Portugal reconhece esta noite o Estado da Palestina


Portugal reconhece o Estado da Palestina este domingo, na véspera da conferência de alto nível sobre a solução dos dois Estados. “O Ministério dos Negócios Estrangeiros confirma que Portugal vai reconhecer o Estado da Palestina, como o Ministro Paulo Rangel já havia antecipado esta semana”, indicou, num comunicado.

Este reconhecimento aconteceu este domingo.

Assim, a “Declaração Oficial de Reconhecimento terá lugar ainda antes da Conferência de Alto Nível da próxima semana”, organizada pela França e Arábia Saudita na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.

O anúncio do Governo português surgiu momentos depois de uma comunicação da Presidência francesa, segundo a qual dez países vão proceder a este reconhecimento na segunda-feira, no âmbito da conferência dos dois Estados.

Além de França, que está por detrás da iniciativa, e de Portugal, os outros Estados “são Andorra, Austrália, Bélgica, Canadá, Luxemburgo, Malta, Reino Unido e São Marino”, acrescentou um Conselheiro do Presidente Emmanuel Macron.

O Governo português tinha anunciado que iria ouvir o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e os partidos com assento parlamentar sobre a possibilidade de Lisboa reconhecer o Estado palestiniano.

Na semana passada, Paulo Rangel indicou que não tinha identificado obstáculos a este passo, após as audições, remetendo novidades para esta semana.

A conferência dos dois Estados antecede a semana de alto nível da Assembleia-Geral das Nações Unidas, que começa na terça-feira.

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Diplomacia de Israel “extremamente desapontada” com reconhecimento português

A vice-Ministra dos Negócios Estrangeiros israelita afirmou hoje que Telavive está “extremamente desapontada” com Portugal e outros países que se preparam para reconhecer o Estado Palestiniano, criticando “iniciativas unilaterais” que afastam as partes de um compromisso.

Em entrevista à Lusa, Sharren Haskel lamenta que o reconhecimento do Estado Palestiniano, já anunciado por Reino Unido, Canadá e Austrália, a que se junta hoje Portugal, “na realidade, não vai mudar muito” nas atuais frentes de crise, dominadas pela guerra na Faixa de Gaza e nos territórios ocupados na Palestina. “Para se resolver um conflito são necessários dois lados e, quando se dão passos unilaterais, isso só leva o outro lado a também dar passos unilaterais e afasta qualquer opção de compromisso de ambas as partes”, comentou.

A número dois da diplomacia israelita evitou alongar-se sobre os contactos com o Governo português nos últimos dias, referindo apenas que “tudo foi dito formalmente, nos canais adequados” sobre o reconhecimento da Palestina. “Estamos extremamente desapontados com os países e líderes que optam por reconhecer o Estado palestiniano, porque, na verdade, isso recompensa o Hamas e recompensa o terrorismo. Penso que não o teriam feito em nenhum outro caso no mundo”, condenou, aludindo ao grupo islamita palestiniano, em guerra com Israel desde os ataques de 07 outubro de 2023 em solo israelita, que fizeram cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.

Sharren Haskel observou que “o Hamas está a celebrar” as atuais iniciativas diplomáticas de reconhecimento da Palestina – que incluem ainda França, Bélgica, Malta, Luxemburgo, Andorra e São Marino -, “porque sabem que estão a ser recompensados pelo pior massacre de judeus desde o Holocausto”.

A vice-Ministra dos Negócios Estrangeiros afastou porém retaliações diplomáticas contra Portugal, salientando “as boas relações” com um país que continua a ser visto como “um aliado” de Telavive. “Temos uma grande cooperação em bastantes domínios. Muitos israelitas escolhem Portugal não só como destino turístico, mas também, nalguns casos, como residência e há uma grande comunidade israelita que está a prosperar. Existe, portanto, uma relação e uma ligação muito estreita e esperamos e contamos obviamente que estas relações continuem”, manifestou.

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Relações com a França são tensas

Segundo a vice-chefe da diplomacia israelita, a iniciativa de uma dezena de países ocidentais em relação à Palestina tem origem no Presidente francês, Emmanuel Macron, que “tem liderado estes esforços contra Israel e em apoio ao Hamas”, o que merece “uma forte resposta” de Telavive. “As relações entre Israel e França estão tensas devido às escolhas de Macron, que encorajou e fortaleceu o Hamas em tempos de guerra”, apontou, a propósito dos pronunciamentos do líder francês sobre a guerra na Faixa de Gaza e a crise israelo-palestiniana.

Por outro lado, relacionou as decisões agora tomadas por vários países sobre a Palestina com “pressões internas”, como disse ser o caso do Reino Unido, apesar do seu papel histórico na região. “É importante compreender que muitos destes reconhecimentos, incluindo o Reino Unido, o Canadá e a Austrália, não têm a ver com política externa ou internacional”, segundo Sharren Heskel, mas com “uma grande imigração do Médio Oriente” nestes países, que acabam por promover “muito racismo e muito ódio contra Israel e contra a comunidade judaica”.

A governante cita a “explosão de antissemitismo crescente” naqueles Estados, com raízes na imigração do Médio Oriente e suas aprendizagens anteriores nas escolas dos países de origem, “demonizando os judeus e Israel”, adicionando também o exemplo de “mais de 200 deputados britânicos eleitos com uma margem muito pequena, que dependem largamente dessas comunidades”.

As declarações de reconhecimento do Estado Palestiniano têm levantado receios sobre eventuais retaliações sobre os territórios ocupados por Israel, havendo planos já anunciados de expansão de colonatos e a proposta da ala radical do Governo israelita de anexação da Cisjordânia, o que é considerado “uma linha vermelha” para várias diplomacias ocidentais, incluindo Paris.