Pelo 4° ano, Tiago Martins transforma a aldeia dos pais com o projeto «Barrenta, Aldeia Artística !»


Pelo quarto ano consecutivo, Tiago Martins, engenheiro lusodescendente e também autor de livros, que reside em Paris, onde nasceu, transforma a pequena aldeia de Barrenta, no concelho de Porto de Mós, de onde são originários os pais, numa “Aldeia Artística” com obras de arte urbana de quase uma centena de artistas do mundo inteiro.

“Várias obras das edições anteriores ainda são visíveis pelas ruas da aldeia e estou feliz de ver muitas pessoas a vir de propósito para tirar fotografias e publicar nas redes sociais” diz ao LusoJornal.

Barrenta é uma aldeia pequena da freguesia de Alvados-Alcaria. “Deve ter 30 a 40 habitantes” explicou numa entrevista ao LusoJornal, a uns 10 km da sede do concelho, e a 30 km de Leiria. “Já foi maior” diz Tiago Martins. “Nos anos 70 devia ter uns 200 habitantes”, mas entretanto ouve a desertificação do interior e a emigração, essencialmente para França e para a província do Québec, no Canadá.

O Encontro nacional de tocadores de concertina atrai milhares de pessoas à aldeia, todos os anos. É um dos maiores eventos do conselho e com dimensão nacional.

Mas durante o período de confinamento, quando arrumava a casa, Tiago Martins encontrou um sticker que tinha guardado de uma exposição de street-art que tinha visitado em Paris. Lembrou-se de o levar para a aldeia, neste verão, e colá-lo numa parede.

Mas colar um sticker sozinho numa parede, numa aldeia em Portugal, não lhe pareceu uma boa ideia. “Então decidi contactar outros artistas, perguntando-lhes se me davam autocolantes ou posters maiores para levar para a aldeia” diz.

“Eu enviei os pedidos em nome pessoal e pensei que eles nem iam responder. Podiam pensar que se tratava de uma burla qualquer, de alguém que queria ter as obras deles para vender”. Mas a verdade é que funcionou. Não só lhe ofereceram obras, como também o recomendavam a outros artistas. “Fiquei admirado porque recebi muitas respostas positivas, até fiquei ultrapassado com esta situação” confessou na altura ao LusoJornal.

Quando desembarcou de férias, levou obras de 50 artistas e passou três dias a colar tudo nos muros da aldeia, com a ajuda da namorada. “Pouco a pouco, quando comecei a instalar as obras, as pessoas ficaram a gostar daquilo que eu lá colocava. Vieram ter comigo a dizer que gostavam, até me vieram sugerir paredes”.

Quando regressou a Paris teve nova surpresa. Tinha mais dezenas de obras no correio, de mais países. Com Tiago Martins, as coisas são radicais: meteu mãos à obra e regressou à aldeia para instalar mais obras, transformando a Barrenta numa “Aldeia Artística”.

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Estátua do Velho da Morada

Este ano, no âmbito do vigésimo aniversário da inauguração da estátua do Velho da Morada, decidiu centrar as atenções neste monumento.

“Era importante par mim homenagear esta estátua. A instalação desta estátua é uma das recordações felizes da minha infância. Lembro-me muito bem de participar nesta instalação com o meu pai, que envolveu a participação e a curiosidade dos Barrenteiros todos e até dos vizinhos. Tinha eu então 13 anos” conta Tiago Martins.

Dia 14 vão ser instalados 8 posters, em vinil, formato 50×100 cm, alusivas ao monumento e à lenda associada, expostos em frente da estátua, com acesso livre à beira da estrada. “São interpretações livres da estátua e da lenda, por oito artistas diferentes. Indo da pixel arte (imitando os antigos videojogos) à arte minimalista, realista ou mais poética. Os artistas são de vários países, do Canadá, da Geórgia, da Itália e outros” explica o lusodescendente ao LusoJornal. “Uma das interpretações inclui cravos, em referência aos cinquenta anos da Revolução de Abril”.

Tiago Martins também realizou postais ilustrados que vai distribuir pelas caixas de correio de toda a população da Barrenta. “Vou também deixar algumas gratuitamente no café da aldeia, e outros lugares turísticos do município, se aceitarem” considera.

Tiago Martins trabalha na área do petróleo e do gás. Já trabalhou nas plataformas de petróleo, nos complexos de gás, já viveu no estrangeiro, na Ásia, mais propriamente na Indonésia, em Singapura e na Índia. É um homem viajado, mas nota-se a sua ligação emocional à terra dos pais. Prova que a dupla cultura não é um conceito teórico, mas sim uma realidade para milhares de lusodescendentes.

Recentemente editou na editora Cadamoste dois livros: um livro de receitas portuguesas e um livro infantil (que pretende ser uma coleção) para aprendizagem de português.

LusoJornal