Opinião : O 25 de Abril visto por um jovem de 20 anos em Lyon_LusoJornal·Opinião·4 Abril, 2024 25 de Abril de 1974, ia eu fazer, dias depois, 20 anos. Trabalhava na cidade de Lyon, e foi naquela mesma manhã, por volta do almoço, que tomei conhecimento que algo se estava a passar em Lisboa através da rádio francesa, Europe 1. Ou por outra, tentavam explicar o que se passava em Portugal, mas com poucos conhecimentos da realidade. Os telefonemas com Portugal foram suspensos, assim como o envio de repórteres também não era possível visto que o aeroporto de Lisboa se encontrava encerrado. Isso fez com que as notícias, as informações, começaram a chegar a conta-gotas. Portugal era um país que não interessava a imprensa internacional, razão de não terem, em geral, correspondentes fixos em Portugal. Mas o 25 de Abril e seus acontecimentos não me surpreenderam. Sei que o meu pai se interessava muito pela política em Portugal e, dias antes, tinha conseguido fazer comprar em Lisboa o livro do General António Spínola, “Portugal e o Futuro” por um familiar que depois lhe enviou. Um livro que curiosamente não tinha sido censurado pelo Governo de Marcelo Caetano. Um livro que já era um sinal da revolta que existia nas Forças Armadas e da fraqueza do Governo que cada vez mais se fazia sentir. Em 1974, a vida do emigrante português em França era totalmente diferente do que é agora, as notícias que vinham dos familiares só chegavam ao fim de cerca de 15 dias e, muitos eram analfabetos ou pouco sabiam ler e escrever. Era nas associações que se procurava notícias das aldeias, das famílias, com aquilo que cada um recebia. E foi na Associação portuguesa de Écully, nos arredores da cidade de Lyon, que eu e muitos outros portugueses, 6 anos depois, em abril de 1980, descobrimos pela primeira vez, imagens do que foi a Revolução, quando projetei o filme “Os Dois Primeiros Anos da Revolução em Portugal”, um filme que me tinha sido emprestado pela Embaixada Portuguesa em Paris. Naqueles anos 70, não era habitual aos emigrantes irem de férias a Portugal, e quando iam, era com viagens que envergonhavam, razão dos emigrantes em geral terem levado anos para descobrirem a realidade da transformação que trouxe o 25 de Abril de 1974. Álvaro RitoLyon