Lusa / Tiago Petinga

Paulo Branco ameaça estragar festa de encerramento do Festival de Cinema de Cannes

A tensão entre o produtor português Paulo Branco e a Direção do Festival de Cannes está no máximo. Em causa está o facto do Festival ter programado para a sessão encerramento, a projeção do filme «O homem que matou D. Quixote» do realizador Terry Gilliam.

Ora, Paulo Branco e Terry Gilliam estão em tribunal.

Quando Paulo Branco soube da programação do filme interpôs uma ação de interdição, através da produtora Alfama Films. Por decisão judicial do Tribunal de Paris, está marcada uma audiência para a próxima segunda-feira, véspera de abertura do Festival, e aí se saberá se o filme poderá ou não ser exibido.

«O homem que matou Dom Quixote», um projeto antigo de Terry Gilliam, é uma coprodução entre Portugal, Espanha, França, Bélgica e Inglaterra, com um orçamento de cerca de 16 milhões de euros, que teve filmagens em Portugal.

 

Paulo Branco começou a produzir o filme

O projeto chegou a contar com produção de Paulo Branco, mas Terry Gilliam acabou por não concretizar a parceria, alegadamente por problemas de financiamento, optando por trabalhar com outra produtora portuguesa, a Ukbar Filmes.

Terry Gilliam pediu a anulação do contrato de produção com a produtora Alfama Films, de Paulo Branco, mas, no ano passado, o Tribunal de Grande Instância de Paris declarou que aquele continua válido. «Continuo a ter os direitos sobre o filme e será difícil que a situação seja revertida. A decisão de 15 de junho, que foi comunicada, não resolve nada. Há ainda um processo no Reino Unido», disse Paulo Branco à Lusa no passado dia 04 de abril.

«O Festival de Cannes esquece assim que sem os produtores, que assumem os riscos financeiros, nem os filmes, nem o Festival existiriam. Durante 16 anos, de 2000 a 2016, Terry Gilliam não arranjou um único produtor que tenha aceite retomar este projeto. Se o filme existe hoje, é graças ao trabalho e aos investimentos realizados pela Alfama Films Production e Paulo Branco, quando já ninguém acreditava neste projeto», acrescentou o comunicado do produtor.

À Lusa, Paulo Branco recordou que «os direitos do filme ainda pertencem à Alfama Films» e disse estar há pelo menos dois anos «disposto a sentar-se à mesa» para negociar com o realizador.

Pandora da Cunha Telles, da Ukbar Filmes, explicou à Lusa que este processo «não inviabiliza nem a exploração comercial nem a circulação do filme».

Está marcada para 15 de junho uma audiência no Tribunal de Recurso em Paris na qual será conhecida a sentença sobre a possível indemnização do cineasta ao produtor português, por causa de direitos sobre o filme.

 

Festival de Cannes atacou Paulo Branco

Entretanto, a Direção do Festival de Cinema de Cannes saiu em defesa do realizador Terry Gilliam e do filme «O homem que matou D. Quixote», deixando duras críticas ao produtor Paulo Branco por causa da disputa judicial que pode comprometer a exibição do filme, incluindo no encerramento do festival que se realiza entre 08 e 19 de maio.

Num comunicado conjunto do Presidente do Festival de Cannes, Pierre Lescure, e do Delegado-geral, Thierry Frémaux, é estabelecido o paralelo entre a situação de Terry Gilliam e a de realizadores como a queniana Wanuri Kahiu, que viu o seu filme ser proibido no país de origem.

«Afirmamos firmemente que estamos do lado dos realizadores e, em particular, do lado de Terry Gilliam. Sabemos como este projeto, que passou por tantas provações e tribulações, é importante para ele», afirmaram o Presidente do Festival de Cannes, Pierre Lescure, e o Delegado-geral, Thierry Frémaux, num comunicado conjunto.

«O Festival de Cannes, apesar de estar ao corrente de todos os processos, decidiu ignorar as decisões dos Tribunais e foi por essa razão alvo de um processo de interdição. É indecente, para não dizer abjeto, que o Festival de Cannes, para se justificar, compare a situação de Terry Gilliam, que se recusa a respeitar decisões judiciais num Estado de Direito, à dos realizadores vítimas de repressão e censura nos seus países», realçou Branco.

 

«Paulo Branco mostrou a verdadeira cara»

No comunicado, a Direção do Festival recorda que está planeada a estreia do filme em pelo menos 300 salas em França, mas garante que respeitará a decisão do tribunal. De permeio, critica duramente o produtor Paulo Branco, recordando que usou o Festival «ao longo da sua carreira para construir a sua própria reputação».

No entender do Festival, com aquela ação judicial, Paulo Branco «mostrou a verdadeira cara de uma vez por todas» ao ameaçar, através do advogado, «com uma derrota humilhante».

«Derrota seria sucumbir às ameaças», escreveram.

No comunicado assinado pela advogada Claire Hocquet, que o representa e à Alfama Films, em reação à tomada de posição pelos dirigentes do Festival, Paulo Branco rejeitou que utilize qualquer «método de intimidação ao recorrer à justiça para fazer valer os seus direitos» e afirmou que «a virulência e agressividade do tom do Festival de Cannes não mudarão nada».

 

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