Opinião: O estranho comportamento de Luís Montenegro


O Primeiro-Ministro Luís Montenegro preferiu arrastar o país para eleições e assim contribuir para o desgaste da democracia, a responder no Parlamento às questões e dúvidas que estavam e estão ainda por esclarecer, relacionadas com a empresa que criou em 2021, chamada Spinunviva. É um comportamento estranho, por não se perceber se pretende ocultar informação que o possa comprometer, se é um ato de egoísmo ou se se trata de mero calculismo político, pensando que a suposta virtude da governação e a vitimização lhe poderão dar uma vitória nas eleições antecipadas.

A verdade é que, logo no discurso de tomada de posse, Luís Montenegro revelou uma indisfarçável vontade de deitar o Governo abaixo, dizendo às oposições que, se não quisessem aderir ao programa do Governo, então que o derrubassem. Afinal, quem deitou abaixo o Governo foi o próprio Primeiro-Ministro.

Pretender atribuir as culpas da crise política ao PS é demasiada teatralização e desfaçatez. Dizer que o seu Governo foi derrubado por causa do “sucesso da governação” e da sua popularidade é, no mínimo, patético. Mas, claro, serve a estratégia de vitimização que, já se percebeu, será o tom da sua campanha eleitoral. Mas a verdade é que a governação tem sido sempre viabilizada pelo PS, uma vez que Montenegro, e bem, decidiu colocar um cordão sanitário em torno do Chega, não obstante muitos dos seus militantes não concordarem.

É que o PS no Parlamento e Pedro Nuno Santos – e convém recordar isto à exaustão – criou sempre as condições de governação. Fê-lo para eleger José Pedro Aguiar Branco para Presidente da Assembleia da República, depois de várias tentativas falhadas. Fê-lo depois quando viabilizou o programa de Governo. Voltou a criar condições de governabilidade ao viabilizar o Orçamento de Estado para 2025 e voltou ainda a garantir estabilidade ao chumbar duas moções de censura, uma apresentada pelo Chega quando andava enredado nos seus escândalos que atingiam vários Deputados e dirigentes, e outra pelo PCP, aqui já como consequência dos estilhaços do caso Spinunviva. Portanto, Luís Montenegro e o PSD não se podem queixar, a não ser de si próprios.

E visto que o líder do PS, Pedro Nuno Santos, sempre disse que nunca daria o seu voto favorável a Moções de confiança, decidir apresentar uma Moção de confiança foi verdadeiramente uma provocação, com um duplo significado: que Montenegro quis derrubar o seu próprio Governo e que não queria dar mais explicações sobre a empresa que criou.

É estranho este ato de desrespeito pela República, porque não apenas arrasta o Governo, o PSD e o Parlamento para uma crise, mas, acima de tudo, e mais importante, leva consigo o país.

Fazer três eleições legislativas em três anos e as quartas em seis anos, sem contar com os restantes atos eleitorais, é muito desgastante para a democracia. Como dizia um amigo italiano, Portugal já está pior que a Itália. Custa ouvir. Mais uma vez se contribuiu, assim, para causar descrença entre os eleitores, arrastando o país para novas eleições que, provavelmente, não mudarão substancialmente o quadro político muito fragmentado em que vivemos, mas de certeza que haverá projetos interrompidos, atraso no processo de desenvolvimento e prejuízo para a nossa imagem internacional, fundamental para potenciar o investimento estrangeiro.

É preciso, por isso, mudar a cultura política em Portugal e pôr a estabilidade do país, impreterivelmente, à frente dos interesses pessoais e partidários.

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Paulo Pisco

Deputado do PS

Eleito pelo círculo eleitoral da Emigração na Europa