Home Cultura Peças portuguesas «Ensaio para uma cartografia» e «Coleção de amantes» em cena em MontpellierLusojornal·13 Dezembro, 2019Cultura As peças “Ensaio para uma Cartografia” e “Coleção de Amantes”, de Mónica Calle e Raquel André, respetivamente, estiveram em cena esta quinta-feira, no Théâtre des 13 Vents, em Montpellier. Com encenação, cenografia e desenho de luz de Mónica Calle, “Ensaio para uma cartografia” estreou-se no Teatro Nacional D. Maria II, em 2017, tal como “Coleção de Amantes”, uma criação conjunta de Raquel André, António Pedro Lopes e Bernardo de Almeida, com música de Noiserv. Ambas as peças foram coproduzidas pelo D. Maria II. Produzido pela Casa Conveniente e Zona Não Vigiada, “Ensaio para uma Cartografia” teve a primeira representação no Théâtre des 13 Vents – Centro Dramático Nacional de Montpellier, na terça-feira, repetindo , sem ingressos disponíveis para o espetáculo na quarta-feira, segundo a página deste teatro na Internet. Uma atitude de “resistência, coragem e superação” fez com que 12 mulheres sem formação musical nem de dança construíssem um caminho individual e coletivo, na peça que começou a ser concebida por Mónica Calle, em 2013, quando a encenadora conheceu a bailarina e coreógrafa Luna Andermatt, fundadora da Companhia Nacional de Bailado, e teve consciência do envelhecimento do corpo, como explicou a encenadora à Lusa, antes da estreia do espetáculo, em março de 2017. “Depois de ter feito ‘Os sete pecados mortais’, de [Bertolt] Brecht, e quando já estávamos a mudar as instalações da Casa Conveniente para a Zona J, extrapolámos o caminho daquelas duas irmãs [da peça de Brecht] para uma cartografia mais ampliada. Mas, em 2015, decidi que o caminho não era aquele e então comecei à procura de ensaios de maestros de orquestra e foi assim que, em 2015 e 2016, comecei a trabalhar sobre a dança”, explicou, na altura, Mónica Calle. Em 2016, as 12 atrizes que integram a peça, que já foi representada em vários países, começaram “a ir mais longe e a tentar tocar, a tentar aprender a tocar, dando início ao espetáculo estreado no D. Maria II. Sem qualquer fala, “Ensaio para uma cartografia” é um trabalho do qual a diretora da Casa Conveniente expoliou tudo que fosse acessório ou que pudesse constituir ruído, reduzindo-o ao essencial. Foi também por isso que optou que a pela fosse representada em nu. “Porque qualquer roupa que existisse dava origem a que se fizesse uma construção”, frisou, na mesma altura. Através da coragem e da superação, as atrizes que interpretam a peça conseguem tocar acordes simples nos violinos e violoncelos e dançar em pontas “Bolero” de Ravel – numa redução do que Maurice Béjart fez para Maya Plisetskaya. Além da música, os únicos sons audíveis neste espetáculo são vozes de maestros que vão dando conselhos a músicos durante ensaios de orquestra. Interpretaram a peça Ana Água, Carolina Varela, Cleo Tavares, Inês Vaz, Joana de Verona, Marta Félix, Miú Lapin, Mónica Calle, Mónica Garnel, Sílvia Barbeiro, Sofia Dinger e Sofia Vitória. Por seu turno, “Coleção de amantes” é um projeto de Raquel André sobre a intimidade e o efémero, sobre como se guarda um momento com alguém, referiu a criadora à Lusa, em outubro de 2017, antes da estreia do espetáculo. Produzido pelos criadores em parceria com o Festival Temps d’Images, o espetáculo é o primeiro de uma série de projetos de Raquel André intitulado “Coleção de pessoas”. “Coleção de artistas”, “Coleção de colecionadores” e “Coleção de espetadores” são os outros espetáculos da série. Para a construção do espetáculo, Raquel André marcou encontros com desconhecidos, foi a casa deles, ficcionou momentos que comprovassem uma intimidade, e fotografou-os. Em outubro de 2017, a criadora contava com cerca de seis mil fotografias com 137 pessoas diferentes, de diferentes idades, em diferentes cidades – entre as quais Lisboa, Rio de janeiro, Manaus, Ponta Delgada ou Paredes de Coura – tendo criado narrativas a partir desses encontros. As fotografias retratam momentos encenados a partir das propostas que as pessoas lhe fizeram a propósito do que representava a intimidade para elas. As duas coproduções do D. Maria II em cena naquele teatro de Montpellier sucedem às representações de “Sopro”, um espetáculo de Tiago Rodrigues representado na mesma sala, quarta e sexta-feira últimas. Em Montpellier, Mónica Calle e Raquel André participaram ainda no evento “Qui Vive!”, organizado em colaboração o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, realizado sábado passado.