LusoJornal | António Borga

Opinião : O sonho de Macron concentra-se agora no Partido Socialista

A situação política em França está complicada: os Primeiros-Ministros têm-se sucedido, ficam muito pouco tempo no poder e o Parlamento tornou-se numa força de bloqueio constante às políticas do Presidente Macron.

Em França, o Presidente da República tem poderes alargados. É um regime presidencialista em que o Presidente da República preside ao Conselho de Ministros, contrariamente ao que acontece, por exemplo, em Portugal, em que o Conselho de Ministros é presidido pelo Primeiro-Ministro.

Aqui costuma dizer-se que o Primeiro-Ministro é “apenas” o primeiro dos Ministros.

Em caso de coabitação, o Presidente da República guarda o controle de dois Ministérios: o da defesa e o dos Negócios Estrangeiros. É por isso que temos visto Emanuel Macron muito ativo a nível internacional. Mas está muito fragilizado nas sondagens francesas. Concentra nele, todos os ataques políticos em França e há ameaças de destituição, mesmo se são remotas.

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As últimas eleições legislativas complicaram a equação

Quando Emanuel Macron dissolveu do Parlamento e convocou novas eleições, há dois anos, a Assembleia Nacional Francesa ficou dividida em três blocos mais ou menos equivalentes em termos de número de Deputados.

Temos um bloco à Extrema Direita – constituída pelo Rassemblement National – um bloco da Esquerda unida – o Nouveau Front Populaire, que integra o partido La France Insoumise de Jean-Luc Mélanchon, os Comunistas, os Ecologistas e o Partido Socialista – e um bloco central – que inclui a direita com os Republicanos, e o centro com os Macronistas e o MoDem, de François Bayrou, que deixou recentemente de ser Primeiro-Ministro.

Ora, estes 3 blocos não se entendem, não conseguem dialogar entre si. Cada um fica na sua posição. E… esta situação bloqueia o país.

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A Extrema Direita sente que está próxima da vitória

Em pano de fundo temos a eleição presidencial de 2027.

Marine Le Pen sente que está perto de atingir o seu objetivo, apesar de ter alguns (muitos) problemas com a justiça que a podem impedir de ser candidata. Se não for candidata, Jordan Bardella, o jovem Presidente do partido, assume essa candidatura.

Mas por enquanto, o grande sonho do Rassemblement Nacional é que Marine Le Pen seja Presidente da República e Jordan Bardella seja Primeiro-Ministro. Sendo assim, não lhe interessa fazer nenhum favor a Emmanuel Macron e o partido apresenta-se como o “salvador” do país.

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Desacordos à Esquerda

O Nouveau Front Populaire (NFP) é o nome da união da esquerda e inclui vários partidos: La France Insoumise é o maior partido neste grupo e o seu líder, Jean-Luc Mélenchon, quer controlar este movimento de união.

Mas Jean-Luc Mélenchon é considerado um radical. Ele considera que o NFP ganhou as eleições e, por isso, devia ser convidado a formar Governo. Mas Emmanuel Macron sempre recusou. Porque considera que nenhum partido do Centro ou da Direita, aceitaria apoiar um Governo de Mélenchon.

Nesse caso, não conseguiria a maioria para governar.

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Macron insiste numa solução ao Centro

Não encontrando solução de Governo à Esquerda, Emmanuel Macron optou por nomear Primeiros-Ministros do Centro e da Direita. Todos estes Governos estão fragilizados e não conseguiram acordos para ficar muito tempo no poder. São destituídos sistematicamente pelo Parlamento.

E a pergunta é: por que razão Emmanuel Macron continua a nomear Primeiros-Ministros do Centro e da Direita sabendo que não conseguem ficar muito tempo no Governo? E a resposta é dupla: por um lado, nenhum dos outros grupos tem probabilidades para fazer alianças e, por outro lado, Emmanuel Macron acredita que um dia vai conseguir aliança governativa com o Partido Socialista de Olivier Faure.

Primeiro porque Olivier Faure não se entende com Jean-Luc Mélanchon. Os dois homens quase não se falam. Segundo porque, se o PS ficar muito tempo diluído no Nouveau Front Populaire, dificilmente voltará a ser um partido com peso para Governar. Terceiro, porque Olivier Faure tem mostrado querer destacar-se e ofereceu-se até, muito recentemente, para formar Governo. Emmanuel Macron não aceitou, com receio de ter Mélenchon e a sua equipa no Governo, mas sabe que para Olivier Faure governar, teria de ir buscar acordos à Direita e ao Centro. Foi, pois, um sinal motivador para o Presidente da República.

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Negociações em curso

O novo Primeiro-Ministro, Stéphane Lecornu, tem agora a tarefa extremamente difícil de negociar acordos de Governo. E é o que, aparentemente, tem estado a fazer. Governa com Ministros demissionários do Governo anterior e está a tentar negociar, sem pressa, mas com um olho posto na agenda, porque o primeiro grande desafio é a aprovação (ou não) do Orçamento de Estado para 2026.

O PS tem estado a colocar condições em cima da mesa e é a chave da solução deste problema: pode aparecer como o Partido responsável para não bloquear a economia francesa e pode aparecer como o Partido que defende os cidadãos, impondo compromissos que obriguem o Governo a seguir alguns dos temas do programa socialista. Salvo se tentar ser demasiado “guloso” e quebrar a negociação.

Mas tem de contar também com os Republicanos que se têm aproximado muito da Extrema Direita… e que aceitam muito mal os acordos com o PS.

Os Republicanos, para existirem, também têm de impor condições. E a dificuldade está precisamente em criar um programa de Governo que convenha ao mesmo tempo aos Republicanos e aos Socialistas.

Ora, para Emmanuel Macron chegar ao poder, destruiu praticamente estes dois partidos e apresentou-se como o Presidente do Centro, tanto à Direita como à Esquerda.

Agora, Emmanuel Macron queria que o Governo se mantivesse até às eleições Presidenciais de 2027, mas sabe que é uma equação difícil de resolver!