LusoJornal | Mário CantarinhaOpinião: Os fogos de verão e a discriminação dos emigrantesPaulo Pisco·Opinião·21 Outubro, 2025 As declarações do Ministro da Economia e da Coesão Territorial, Castro Almeida, sobre as casas dos emigrantes que terão ardido nos incêndios de verão, são um verdadeiro desastre comunicacional e um murro no estômago para os Portugueses que vivem no estrangeiro, que, apesar de tudo, nunca perdem a esperança de serem respeitados pelo país, por maiores que sejam as desconsiderações. Os últimos incêndios foram dos mais trágicos das últimas décadas, sendo Portugal o país mais afetado em toda a Europa. Em apenas três meses, ardeu três por cento do território nacional, cerca de 280 mil hectares, sobretudo nas regiões norte e centro do país, onde milhares de emigrantes têm as suas casas. Até ao momento foram feitos mais de cinco mil pedidos de ajuda, muitos para a agricultura, mas não há ainda informações exatas sobre as casas ardidas nem sobre a dimensão dos estragos provocados pelos incêndios em cada caso particular. Os incêndios destruíram habitações, armazéns, instalações industriais, terrenos agrícolas e floresta. Mas o Ministro Castro Almeida, de forma muito deselegante e ofensiva, tratou logo de pôr de parte os residentes no estrangeiro, para quem a sua casa em Portugal sempre foi um sonho e um objetivo de vida. Dizer: “O seu património ficou diminuído? É problema seu. Devia ter um seguro para o efeito”. Estas declarações são de uma brutalidade que cria um sentimento de injustiça não apenas em quem foi vítima dos incêndios, mas em todos os Portugueses que vivem no estrangeiro e sentem na pele o estigma da discriminação, só por não estarem presentes, mesmo sendo os ausentes mais presentes da sociedade portuguesa. José Luís Carneiro, de resto, já se disponibilizou para, com o Governo, corrigir esta injustiça. Curiosamente, ou tristemente, nem sequer veio em seu socorro o Ministro da Agricultura e Florestas, José Manuel Fernandes, que foi cabeça de lista do PSD pelo círculo da Europa, pelo que deveria estar na linha da frente da defesa aqueles que o elegeram. Este Governo, que relativamente às Comunidades portuguesas está completamente ausente e desnorteado, esquece-se com muita facilidade que os Portugueses residentes no estrangeiro representam para Portugal um ativo de enorme valor, não apenas pelas avultadíssimas remessas, a rondar os 4 mil milhões de euros por ano, mas também pelo que investem no país e pelas importações imensas de bens e serviços e consumo da produção nacional, criando dessa forma riqueza e ajudando a manter empregos e empresas. São eles que dão apoio às famílias que ficam no país, que fazem a sua promoção turística, que gastam muito dinheiro quando vêm de férias e dão vida às aldeias, que no resto do ano estão vazias. Eles são um elemento estratégico de dinamização económica e povoamento do interior, sempre que decidem regressar a Portugal. Quando os residentes no estrangeiro vêm para Portugal, a morada que têm no país é a sua primeira casa. É a casa onde nunca puderam ficar porque não tiveram oportunidades e é para onde um dia poderão voltar, se se sentirem bem-vindos. Não merecem nunca, por isso, ser tratados com tanto desdém. . Paulo Pisco Adjunto do Secretário Geral do Partido Socialista para as Comunidades Portuguesas