Opinião: Os emigrantes vão pagar cara a fatura das eleições legislativasCarlos Pereira·Opinião·18 Junho, 2025 As eleições legislativas de maio deste ano vão ter um impacto inesperado nas Comunidades portuguesas. Poucos tínhamos a perceção do que acabou por acontecer e agora vai ser difícil sair desta situação. Os líderes dos três maiores partidos da democracia portuguesa vão tirar conclusões que podem representar um retrocesso na emancipação política das Comunidades que muitos, como eu, defendem. Tenho muitas vezes repetido que as Comunidades necessitam de núcleos fortes de todos os partidos políticos no estrangeiro. Sem organização política das Comunidades, vai ser difícil levar as Comunidades para a agenda política. . O Partido Socialista perdeu as eleições na emigração. Pela primeira vez, não conseguiu eleger nenhum Deputado. Na primeira grande entrevista de José Luís Carneiro após as eleições, o candidato único e natural à liderança do Partido veio dizer que foi pena o PS não ter apostado em Paulo Pisco. Dizia isto como explicação para a derrota do PS. Eu não acredito que Paulo Pisco tivesse tido um melhor resultado do que Emília Ribeiro, candidata da emigração pelo círculo da Europa, mas Paulo Pisco, em Lisboa, vai repetir a quem o quiser ouvir que ele sempre ganhou e agora, por não ser ele o candidato escolhido, o Partido perdeu. Temo que nas próximas eleições, o Partido Socialista continue em não apostar nos militantes da emigração para serem candidatos e volte a trazer alguém “de Lisboa” para ganhar as eleições. Vai ser um retrocesso. . O Partido Social Democrata (sob cobertura da AD, mas nas Comunidades o CDS não tem expressão) ganhou as eleições porque conseguiu recuperar um Deputado que tinha perdido em eleições anteriores. Qualquer líder do partido, em Lisboa, vai dizer que o PSD ganhou porque teve como candidato o Ministro José Manuel Fernandes. Algum dirigente do partido menos atento, em Lisboa, vai tirar como conclusão que Carlos Gonçalves foi cabeça de lista nas eleições anteriores e perdeu e agora ganhou porque o cabeça de lista foi José Manuel Fernandes. Temo que nas próximas eleições, o PSD continue em não apostar nos militantes da emigração para serem candidatos e volte a trazer alguém “de Lisboa” para ganhar as eleições. Vai ser um retrocesso. . O Chega ganhou as eleições porque foi o partido mais votado neste círculo eleitoral. Mas, os mais atentos constataram que José Dias Fernandes, o Deputado que se candidatou pela segunda vez e voltou a ser eleito, praticamente não fez campanha nas Comunidades ou, se fez, foi uma campanha discreta e em nada proporcional aos resultados obtidos. Em Lisboa sabe-se disto. Sabe-se disto porque as Comunidades não foram o único círculo eleitoral onde isto aconteceu. Na verdade, quem fez campanha foi André Ventura, e os eleitores votaram em André Ventura independentemente do candidato que os vai representar. Pessoalmente, não acredito que André Ventura mande para as Comunidades um candidato “paraquedista”, mas não vai estar preocupado a escolher o candidato nas Comunidades porque sabe que qualquer que seja o candidato, os resultados dependem do líder do partido. Sem tirar o mérito a ninguém, a conclusão é que “qualquer candidato servirá”. E isso também é um retrocesso. . Estou consciente que os resultados eleitorais destas eleições Legislativas no círculo eleitoral da Europa, foi um resultado “lógico”. O Chega subiu em Portugal e também subiu aqui (mesmo se manteve o mesmo número de Deputados). O PSD subiu em Portugal e também subiu aqui. O PS caiu em Portugal e também caiu aqui. Nada de mais natural! Mas visto de “Lisboa” pode ter uma leitura errada. . Carlos Pereira JornalistaDiretor do LusoJornal