Home Comunidade O crítico de arte Egídio Álvaro morreu em MontrougeLusojornal·6 Maio, 2020Comunidade O curador e crítico português de arte Egídio Álvaro, de 83 anos, ligado à ‘performance’ e à dinamização cultural desde os anos 1960, morreu em França, revelou à Lusa fonte da Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA). O crítico de arte, que morreu em Montrouge, na região de Paris, onde vivia, “foi um dos mais interventivos Comissários de eventos artísticos em Portugal nas décadas de 1970 e 1980”, sublinha a direção da SNBA, numa nota biográfica hoje divulgada, sem precisar a data da morte. Nascido em Coimbra, em 1937, Egídio Álvaro foi Diretor da Galeria Diagonale / Espace Critique, em Paris, de 1979 a 1990, era membro da Associação Internacional dos Críticos de Arte (AICA), desde 1972, fundou e dirigiu a Revista Artes & Letras (1973-1977) e comissariou a exposição “La Performance Portugaise”, no Centro Georges Pompidou, em Paris, em 1984. Pioneiro na afirmação e divulgação da ‘performance’ artística e do seu caráter multidisciplinar, Egídio Álvaro privilegiou sempre o cruzamento de diferentes formas de expressão, nas suas propostas expositivas, congregando artes visuais, música, dança ou poesia visual. “Não há mais fronteiras rígidas”, entre formas de expressão artística, defendeu. “Testemunhamos a dissolução de todas essas fronteiras convencionais. Há um enriquecimento mútuo dos diferentes campos da experiência discursiva e representativa”, escreveu na introdução ao catálogo de “La Performance Portugaise”. Egídio Álvaro iniciou a atividade em 1962, como colaborador do suplemento literário e artístico “Artes e Letras” do Diário de Notícias. Com o artista, galerista e comissário Jaime Isidoro (1924-2009), colaborou na programação da Galeria Alvarez e na Galeria Dois, no Porto, e coorganizou o Perspectiva 74 – de fevereiro a maio de 1974 – “evento charneira da década”, nas palavras do artista e ensaísta António Quadros Ferreira. “Foi um dos principais agentes de intervenção e curadoria numa perspetiva expansiva, e multimédia, com especial atenção às intermediações sonoras e poéticas, e sempre provocando o encontro de novos públicos e provocando as resistências”, salienta ainda a direção da SNBA, na mensagem hoje divulgada. Eventos de intervenção performativa nos espaços da cidade do Porto foram “o começo de uma série seminal a que se irão somar, sempre com Jaime Isidoro”, os quatro sucessivos “Encontros Internacionais de Arte”, o primeiro em Valadares, em 1974, o segundo em Viana do Castelo, em 1975, o terceiro na Póvoa de Varzim, em 1976, e o quarto nas Caldas da Rainha, em 1977, com um impacto crescente na cena artística do país. O quinto festival seguiria só pela mão de Jaime Isidoro, dando origem às Bienais de Vila Nova de Cerveira, a partir de 1978. Egídio Álvaro foi também um dos fundadores do Grupo Puzzle, em 1975, com os artistas Albuquerque Mendes, Armando Azevedo, Carlos Carreiro, Dario Alves, Fernando Pinto Coelho, Jaime Silva, João Dixo, Pedro Rocha e Graça Morais. Foi curador das exposições “Identidade Cultural e Massificação”, na SNBA (1977), “Figurações, Intervenções”, também na SNBA (1980), dando também origem aos grupos Diapositivos e Néon. Debruçou-se igualmente sobre a Poesia Experimental Portuguesa nos Festivais Arte Viva – Alternativa (1981/1982), propondo obras de Ana Hatherly, E. M. de Melo e Castro, António Barros, Silvestre Pestana, António Campos Rosado, Fernando Aguiar e Anima, e na Expo/AICA 85, na SNBA, com António Areal, António Barros e Silvestre Pestana, entre outros. Em Lisboa, no IADE, atual Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação, organizou e publicou monografias das sessões do “Ciclo de Arte Moderna”, apresentando Albuquerque Mendes, Darocha, Manuel Alves, GICAP/Grupo Cores, Miguel Yeco, Armando Azevedo, Manoel Barbosa e Elisabete Mileu. Em Paris, Egídio Álvaro fundou a plataforma de divulgação alternativa Galeria Diagonale / Espace Critique (1979-90), e organizou o Primeiro Festival International de Carte Postale d’Avant Garde, em 1981, com eventos em 12 cidades francesas. Comissariado por Egídio Álvaro, o Centro Pompidou apresentou, em 1984, “La Performance Portugaise”, mostra que deu origem ao catálogo homónimo, e consubstanciou uma visão abrangente congregando artistas como Fernando Aguiar, Manoel Barbosa, Gerardo Burmester, Carlos Gordilho, Albuquerque Mendes, Elisabete Mileu, António Olaio, Rui Orfão e Miguel Yeco, com atuações dos Telectu, de Jorge Lima Barreto e Vítor Rua, demonstrando a amplitude da investigação desenvolvida pelos ‘performers’ portugueses. Também em 1984, em Amesterdão, organizou, em colaboração com o coletivo MAKKOM, um novo festival dedicado à ‘performance’ portuguesa. Em 1986, apresentou um ciclo dedicado à Arte Portuguesa Contemporânea com obras de E. M. de Melo e Castro, António Barros, Silvestre Pestana, Fernando Aguiar e Elisabete Mileu, no 3º Festival Internacional de Poésie de Cogolin – IIIe Rencontres Internationales de Poésie Contemporaine, com direção de Julien Blaine. O seu nome fica ligado à ‘performance’ em Portugal, intervindo no eixo Paris-Porto e apresentando, nos anos 1970 e 1980, artistas que viriam a ser tão significativos como ORLAN, Eugenia Balcells, van Messac, Christian Babou, Serge III Oldenbourg, entre outros. Egídio Álvaro foi um dos principais divulgadores da arte portuguesa, dos seus protagonistas e das suas novas fronteiras, a nível internacional, nos eventos que comissariou ou para os quais contribuiu, como o “Salon de la Jeune Peinture”, no Palais du Luxembourg, e “Noveau Langages”, em Paris e Limoges, respetivamente, e “L’art Portugais”, em Brétigny, todos em 1978, “Espaces Libres”, no Museu de Arte Moderna de Paris (1980), “8 artistas portugueses”, St. Quentin-en-Yvelynes (1981), “La Perdita del Centro”, Ferrara (1982), “Noite Portuguesa”, na Usine Pali Kao (1982), ou “Perf. III”, Roterdão (1985). O seu nome está também associado ao I Simpósio Internacional de Performance, em Lyon (1979), à Semana da Arte Actual, em Strasbourg (1981), ao Espaço Nomade, em Besançon (1981), ao Festival Internacional de Performance, em Paris e em Nice, e às mostras temáticas “Art is Action”, de Kassel, em 1982, 1984 e 1986, entre muitos outros. “Multidisciplinar, a ‘performance’ não se reduz a um conteúdo específico. Combinando linguagens corporais, sociais, culturais, enraizadas na experiência ou inscritas num futuro potencial, tudo o que faz parte da ‘performance’ constitui um laboratório gigantesco onde tudo é tocado, misturado, onde tudo se funde ou é rejeitado”, escreveu em “L’art de la performance, une révolution du regard” (“A Arte da Performance, Uma Revolução do Olhar”, 1988). “Uma grande rutura está a surgir na história da arte. E a partir deste novo e frágil equilíbrio nascerá o espaço ‘Performance’”, afirmou. [pro_ad_display_adzone id=”37510″]