Opinião: Os canais internacionais da RTP: uma ponte que une Portugal ao mundo e à lusofonia


A presença de Portugal no mundo mede-se não apenas pelo número de emigrantes que residem no estrangeiro, mas também pela forma como o país consegue manter com eles uma relação contínua, afetiva e cultural. Nesse esforço de proximidade, a RTP Internacional (RTPi), a RDP Internacional e a RTP África assumem um papel estratégico e insubstituível, funcionando como verdadeiras pontes mediáticas que unem os portugueses e a lusofonia num espaço global de língua, cultura e identidade.

Criada no início da década de 1990, a RTP Internacional surgiu com uma missão clara: aproximar os portugueses emigrados da realidade nacional. Desde então, o canal tornou-se uma referência incontornável para milhões de portugueses espalhados pela Europa, América, África e Ásia, oferecendo um contacto diário com o país.

A RTPi não é apenas televisão. É memória, é identidade e é pertença. Para muitos emigrantes, especialmente para os mais velhos, ligar a RTPi é manter viva a ligação com Portugal. Cada jornal televisivo, cada programa cultural ou cada transmissão desportiva representa uma oportunidade de se reencontrarem com a sua terra natal. Para as gerações mais novas, filhos e netos de emigrantes, é uma forma de manter contacto com a língua portuguesa e de compreender a cultura dos seus pais e avós.

Num mundo globalizado, em que o acesso à informação é instantâneo, pode parecer que a RTPi perdeu protagonismo. Mas a realidade mostra o contrário: o canal continua a ser procurado porque oferece algo que outros meios não conseguem garantir – informação em português, com credibilidade, rigor e ligação direta ao país de origem.

Ao transmitir diariamente telejornais, debates parlamentares, programas de análise política, eventos culturais e séries nacionais, a RTPi dá aos emigrantes uma perceção real e atualizada da vida em Portugal. Mais do que informar, constrói um sentimento de pertença: ao verem as notícias, os emigrantes sentem que continuam ligados ao destino coletivo do país.

Entre os conteúdos mais valorizados estão as transmissões desportivas, em particular o futebol. Para as Comunidades portuguesas, seguir os jogos da Seleção Nacional ou dos grandes clubes não é apenas acompanhar resultados; é partilhar emoções, vibrar em conjunto, sentir-se parte de uma comunidade global que se reconhece numa camisola ou numa bandeira.

A RTPi tem, assim, uma função afetiva que ultrapassa o simples entretenimento: ao transmitir os momentos desportivos mais marcantes, reforça a ligação dos emigrantes a Portugal e cria laços de identidade que unem várias gerações no estrangeiro.

Outro mérito da RTPi é dar visibilidade às Comunidades portuguesas no estrangeiro. Através de reportagens, entrevistas e programas dedicados, mostra as histórias, conquistas e desafios dos emigrantes. Esta dimensão é essencial: a RTPi não é apenas a voz de Portugal para fora, mas também a voz dos portugueses lá fora para dentro.

Neste sentido, ganha especial relevância a presença de um representante das comunidades portuguesas no Conselho de Opinião da RTP. Esta medida permite integrar diretamente as preocupações e expectativas da diáspora na definição da estratégia editorial do canal, tornando-o ainda mais representativo e participativo.

A RDP Internacional é a linha de voz que liga, todos os dias, Portugal às suas Comunidades no mundo. Leva informação fiável em português, companhia e música que cheira a casa, dá palco às histórias da diáspora e cria um espaço de pertença que atravessa fusos horários e gerações. As transmissões de futebol funcionam como grandes momentos de comunhão, mas a rádio vai mais longe: acompanha eleições, emergências e a vida cultural, promove a língua, serve de ponte com a CPLP e aproxima os portugueses entre si e do país. É serviço público na sua forma mais direta: proximidade, identidade e coesão.

Se a RTPi e a RDP Internacional têm como missão ligar Portugal às suas Comunidades emigrantes, a RTP África cumpre uma função complementar, mas igualmente estratégica: reforçar os laços de cooperação e proximidade com os países africanos de língua portuguesa – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Criada em 1998, a RTP África nasceu da convicção de que a televisão podia ser um instrumento fundamental de diplomacia cultural e de reforço da lusofonia. Ao longo dos anos, o canal tem transmitido conteúdos que não só aproximam os países africanos de Portugal, como criam um espaço comum de comunicação entre eles.

A sua grelha inclui produções próprias, mas também programas partilhados e coproduções que dão visibilidade às culturas locais. Mais do que um canal português em África, a RTP África é hoje um espaço de convergência entre diferentes realidades do mundo lusófono, onde circulam conteúdos de todos os países que partilham a língua.

O impacto da RTP África vai além da programação televisiva. O canal funciona como um instrumento de cooperação para o desenvolvimento, ajudando a formar quadros técnicos, jornalistas e profissionais de comunicação nos PALOP. Através da partilha de conhecimento, da promoção de conteúdos educativos e da difusão de valores democráticos, a RTP África contribui para o fortalecimento dos sistemas mediáticos locais e, por consequência, para a consolidação das sociedades civis.

Além disso, é um veículo privilegiado de aproximação entre povos, contribuindo para que a lusofonia não seja apenas um conceito político ou diplomático, mas uma realidade vivida diariamente através da cultura, da língua e da informação.

Embora com públicos diferentes, a RTPi e a RDP Internacional e a RTP África partilham uma missão comum: projetar Portugal no mundo e reforçar a comunidade lusófona. Todas desempenham funções de serviço público que vão muito além da simples transmissão de conteúdos: criam laços, promovem a língua portuguesa, difundem cultura, apoiam a cooperação internacional e fortalecem a identidade comum.

No caso da RTPi, trata-se de manter a ligação com os portugueses que estão fora. No caso da RTP África, de reforçar a cooperação com os países de língua portuguesa em África. Em ambos, Portugal projeta-se como um país global, aberto e capaz de valorizar a sua diáspora e o seu espaço linguístico.

Manter o investimento público na RDP Internacional, na RTPi e na RTP África é, por tudo o que disse acima, condição para garantir qualidade editorial, rede de correspondentes, tecnologia digital, acessibilidade e aquisição de direitos relevantes – do desporto à cultura. É também um investimento em diplomacia cultural, combate à desinformação e uma aposta evidente na cooperação lusófona.

Mais de três décadas depois da sua criação, a RTP Internacional e a RTP África continuam a ser instrumentos fundamentais de proximidade e cooperação. A RTPi mantém viva a ligação dos emigrantes a Portugal, oferecendo informação, cultura e identidade a milhões de lares espalhados pelo mundo. A RTP África, por sua vez, projeta a lusofonia, promove a cooperação e contribui para a construção de um espaço de comunicação partilhado entre Portugal e os países africanos de língua oficial portuguesa.

Ambas são expressões de uma mesma missão: garantir que Portugal, apesar de pequeno em território, continua grande no mundo, unido pela sua diáspora e pela força da língua portuguesa.

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Carlos Gonçalves
Deputado eleito pelo círculo eleitoral da Europa