Opinião: Férias, festas e sardinhas assadas!Joaquim Tenreira Martins·Opinião·4 Agosto, 2025 No mês de julho, dei uma receção em minha casa e convidei os meus amigos franceses e belgas para virem saborear o nosso prato favorito de verão: as famosas sardinhas assadas, com a gordurinha a crepitar e a descair para as brasas. Vivem na minha rua e gostaria de os homenagear, já que as respetivas festas nacionais calham neste mês de julho, no dia 14, a dos franceses e no dia 21, a dos belgas. Tanto os franceses como os belgas gostam de convívios animados e de expandir os sentimentos com a ajuda de um Porto inicial, de um verde para entrada, de um tinto para acompanhar e em seguida fazer umas trocas baldrocas até já nem saber o que se bebe, mas sempre privados de cerveja e de “Ricard” que na minha casa não entram. A cerveja provoca-me ácido úrico e não encontro piada nenhuma ao Ricard! Tal como nos outros anos, foi no relvado do meu jardim que a festa se realizou. Tive o cuidado de fechar as portas e as janelas para o cheiro das sardinhas não inundar a minha casa, e teria de ter muito tato para não incomodar os vizinhos. Eles já sabem que, quando o cheiro das sardinhas lhes chega à porta de casa, percebem logo que vai haver festa rija. Teria de ser também muito comedido na fogueira inicial. Se as labaredas ultrapassassem o muro do jardim, vingar-se-iam do incómodo do cheiro e sobretudo por não terem sido convidados, e, estou certo, que chamariam os bombeiros, com o medo de as chamas apanharem as copas das árvores que têm no quintal. E a festa terminaria “illico presto”. Alguns convidados ainda não se habituaram às sardinhas assadas. Foi uma ocasião para me dar conta da minha condição de estrangeiro num país onde vivo há mais de 50 anos. A fronteira continua mesmo nas coisas mais simples, o que quer dizer, entre as minhas sardinhas e o bife que alguns preferiam. Também seria pretensioso reduzir o convívio a uma questão de cheiro das sardinhas assadas que alguns detestavam e do gosto da carne que a maior parte apreciava. Teria, por isso, de ter em conta que nem todos comeriam sardinhas. Uma pura ilusão! As sardinhas e a carne vieram para a mesa e a fronteira dos cheiros tinha desaparecido, todos se misturavam! Alguns arregalavam os olhos e ousavam experimentar. O gosto apurava-se e confirmava-se ser uma boa iguaria as sardinhas “à la portugaise!”. Lá vai o anfitrião a desestabilizar os hábitos e as boas maneiras de comer! “Não, não é com o garfo e a faca que se comem as sardinhas. É com as duas mãos! ‘C’est comme ça’! Na mão esquerda a cabeça e na mão direita o rabo. Leva-se à boca e os dentes fazem o resto”. Aprenderam depressa! Até tive receio que não houvesse sardinhas para tanto apetite! Mais um verde, mas um tinto, mais um Porto. Meu Deus! Parece que não sabem beber! Também não serei eu a ensinar-lhes. Ainda se começou a cantar o fado. Parece que não pegava. Alguns mais ousados arvoraram-se em “Disc Jockey”. Escolheram umas americanadas no “Spotify” e começaram a dançar a salsa, o foxtrot, a bachata e a adaptar-se ao ritmo das músicas que iam escolhendo. Já todos encharcados, o que queriam era divertir-se, dançar, fazer barulho. A minha irmã, que tinha vindo a visitar-me, estava recolhida no fundo da sala e deveras incomodada com o barulho da festa. Já não tem idade para aturar maluqueiras. Por aquele andar estava a ver que iria deitar-se a altas horas da noite. Com a sua experiência campesina e de idade avançada, sabia que quanto os ânimos começam a exaltar-se é difícil acalmá-los. Puxou então da sua coragem e ancestral sabedoria, deu dois guinchos estridentes, como quando fazia para o gado lhe obedecer. Tudo se calou! Os ânimos acalmaram! Eu levantei o pulso e mostrei as horas adiantadas do meu relógio. Todos perceberam que era tempo de partir, sublinhando-lhes que os vizinhos foram muito simpáticos, pois, desta vez, não tinham chamado a polícia, mesmo incomodados com o barulho. . Joaquim Tenreira Martins