Paulo Cafôfo defende federações de associações, um movimento associativo com mais sócios e autosustentável


O atual Secretário de Estado das Comunidades Portuguesa, que está no final do seu mandato, no seguimento da dissolução da Assembleia da República, diz que as associações portuguesas no estrangeiro têm de se profissionalizar, preocupar-se com a sua autosustentabilidade, criar federações e o Estado deve organizar formações para captar jovens dirigentes associativos.

Numa entrevista exclusiva ao LusoJornal, Paulo Cafôfo começa por dizer que as associações fazem parte do “ativo estratégico de Portugal”, têm um “valor cultural”, ao qual se associa um “valor humanista” da nossa Comunidade. “O movimento associativo tem duas características: a promoção da cultura e a produção da solidariedade” diz o governante, lembrando também que as associações foram criadas com “duas funções bem evidentes”, uma função de acolhimento, “um ponto de contacto, para se procurar um contrato de trabalho, para ter habitação, para poder mover-se na administração francesa, nas repartições públicas,…” Era pois, um “porto seguro”.

Mas, para Paulo Cafôfo, também foram criadas para “recriar a nossa cultura e as nossas tradições. Porque há uma coisa que é a saudade, e quem sai do seu país e vai para um país distante, mesmo sendo um país europeu como a França, a forma de não se esquecer das suas raízes, é recriar as tradições, as festas religiosas, a parte etnográfica, os ranchos, o folclore… tudo isto serve de âncora para alguém que está distante, mas não perde esta ligação cultural com o seu país”.

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O contexto mudou muito…

Considerando que o movimento associativo português no estrangeiro teve um papel importantíssimo, Paulo Cafôfo argumenta, no entanto, que “os tempos mudaram e hoje em dia, no mundo da informação e da tecnologia, no mundo onde também o Estado português tem outras ferramentas para poder apoiar a sua Comunidade, nomeadamente através da nossa rede consular, estas associações acabaram por ir perdendo alguma influência, porque o seu objeto na sua criação, deixou de ter tanta importância com a modernidade e no mundo contemporâneo em que nós vivemos”.

Surgem então novos desafios para as associações portuguesas no mundo, “para garantir este movimento associativo que é essencial, não só na ligação a Portugal ou seja para mantermos este vínculo a Portugal, mas também para promover a coesão entre a nossa Comunidade”.

“Uma associação que exista numa cidade francesa, tem um importante papel na coesão, na união, na ligação entre as pessoas daquela cidade francesa” disse o Secretário de Estado.

Os dasafios são então de “manter o movimento associativo adequado a um novo contexto social, porque a nossa diáspora também mudou, não é a mesma, mesmo as primeiras gerações já não são as mesmas, o tempo mudou, elas também mudam, os novos, as novas gerações, os lusodescendente, já nasceram noutro mundo e é preciso encarar isto de uma forma realista” assume Paulo Cafôfo. “O movimento associativo jamais será o que foi no passado. Se não percebemos isto, não conseguimos garantir que o movimento associativo possa continuar no futuro”.

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Sustentabilidade tem de ser prioridade

Um dos pontos principais para o titular da pasta das Comunidades é garantir a “sustentabilidade financeira” destas associações, mas também o de renovar as lideranças.

“O Governo português tem mecanismos de apoio ao movimento associativo e tem apoiado. Aliás, se analisarmos desde 2017, todos os anos, os apoios no Orçamento de Estado têm crescido, assim como o número de associações que são apoiadas” conta o Secretário de Estado. “Mas nenhuma associação pode existir unicamente com o apoio do Estado português ou até com o apoio municipal. O que também acontece com os municípios em França, porque há Mairies que apoiam estas associações”.

Para Paulo Cafôfo, “têm que ser criados mecanismos de autossustentabilidade e o movimento associativo tem de se profissionalizar”. As associações têm de continuar a ser ser estruturas sem fins lucrativos, mas o Secretário de Estado considera que “tem de haver aqui quase como uma perspectiva também de negócio” e evoca várias formas de rentabilizar, “por exemplo no património que têm – porque há muitas associações que têm património – na exploração dos espaços, sejam os espassos de restauração, sejam espaços para a realização de eventos, sejam espaços desportivos. Têm de rentabilizar esses espaços e têm de criar eventos que possam ser uma fonte também de financiamento”.

“Não sendo uma empresa, têm que ter uma estratégia para que possa haver autossustentabilidade. Isso é imprescindível” diz o Governante.

