Opinião: Ó glória de mandar

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“Ó glória de mandar, ó vã cobiça desta vaidade, a quem chamamos fama!”

Linhas bem conhecidas do canto IV dos Lusíadas de Luís Vaz de Camões, nas quais, quando as naus partem para as descobertas, o Velho do Restelo, por vezes considerado personagem pessimista, mas que na verdade impressiona pelo seu realismo, chama a atenção para o reverso da medalha da empresa dos Descobrimentos, nomeadamente o preço a pagar em sacrifícios e vidas humanas.

A verdade é que as vantagens, monetárias e outras, da citada empresa, nunca benificiaram a maioria dos Portugueses, pois embora o Rei fosse riquíssimo e a Corte vivesse num luxo quase inimaginável, em que até os botões das vestes eram pérolas ou diamantes, a população portuguesa, especialmente aqueles oriundos do interior, que tinham trocado a agricultura pela miragem de riqueza fácil na capital, morria de fome nas ruas de Lisboa.

Mais tarde, acabado o comércio com as especiarias da Índia e gasta a riqueza obtida com as toneladas de ouro vindas do Brasil, Portugal entrou em crise económica porque durante muitos anos nada tinha produzido, limitando-se a importar todos os produtos de que necessitava.

Esta crise económica do passado, que persiste em nos acompanhar até ao presente, teve como consequência positiva o facto de a língua portuguesa se ter espalhado pelos cinco cantos do mundo, devido aos efeitos combinados da colonização e da emigração.

A nossa língua e a nossa cultura espalharam-se por esse mundo fora, à custa do espírito de aventura, da coragem e do empreendorismo dos que saíram do seu país natal porque o mesmo muitas vezes não lhes dava condições para lá permanecer dignamente.

O Português como elo de ligação entre os Portugueses em cinco continentes, o Português como língua internacional, o Português língua de origem e identitária, o Português que no passado dia 2 de dezembro foi terminantemente recusado aos Portugueses no estrangeiro em Assembleia da República, onde, num triste exemplo da “glória de mandar”, o Partido atualmente em maioria rejeitou todas as propostas apresentadas por seis outros Partidos, que reclamavam, para as crianças e jovens portugueses nas Comunidades, o direito a aulas e manuais gratuitos da sua língua de origem e a um ensino de qualidade, circunstâncias atualmente apenas concedidas a alunos de outras nacionalidades.

Inacreditavelmente os Portugueses, tanto alunos como professores, foram relegados para plano inferior, dado que o atual Governo, como os outros dois anteriores, recusa aos Portugueses no estrangeiro os direitos concedidos aos chamados “residentes”, como se voltou a constatar há pouco no caso dos aposentados a cargo do Estado português, aos quais foi negado o complemento extraordinário de reforma, alegando uma possível residência fora de Portugal.

Pautando-se pelo já conhecido comportamento do “quero, posso e mando”, o Partido Socialista voltou a negar às crianças e jovens portugueses no estrangeiro aquilo que concede aos de outros países, o ensino gratuito e de qualidade, assim como os manuais, rejeitando, apenas porque vinham de outros Partidos, propostas sensatas e bem fundamentadas, para aprovar, de modo algo ridículo, a sua própria proposta, de conteúdo vago, prometendo “intensificar o uso das tecnologias digitais para tornar o ensino mais atrativo e ajustado aos perfil dos alunos”, frase que se afigura desprovida de conteúdo real, pois que nesta altura muitos alunos na Suíça e Alemanha não receberam sequer os manuais que pagaram com antecedência.

Se juntarmos a tudo isto o facto de o Presidente do Instituto Camões ter publicitado em junho de 2021 o investimento de 32 milhões de euros em computadores e tablets a serem “maciçamente distribuídos” pelos alunos e professores, que até à data nada receberam, mais os 17 milhões concedidos em dezembro do mesmo ano, ostensivamente destinados à “digitalização do EPE”, dos quais, quase dois anos depois, ninguém anda a beneficiar, é caso para perguntar qual foi o destino de quase 40 milhões e onde ficaram os ditos investimentos.

Esperemos que este mesquinho e ofensivo tratamento fique na memória dos portugueses nas Comunidades e que nas próximas eleições tenham presente quem agora tão mal os tratou.

E, já que começámos com Luiz de Camões, terminemos do mesmo modo: “A que novos desastres determinas de levar estes reinos e estas gentes? Que famas lhes prometerás? Que histórias? Que triunfos, que palmas, que vitórias?”

Sim, basta de “histórias” e de promessas vazias. Aqui estamos, nós, os Portugueses no estrangeiro. Somos e queremos ser Portugueses. Tratem-nos como tal. Sem histórias.

 

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LusoJornal