Opinião: Era uma vez no Círculo da Europa…Nathalie de Oliveira·Opinião·7 Junho, 2025 Era uma vez uma enésima eleição legislativa antecipada no círculo eleitoral da Europa, em 22 distritos onde dois do estrangeiro sempre contam menos para Portugal. Era uma vez esta gente toda ser tudo e mais do que tudo, para mim, uma causa política de força maior. Era uma vez este povo no estrangeiro a gritar “Também Somos Portugueses” e o grito nunca chega a Lisboa apesar de votarmos cada vez mais (30.610 eleitores em 2015 para 352.503 em 2025). Era uma vez somente duas pessoas eleitas para nos representar, nós Portugueses residentes em 38 países do continente europeu: 947.217 mil eleitores e duas para o resto de Mundo (631.673 eleitores fora da Europa). Muita gente mesmo (vários milhões) quase sem representação na Assembleia da República. Era uma vez um descalabro eleitoral. Era uma vez milhares de boletins nunca chegarem às caixas de correio dos eleitores e ainda muitos considerados nulos quando regressam para contagem na FIL, em Lisboa. Era uma vez uma ideia boa, mas já atrasada quando entrou em vigor em 2019: o recenseamento eleitoral. Saber quantos éramos e somos ainda na diáspora não era coisa fulcral? Isso não é imprescindível para determinar o que nos une ontem, hoje e amanhã? Era uma vez o voto por correspondência, gratuito, também boa ideia (também atrasada) para quem vive a centenas de quilómetros de um Consulado português da sua área de residência. Na Itália, país de grande hemorragia emigrante, o mesmo voto por correspondência é gratuito desde 2001, enquanto para nós só em 2019. Cabe relembrar que ambas se devem a governos socialistas. Era uma vez uma lei que impedia que os lusodescendentes como eu, com dupla nacionalidade, fossem candidatos pelo nosso círculo eleitoral. Assunto resolvido, muitos anos depois do 25 de abril. Era uma vez nos demais países de fraca ou forte hemorragia emigrante (Itália, França, Líbano, Senegal, Tunísia) elegerem um maior número de Deputados nos círculos eleitorais no estrangeiro. Pergunto: será que não gostam de nós para ser preciso quase meio século para reconhecer sermos tantos concidadãos e com direitos políticos? Era uma vez, durante um quarto de século, sempre os mesmos candidatos, campanhas com cravos cansados, poucos folhetos e militantes espalhados ao vento. Existem órgãos da comunicação social da diáspora, mas continuam ignorados porque não podem constar na lista de registo da ERC só tendo morada fora. Será que acham que não merecermos informação cá fora? Era uma vez um artigo que não é de opinião, mas de lamentação e de condenação contra nós, contra as Comunidades como outro artigo que procura 3.500 poucos votos em vão para salvar a honra. Pois, em dias da pós-verdade, há quem analisa tudo menos factos, refaz a história e fica fora desta para sempre. Era uma vez convicções caladas e desencarnadas para uma maioria de militantes, sem voz ao capítulo com um Manifesto triste nas mãos, e até comício feito velório onde a esperança fugiu da sala escura. Eis uma enésima campanha eleitoral simbólica quando é preciso uma metodologia de trabalho como um apoio incondicional a quem milita fora, armado de ferramentas digitais do século XXI. Era uma vez também uma campanha do PSD/AD clássica, junto de um eleitorado fiel para termos só Direitas no horizonte. Era uma vez… pior: um partido que diz “Chega”. Não fala bem ao povo, nem sequer quer saber do povo, até mente e rouba malas, mas sim fala bem a “públicos esfomeados de show”, chateados com tudo e todos até com a vida. O tal partido conversou com a juventude na emigração no Tik Tok, conquistou o voto das mulheres e da classe média porque fala às tripas cheias de medo do futuro, até quando a Liberdade e a Democracia ainda são uma realidade. Era uma vez tudo… menos um conto de fadas no círculo eleitoral da Europa… *** Era uma vez outra vez outra história (por contar ainda) porque a esperança é invencível, porque a democracia dá sempre outra chance de entregar-se a causas nobres e de gritar vitória contra injustiças feitas! Era uma vez outra história ou ainda um sonho que temos perseguido, nós Portugueses no estrangeiro: ser parte inteira de Portugal. Um Portugal inteiro a estar do nosso lado, a pensar em nós, a acompanhar as nossas vidas no dia a dia. A sofrer connosco quando sofremos, a ser feliz quando somos felizes. A conviver connosco sempre, a conversar, a discordar, a sermos uns pelos outros, a aprendermos a ser um só povo. Era uma vez o Artigo 14 da Constituição plenamente respeitado em todo Mundo onde quer que estejamos. Era uma vez a harmonização das modalidades de voto em todas as eleições e o voto remoto eletrónico uma evidência como um direito adquirido. Também como em vigor a harmonização fiscal sendo cidadãos portugueses! Paga-se sempre mais porque partimos um dia no século passado ou neste? Paga-se mais caro o amor à Pátria quando se vive longe desta? Era uma vez o CCP com maior representação e poderes. Era uma vez um maior número de Deputados para cumprir com o trabalho parlamentar e político concretizados sendo seres humanos e não sobre-humanos para pisar o terreno todo em quatro continentes, abraçar milhares de compatriotas, sem acabar robotizados e com um balanço carbónico repreensível. Era uma vez políticas públicas à altura dos desafios que as Comunidades colocam à democracia portuguesa! Era uma vez partidos políticos melhor organizados para os maus tempos democráticos, desistindo de preconceitos e desprezo, acreditando no ser e no valor político que é o nosso. Haja Federação e melhor do que outrora! Nasceram líderes políticos que residem nos círculos do estrangeiro há muito com legitimidade e vontade, sempre junto das pessoas que estão primeiro. Era uma vez uma vitória histórica para o PS para quem sempre defendeu: “Em cada rosto igualdade” porque as encarnações contam deveras. Era uma vez quatro Deputados Socialistas na Europa e no Mundo com maioria absoluta conquistada, com Governo formado de Ministros e Secretários de Estado oriundos da Emigração. Era uma vez Portugal genuinamente inteiro contra um país cada vez mais “separado” dentro e fora… como aconteceu recentemente em países Europeus vizinhos onde os “Chegas” de mau augúrio andam vaidosos com cravos pretos ao peito para defender uma barbaridade: a desigualdade como bússola da sociedade. Não passarão! Era uma vez um país exemplar copiado pelos seus pares no Mundo no que diz respeito ao serviço prestado à sua Nação “global”. Era uma vez Portugal, uma Nação mais feliz porque mais unida. Será connosco ou nunca será Portugal. . Nathalie de Oliveira Secretária -Coordenadora da Secção do PS em MetzEx-Deputada pelo círculo da emigração