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Importante federar o movimento associativo

Outro assunto levantado pelo Secretário de Estado das Comunidades portuguesas é o da “profissionalização” do movimento associativo. “Essa profissionalização só pode acontecer com a federalização do movimento associativo”.

Em França já existiu um movimento federativo forte, com duas federações nacionais – a Coordenação das Coletividades Portuguesas de França (CCPF) e a Federação das Associações Portuguesas de França (FAPF) – mas também com cerca de 20 federações regionais de associações portuguesas, da Alsace aos Pyrénées, de Nantes a Bourges e a Lyon, passando por Saint Dié des Vorges, por Marseille e por Orléans.

Mas, na verdade, Portugal deixou de dar importância e de financiar estas federações e a França também considerou que já não se justificava o financiamento a associações “europeias”.

“O importante é manter a associação, é congregar-se e juntar-se a outras associações. Eu não estou a falar de fusão de associações, porque as associações têm a sua história, a sua autonomia, têm os seus estatutos e os seus órgãos próprios, mas temos visto em algumas partes da diáspora portuguesa, nalguns países, que federalizar permite rentabilizar recursos. Em vez do custo estar concentrado, se for diluido, mais facilmente é comportável” disse ao LusoJornal.

O Secretário de Estado fala pois em “transversalidade”, em “recursos partilhados”, insiste que as associações devem “manter a sua autonomia e a sua independência”, mas considera que “é uma forma de assegurar também o futuro destas associações”.

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As associações têm de ter mais sócios

“Uma associação que não tem associados, morre, fecha as portas e a meu ver, aquilo que se nota é que há pouca renovação, não só nos dirigentes, mas também na entrada de novos sócios” diz Paulo Cafôfo.

“O movimento associativo não pode estar à espera… se não fizer nada para ser atrativo para as novas gerações, não se pode queixar. Porque muitas vezes queixam-se muito, que não temos jovens a participarem, não se envolvem, não querem vir cá, a pergunta que devemos fazer é porque é que não querem vir cá? Por que não querem participar? E portanto não devem ser os jovens que devem ir ao encontro das associações, são as associações que devem ir ao encontro dos jovens”. O Secretário de Estado está consciente que “as novas gerações têm outros interesses. Eu conheço jovens lusodescendentes, em França particularmente, nas mais diversas áreas, da música, e não só na música tradicional, desde Dj’s, desde músicos nos mais diversos instrumentos, vejo artistas plásticos, designers, vejo desportistas, também nas mais diversas modalidades, portanto há uma diáspora e há portugueses e portuguesas que têm determinados interesses. Importa ir ao encontro desses interesses, mantendo aquelas que são as atividades tradicionais, claro. De maneira nenhuma se deve cortar com os ranchos, porque eles acabam também por ter gente nova, mas não suficientes para garantir a sustentabilidade e o futuro das associações”.

Paulo Cafôfo fala na necessidade deste “salto no tempo, que é necessário dar para garantir o futuro do movimento associativo português no estrangeiro”.

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Estado deve apostar na formação de jovens dirigentes

Este aspeto da “renovação geracional do dirigismo” é um ponto importante para o atual Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.

Esta renovação faz-se com um “investimento na formação” de dirigentes associativos, que a Secretaria de Estado abandonou há muitos anos. Paulo Cafôfo considera que “nós temos de ter capacidade de realizar eventos formativos em que se possa trazer para associações dirigentes que têm uma formação certa, que possam ser cativados para tal” diz na entrevista ao LusoJornal. “Às vezes é preciso o isco para trazê-los para dentro do movimento associativo, temos de ir buscá-los, cativá-los, atraí-los e formá-los. E, para isso, a formação é essencial”.

Nos idos tempos do Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas (IAECP) foram organizadas ações de formação de jovens dirigentes associativos, mas, depois, deixou de haver projetos nesta área. Agora, o titular da pasta assume que “temos que ter um plano formativo para podermos capacitar jovens, não só motivá-los mas capacitá-los, para exercerem o dirigismo associativo”.

Mas acredita também que é necessário dar mais apoios a projetos transversais para “incentivar e privilegiar iniciativas que possam ser realizadas por diversas associações”. Paulo Cafôfo considera que deve haver uma “majoração e um benefício” sempre que uma “congregação de atividades” entre várias associações.

“Eu penso que isto é o futuro, é esta estratégia que devemos seguir para o futuro do movimento associativo e para o dirigismo associativo” afirma com convicção.

Esta entrevista de Paulo Cafôfo ao LusoJornal foi feita em Montalegre, aquando o membro do Governo visitou o concelho de forte emigração.

LusoJornal