O Samba e a identidade brasileira

O Samba, que mergulha as suas raízes na escravatura africana, sempre teve um papel essencial na estruturação da sociedade brasileira, pois, ao mesmo tempo que baralhou as hierarquias étnico-económicas, conseguiu consolidar-se em elemento fulcral da identidade nacional brasileira.

Luciano da Consolação Pereira, em “Le rôle du Samba dans la constitution de la société brésilienne” (Éditions L’Harmattan), leva-nos numa viagem pela arte do Samba que atravessou três séculos de História brasileira, tempo durante o qual sofreu várias transformações musicais e rituais resultantes da miscigenação entre indígenas, negros e brancos.

Partindo dessa pré-história do Samba, que é a escravatura, o autor revela-nos a importância do Candomblé, religião que é simultaneamente o lugar onde se preserva a cultura negra e o motor de promoção de mestiçagem, que é, esta última, indubitavelmente a principal razão pela qual hoje existe o Samba. Especialista em etnomusicologia, Consolação Pereira demonstra que o Candomblé favoreceu a criação e o desenvolvimento de três estilos musicais essenciais na cultura brasileira e que, em última análise, são os fundamentos do Samba.

Primeiro, o Lundu (dança originária de Angola e logo proibida na Corte portuguesa por ser contrária aos bons costumes) deu ao Samba o sentido de movimento que hoje vemos nos grandes desfiles carnavalescos. Segundo, o Chorinho (que pode ser considerado o primeiro estilo de música urbana brasileira) deu-lhe a base rítmica e a estrutura do canto herdada do culto religioso. E, por fim, a Modinha (estilo musical de origem portuguesa nascida no século XVIII e antecedente da Música Popular Brasileira) forneceu ao Samba o toque europeu das suas letras.

O Samba portanto nasceu oficialmente no dealbar do século XX – apareceu pela primeira vez no Carnaval do Rio de Janeiro em 1917, sendo “Pelo Telefone” o primeiro Samba a ser reconhecido como tal – e tornou-se, a par da língua, no principal cimento de coesão nacional.

 

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LusoJornal