Portugueses pedem ensino de português na Córsega

Os Portugueses residentes na Córsega pediram ao Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, aulas de português na ilha. Desde 2013 que o Estado português não tem qualquer professor na Córsega e os filhos dos cerca de 15.000 Portugueses ali residentes não têm qualquer possibilidade académica para aprender a língua dos pais.

José Luís Carneiro fez a sua primeira visita à ilha da Córsega esta segunda-feira onde dialogou com membros da Comunidade portuguesa, com dirigentes do movimento associativo português e com responsáveis políticos locais e regionais.

No domingo à noite, quando chegou à ilha – o voo chegou mais tarde com horários perturbados pela greve na Air France – visitou a associação Convívio Português de Ajaccio, e jantou depois com elementos da Comunidade portuguesa.

José Luís Carneiro foi o terceiro Secretário de Estado português a visitar a ilha, depois de Correia de Jesus, no fim dos anos 80, e de António Braga, em 2005, quando foi inaugurar o Vice Consulado de Portugal em Ajaccio (que entretanto encerrou). Desde então, mais nenhum membro do Governo português foi à Córsega.

«Não recebemos nenhum reparo sobre o funcionamento dos serviços consulares» disse o Secretário de Estado ao LusoJornal. Desde que o Governo nomeou uma Cônsul Honorária para a ilha, com serviços alargados, o Consulado Geral de Portugal em Marseille colocou lá um funcionário. «Com o funcionário que temos lá e com algumas Permanências consulares, houve um aumento do número de atos consulares. Passamos de 5.000 atos consulares por ano, quando tínhamos aqui um Vice-Consulado, para 7.500 atos consulares agora» confirma José Luís Carneiro.

José Luís Carneiro deslocou-se acompanhado pelo Embaixador de Portugal em França Jorge Torres Pereira e pelo Cônsul Geral de Portugal em Marseille, Pedro Marinho da Costa. Na ilha juntou-se à comitiva, a Cônsul Honorária de Portugal.

«O assunto mais importante que me foi levantado é efetivamente o do ensino da língua portuguesa» confirmou ao LusoJornal o membro do Governo português. A ilha teve, durante muito tempo, professores de português colocados pelo Instituto Camões, mas atualmente não há qualquer proposta de ensino de português na Córsega, apesar de aí residirem milhares de Portugueses.

O ensino da língua portuguesa no Primário compete ao Governo português, mas como não há qualquer curso, também o Governo francês não ensina a língua de Camões no nível Secundário.

«Há necessidade de estruturar uma resposta e estivemos a ver duas possibilidades. Uma delas é a possibilidade da associação apresentar um projeto ao Instituto Camões, recorrendo a professores que moram na ilha. Há quem tenha essa competência».

«Efetivamente, uma professora apresentou-se ao Senhor Secretário de Estado. Nós nem a conhecíamos» confirmou Anísio Gomes da associação Convívio Português de Ajaccio.

A possibilidade de colocação de um professor de português da rede do Instituto Camões é a outra hipótesa, mas é mais complicado, porque seria necessário negociar a abertura de cursos de português em várias escolas. No entanto, o Secretário de Estado disse que «no diálogo que tive com as autoridades francesas, senti que havia esta possibilidade de abertura de cursos de português não apenas nas escolas primárias, mas também no ensino secundário».

O Secretário de Estado começou o dia com um encontro com o Presidente do Conselho Executivo da Córsega, Gilles Simeoni, seguindo-se um encontro com o Presidente da Assembleia da Córsega, Jean-Guy Talamoni, outro com o Maire de Ajaccio, Laurent Marcangeli e finalmente com o Prefeito da Córsega, Bernard Schemltz.

Em todos estes encontros José Luís Carneiro diz que «os Portugueses beneficiam de muita consideração. São muito voltados para o trabalho, essencialmente da construção civil, mas a emigração mais recente abrange outras áreas como a restauração e a hotelaria»

«A associação quer construir uma sede de raíz e formulámos o pedido ao Maire de Ajaccio, que se mostrou disponível para reunir com os dirigentes da associação nas próximas semanas, para estudarem juntos esta possibilidade» garantiu José Luís Carneiro.

A sede da associação está situada junto a uma estrada com muito trânsito «e nós temos medo que voltem a acontecer acidentes graves» disse ao LusoJornal Anísio Gomes da associação Convívio Português de Ajaccio. Em frente da associação já houve um acidente mortal. A vítima era uma professora Corsa que frequentava muito a associação portuguesa e que acabou por ser atropelada quando saía das inslações associativas. Mais recentemente, três jovens da associação foram também atropeladas, desta vez sem gravidade.

«Por outro lado, esta zona da cidade está cada vez mais comercial e o proprietário já nos aumentou a renda e qualquer dia acaba com o contrato de arrendamento», argumenta Anísio Gomes. «Gostámos das palavras que nos disse o Maire de Ajaccio. Nós só queremos que a Mairie nos ceda o terreno, porque a associação tem algum dinheiro em caixa e os muros vão ser construídos por nós».

Os dirigentes associativos procuram um terreno numa zona mais resguardada, de preferência longe das zonas habitacionais para não terem problemas com o barulho, e com possibilidade de parqueamento. Atualmente tem uma sala polivalente, com um bar, uma sala mais resguardada para atividades e um pequeno parque em frente da sede porque se trata de uma associação familiar.

«Gostámos muito do Senhor Secretário de Estado. É uma pessoa aberta, com muita disponibilidade e muito sentido de escuta. Agora vamos lá ver os resultados» diz Anísio Gomes que é empresário na ilha. «Mas gostei muito. Deixou uma boa impressão».

Nesta visita José Luís Carneiro apenas esteve em Ajaccio e no jantar que teve com a Comunidade portuguesa, estava também um representante da Associação portuguesa de Propriano, mas não se encontrou com elementos das duas outras associações portuguesas da ilha: Porto Vecchio e Corte.

A Comunidade portuguesa está espalhada pela ilha, mas com maior densidade em Ajaccio, Porto Vecchio e Bastia. «Em geral é gente do norte, entre Porto e Minho, embora também tivesse encontrado um Algarvia» confirmou o Secretário de Estado.

 

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LusoJornal