Opinião: Independentes… mas até onde?

Tenho andado às voltas com uma dúvida existencial.

Nas próximas eleições autárquicas em Portugal, vamos encontrar uma multiplicidade de listas candidatas: algumas com o selo partidário bem visível e muitas outras apresentadas como independentes. À primeira vista, parece uma lufada de ar fresco. Afinal, a independência soa sempre a liberdade, a participação cidadã, a democracia em estado puro.

Mas será mesmo assim?

A verdade é que nem todas as listas “independentes” o são de facto. Em alguns casos que eu conheço, essas candidaturas surgem apadrinhadas por autarcas e figuras ligadas a partidos políticos, recebendo apoios que, inevitavelmente, levantam suspeitas. E é aqui que a minha ingenuidade me leva a perguntar: o que significa realmente ser independente?

Recorri a livros e dicionários e encontrei esta definição: “Ser independente significa ter autonomia, ou seja, a liberdade de agir, pensar e tomar as próprias decisões sem dependência ou submissão a outras pessoas, instituições ou vontades. É a capacidade de gerir a própria vida, assumir responsabilidades, lidar com desafios de forma autossuficiente e viver de acordo com os próprios termos, mantendo a liberdade e o controle sobre as suas escolhas e ações”.

Ora, se é isto ser independente, como é que aceitamos listas que recebem a “benção” de partidos, mesmo quando se apresentam como “livres”? Será que estamos perante um novo conceito político do independente de conveniência?

Para mim, posso estar enganado, mas uma verdadeira candidatura cidadã deve nascer da vontade dos habitantes da freguesia, vila ou cidade, dos coletivos locais, que querem fazer diferente. Mas quando um partido surge a “abençoar”, a apoiar esses projetos, a independência perde-se. O que sobra não é autonomia, mas sim uma espécie de franchising político.

É como pôr a raposa a explicar às galinhas como funciona a segurança do galinheiro: não dá!

Eu, no meio desta reflexão, lembro-me de Shakespeare e da sua célebre frase pela boca de Hamlet: “Ser ou não ser, eis a questão”.

Talvez, que no futuro, a pergunta que devemos colocar seja outra: independente ou apenas aparentemente independente… eis a questão.

Em todo o caso deixo-vos uma dica para o 12 de outubro de 2025: Sejam independentes e votem. O futuro da vossa autarquia dependerá do vosso voto!

Luis Gonçalves