Opinião: Sobre o ensino da cultura portuguesa no estrangeiro…


Não quero aqui fazer o processo de ninguém, nem do presente, nem do passado, nem pensar para o futuro. Simplesmente gostaria de ter algumas respostas, a esta situação que vivemos já há muitas décadas.

Olhando para trás, sobre o que não se deve fazer, recordamos belas palavras de vários dirigentes políticos e de vários Deputados, sobretudo em momentos eleitorais, que nos enchem as mentes e o espaço com belos projetos, mas que por vezes não passam de projetos e de belas palavras.

Recordo certas palavras ainda ditas há pouco tempo: “Temos que reforçar o ensino no estrangeiro”, “Temos que salvaguardar a portugalidade e a nossa cultura linguística e cultural”… muitas mais ideias… boas!!! Mas as palavras por vezes são levadas pelo vento, nem eco têm, ou caem em ouvidos surdos, o que é muito grave, pois não passam do simples “projeto”, que não vai ter ou dar vida.

Viajando no tempo já passado, uma década, duas décadas, ou até mais décadas, mas sempre aqui encontramos tantas promessas, belos discursos, que foram feitos às Comunidades residentes no estrangeiro e até mesmo em Portugal. Os políticos que ocuparam os postos de decisão para o ensino da língua portuguesa, tiveram sempre projetos que, por vezes, não concretizaram ou andaram muitas vezes a pôr remendos em calças velhas, fora de moda, ou já ultrapassadas. E o tempo assim vai passando.

Hoje, estamos verificando um desinteresse nas famílias, de levarem os filhos às escolas para aprenderem o português. Pode-se ouvir-se com frequência: “Para que é que serve que o meu filho aprenda o português, ele nunca vai viver para lá… não serve a nada”, “A vida dele será certamente aqui por França… então não precisa de falar português”, “O pouco que lhe ensinei já chega para falar com a família”. Se hoje assim se fala, é porque foram mal informados. Certamente.

Pois, analisando estas situações, estas expressões “pobrezinhas”, a questão põe-se de quem tem a culpa e a quem devemos apontar o dedo?

A incultura e o desinteresse da grande parte da Comunidade ou dos nossos políticos que, por vezes só tiveram ideias pequeninas ou até mesmo insignificantes, à imagem do orçamento que havia por vezes, mas que não as concretizaram mesmo assim, da boa maneira.

A divulgação e apresentação de certos projetos, por exemplo, como implicar as associações na transmissão da cultura linguística, isto não foi feito com insistência no tempo e da boa maneira, ou até com uma comunicação presencial de funcionários ou responsáveis junto dos dirigentes associativos. Alguns prospetos eram por vezes muito “simplórios e incompreensíveis”, e que por vezes se perdiam pelo caminho, e aqui os dirigentes associativos também não eram sensibilizados da devida maneira, para que eles abrissem as portas das suas coletividades, a estas possibilidades culturais, que era o ensino do português. Muitas vezes o maior interesse nas coletividades era, e é, o folclore e festas. O que é também de louvar… pois é e tem um papel muito social.

Falando mais positivamente, temos a salientar que muitas coisas foram feitas a determinados momentos e muito positivas. Como o criar as secções internacionais de ensino de português, em várias cidades de França, em paralelo com o ensino francês, mas que hoje encontram certas dificuldades, e onde são por vezes jovens lusófonos, não portugueses, que estão a usufruir dessas secções, e dos professores pagos pelo estado português e não os filhos de portugueses. Aqui a falta de informação para a Comunidade portuguesa é flagrante.

Divulgar o ensino do português e os valores da portugalidade numa campanha adaptada a esta situação negativa, falando da existência de aulas de português, onde, e com que espaço e os horários, e até mesmo divulgar precisamente como obter os professores, seria bem-vinda. Pois hoje ainda encontramos muitos membros da Comunidade a descobrirem estas situações e propostas por falta de informação adequada.

As famílias de recém-chegados, com menos de cinco anos de estadia e com filhos em idade de serem escolarizados, não têm acesso a toda esta informação corretamente. E por vezes é no seio das famílias e nos círculos de amigos, que eles encontram as informações.

Seria bom inverter estas tendências, pois é muito triste e desmoralizante de constatar que a Comunidade no estrangeiro se desvaloriza e se afasta da cultura e da nossa língua, sobretudo os filhos e isto no conhecimento da nossa cultura portuguesa de base, que é a língua, mesmo sendo na mais simples expressão. Pois por vezes, nem se fala o português ou até nem se fala o francês corretamente.

A segunda e terceira geração da nossa Comunidade, na maioria, é muito carenciada no conhecimento da nossa cultura, não tendo o devido contacto e as propostas a viverem essa cultura. A nossa história, que é muito importante, assim como as tradições musicais e literárias, assim passam ao esquecimento facilmente no seio da Comunidade. A transmissão destes valores poderia ser feita de muitas maneiras, mas para isso tem de haver uma grande força de vontade de vários parceiros sociais.

Talvez hoje até já seja um pouco tarde, mas seria bom tentarmos todos juntos e mesmo ao nível das associações, que são muitas, inventarmos, criarmos atividades que promovam a nossa cultura. Como conferências, projeção de filmes, criação de grupos de teatro e de música onde a Comunidade pudesse fazer intercâmbios de cultura geral. Hoje, o folclore é a única via popular onde se transmite certas tradições, como o dançar e cantares tradicionais antigos, de várias regiões de Portugal, sobretudo do Minho. Mas isto não basta… tem de ser muito mais e com outros horizontes.

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Jorge de Campos

Conselheiro das Comunidades Portuguesas

Eleito nas áreas consulares de Lyon e Marseille

LusoJornal