Lusa | Estela Silva

Opinião: O norte e centro de Portugal está a arder

O nosso Presidente da República disse que depois dos incêndios mortíferos de 2017, Portugal progrediu no combate aos incêndios! Progrediu em quê?

Portugal tem de facto uma história complicada com os incêndios florestais, e as lacunas estão sempre presentes, pouco se aprendeu com os trágicos incêndios de 2017, e a questão da progressão no combate aos fogos florestais é, sem dúvida ou deveria ser, um caso sério e deixem-se de paleios. Para isso devemos encarar este caso como prioritário, é fundamental para o futuro do nosso planeta.

Deixo aqui alguns dos pontos fundamentais para tentar melhorar as situações dramáticas atuais:

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1. Limpeza dos terrenos

Há de facto um progresso, mas é lento e nem sempre eficaz. A legislação tornou-se mais exigente, mas a sua implementação tem sido desigual. Ainda existem muitas áreas onde a limpeza dos terrenos não é feita, quer por desconhecimento, falta de recursos ou até resistência de proprietários. O ordenamento florestal também é um desafio contínuo.

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2. Meios de combate

Há inegavelmente mais e melhores meios, como a modernização dos veículos de combate e a aquisição de mais aeronaves. No entanto, a eficácia destes meios depende da formação dos profissionais que os utilizam, o que leva à questão da formação dos homens e mulheres.

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3. Número de bombeiros

Portugal perdeu muitos bombeiros voluntários ao longo dos anos. O voluntariado é uma base forte nas corporações de bombeiros, mas enfrenta desafios como o envelhecimento desses voluntários e a falta de incentivos adequados. Muitos corporações de bombeiros são compostas maioritariamente por voluntários, e há uma grande diferença numérica entre ser bombeiro voluntário e ser profissional a tempo inteiro, o que levanta questões de profissionalização e sustentabilidade do modelo atual.

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4. Qualidade e formação

Este é provavelmente o ponto mais crítico. Ter mais meios não significa que se saibam utilizar de forma eficaz. A formação contínua, a especialização no combate aos fogos e a capacidade de gerir cenários complexos são essenciais, especialmente num país onde as condições climáticas são cada vez mais propícias a incêndios florestais. Muitos bombeiros, sobretudo os voluntários, têm de equilibrar o serviço com outras atividades profissionais, o que limita o tempo disponível para a formação.

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5. Reconhecimento e valorização

Ser bombeiro é muito mais do que pegar numa mangueira. É um trabalho exigente, fisicamente e psicologicamente, e deveria ser mais valorizado. Profissionalizar mais bombeiros e garantir que sejam bem pagos é crucial. Quando os bombeiros estão exaustos e mal pagos, a qualidade do serviço inevitavelmente sofre.

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Para concluir, o meu agradecimento e reconhecimento merecido a todos os bombeiros voluntários pela coragem e entrega. No entanto persisto em afirmar que é necessário investir o quanto antes no profissionalismo e especialização dos bombeiros, porque a situação dos incêndios em Portugal, infelizmente, não parece ser um problema passageiro, mas sim algo com o qual o país terá de lidar a longo prazo.

Portugal tem os recursos, mas precisa de gestão eficaz! Uma formação constante e um sistema que valorize quem está na linha da frente, porque, no final, são essas pessoas que estão a proteger vidas e património de todos nós.

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