Lusa | José Sena Goulão

Opinião: “O Impacto dos emigrantes no desenvolvimento económico do país de origem”


Conhecemos o impacto económico dos emigrantes no país de destino.

Os Portugueses em França ajudaram a construir o país depois da II Guerra mundial e contribuíram para a riqueza e o desenvolvimento do mesmo até aos dias de hoje.

Atualmente os imigrantes em Portugal estão a contribuir para a sustentabilidade da Segurança Social com os seus descontos enquanto trabalhadores, estão a ajudar a economia que tem falta de mão de obra na agricultura, turismo, comércio, construção civil e outras atividades económicas e são responsáveis pela reversão da tendência de declínio demográfico de Portugal.

Sobre este tema há muitos estudos, mas existem menos estudos sobre a importância dos emigrantes nos seus países de origem.

Por isso quero relevar o trabalho apresentado pelo Observatório da Emigração do ISCTE que junta vários artigos sobre este tema e que recomendo vivamente.

No primeiro capítulo, Joel Machado do Instituto Socio Económico de Investigação do Luxemburgo refere as formas pelas quais os emigrantes apoiam o país de origem:

As remessas para Portugal, através do sistema bancário, representaram mais de 3,6 mil milhões de euros em 2020, cerca de 1,7% do PIB, faltando ainda aqui contabilizar as remessas que foram enviadas por outras vias que não o sistema bancário que segundo alguns estudos são entre 35% a 75% das transferências.

Este valor equivale, grosso modo, com algumas variações, ao saldo das transferências da União Europeia para Portugal anualmente.

Os principais países de onde são oriundas as maiores remessas são França e Suíça, que sozinhos valiam mais de 50% do total em 2020.

Podem ainda estabelecer redes entre os seus países de origem e destino que são importantes para o comércio, turismo, exportações e investimento estrangeiro em Portugal.

Os países com diásporas maiores tendem a ter um melhor desempenho em termos de exportações e criam redes de comércio nos países de destino de bens do país de origem, desde produtos alimentares a outro tripo e produtos. Aumenta-se assim as exportações e valoriza-se esses produtos tornando-os mais conhecidos no país de destino.

Em França temos grandes cadeias de distribuição de produtos portugueses e restaurantes que confecionam comida portuguesa, importantes para a promoção desses produtos e da cultura culinária, o que também tem impacto no turismo em Portugal.

Os emigrantes podem aumentar o investimento estrangeiro no país de origem, sendo investimento dos próprios emigrantes, que produzem bens muitas vezes exportados para os países onde vivem, ou investimentos de empresas estrangeiras em Portugal.

A circulação de conhecimentos entre os emigrantes qualificados e o país de origem é cada vez mais importante e no caso português as associações de graduados e pós-graduados no estrangeiro tem várias funções relevantes, neste contexto.

A aprovação do Plano Nacional de Apoio ao Investimento da Diáspora em 2020, no governo de que fiz parte, tinha como objetivo facilitar e apoiar esse investimento e dar visibilidade ao mesmo em Portugal.

O Relatório de 2023 encontra-se disponível no site então criado (PNAID) que contem outras informações relevantes sobre a execução do programa.

A perceção existente em Portugal sobre o papel dos emigrantes portugueses no desenvolvimento do país está longe da realidade e não consegue alcançar todos os aspetos desse contributo, pelo que será muito importante continuar a fazer esse trabalho de valorização e divulgação dessa contribuição, aperfeiçoando as políticas para atingir esse objetivo e apoiar os emigrantes nos seus investimentos em Portugal e no fomento das nossas exportações bem como do investimento estrangeiro em Portugal.

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Berta Nunes
Ex-Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas

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