica, em painéis de madeira, em murais… e também em escultura”, admitiu o lisboeta, que convida todos os Portugueses a irem ver a sua exposição. “O meu trabalho vai agradar a todos – ou quase todos, porque não podemos agradar a toda a gente – mas para os Portugueses, que gostem de arte ou não, que gostem de fado, de futebol, de folclore, tudo o que pode fazer a cultura portuguesa, está presente. Os azulejos fazem parte do património português, vão viver uma imersão num mundo português e vão sentir Portugal aqui em Paris, com as suas experiências próprias, porque cada um tem um passado com a cultura portuguesa”, insistiu o artista.

Mas afinal quem é Add Fuel? “Vasta pergunta ou resposta (risos). Nasci em Lisboa, cresci na região lisboeta, fiz os meus estudos e formei-me em designer gráfico. Depois fui para a Alemanha mas fiquei pouco tempo. Em finais de 2007 decidi dedicar-me à Street art. É o que queria fazer, e foi o que fiz. Acho que na vida, quando se quer algo, trabalha-se para tê-lo” disse ao LusoJornal. “Claro que tive essa pontinha de sorte, porque a minha arte começou a ser reconhecida, mas a visão das pessoas também mudou muito em relação à Street art. Hoje em dia vê-se por todo o lado obras incríveis”.

Add Fuel vai expor pela primeira vez, sozinho, em Paris. “Eu tive vários convites para expor em Paris, mas sempre recusei. No entanto quando foi a Galerie Itinerrance, e Mehdi Ben Cheikh em particular, aceitei porque já tinha trabalhado com ele no projeto Tour13, no 13° bairro parisiense. Gostei de trabalhar com eles, eles gostaram do meu trabalho, estava tudo combinado. É uma honra estar na capital francesa, poder expor, poder mostrar o meu trabalho, e ver que o meu trabalho agrada. Paris é uma cidade de arte, sem falar deste bairro, o 13°, que é um museu, uma exposição a céu aberto, é incrível”, afirmou o artista que reconheceu preferir trabalhar com entidades públicas. “Eu gosto de projetos públicos em que as pessoas podem apreciar o meu trabalho. Que a minha arte possa tocar o máximo de pessoas possíveis. Mas admito que também faço trabalhos para particulares. Tenho pedidos e de vez em quando aceito. Faz parte do meu trabalho, criar para expor e outras vezes para privados, mas sempre com o mesmo profissionalismo. Só assim é que podemos ser reconhecidos pelo nosso trabalho, quando nos damos a 100%, quando tentamos dar sempre o nosso melhor”, insistiu o artista de 38 anos.

Add Fuel alerta para que não haja confusão entre Street art, arte de rua, e ‘graffitis’ ou ‘tags’. “Não é a mesma coisa, as pessoas que confundem não percebem de arte. Nem quero entrar nesse debate. O que é certo é que as mentalidades mudaram e que agora a cena Street art é vista com bons olhos. Mas cuidado não é uma arte para ficar eternamente. É uma arte efémera. Eu utilizo boas matérias e uma obra mural como aquela do boulevard Vincent Auriol pode ser conservada uns 10 anos, por exemplo, mas depois alguma coisa virá substituir” disse ao LusoJornal. “Por exemplo, uma das minhas obras favoritas, que tinha feito numa casa, foi destruída porque a casa foi comprada e o novo proprietário deitou tudo abaixo. Mas espero continuar a criar obras em todos os suportes e a mostrar que apesar de utilizar os Padrões e os azulejos, a minha arte é mais extensa”.

“Quando vou criar uma obra, inspiro-me sempre da cultura local. Tento fazer algo que traz a minha cultura, em que as pessoas sentem Portugal ou pelo menos a cultura mediterrânea, e que traz sentimentos locais aos espetadores daquela cidade ou país, que eles sentem que a obra também é dele e não apenas de um Português”, concluiu Diogo Machado.

 

«Deuxième Désintégration» de Add Fuel

De 12 de abril a 8 de junho

Galerie Itinerrance

24 bis boulevard du Général Jean Simon

75013 Paris

 

 

LusoJornal