Opinião: As rádios clandestinas


Uma das formas do povo português aderir à luta contra o regime criado por Salazar era de escutar pela a rádio, os programas clandestinos transmitidos fora de Portugal.

O regime com a censura e toda a falta de liberdade de expressão, impedia que a população estivesse ao corrente das notícias, deixando apenas as informações que lhe convinha.

As emissões radiofónicas feitas a partir do estrangeiro foi a solução encontrada para fazer chegar à população a verdade dos acontecimentos que iam surgindo, mas também para fazer passar mensagens de ações.

Ouvir as rádios livres começou por ser uma necessidade, mas não era livre de perigo. O regime desenvolvia todos os esforços para impedir a difusão dessas rádios, ao mesmo tempo perseguia quem fosse identificado como seu ouvinte.

Duas emissões se destacavam, a do PCP desde 1962, a emissão Rádio Portugal Livre e a outra, a Voz da Liberdade, transmitida desde 1963 a partir da Argélia.

Em pequeno, quando eu regressava da praia de Sines para Aljustrel, com o meu pai de motorizada, já de noite, fomos bater à porta de uma Casa dos Cantoneiros o qual foi preciso insistir para que alguém viesse abrir a porta. Depois de explicar qual era o nosso problema, o dito casal prontificou-se com grande entusiasmo para nos reparar o furo da motorizada.

Mas no fim, acabaram por nos confessar que tinham apanhado um grande susto, pois estavam à escuta de uma emissão clandestina. Ainda hoje, quando lá passo, na frente dessa Casa de Cantoneiros, me recordo desse acontecimento do início dos anos 60.

Álvaro Rito

LusoJornal