Presidenciais’26: António José Seguro diz que veio a Paris falar com os Portugueses, olhos nos olhos

O candidato a Presidente da República António José Seguro veio a Paris este fim de semana para falar da sua candidatura, para encontrar portugueses e ouvir os problemas que mais os afetam.

Logo que chegou à capital francesa almoçou com Conselheiros das Comunidades, encontrou jovens da associação Cap Magellan, visitou a Associação Os Alegres do Norte, em Ivry-sur-Seine, foi a um jogo de futebol dos Lusitanos de Saint-Maur e jantou na Associação ACOP, também em Ivry-sur-Seine.

No domingo depôs uma coroa de flores junto ao busto de Camões, foi à missa na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Paris, almoçou com empresários, professores e artistas em Créteil, visitou o Hospital Henri Mondor e acabou com um convívio com a Associação Le Plateau, junto ao Monumento du Plateau, em Champigny-sur-Marne.

Logo que se instalou no hotel, deu uma entrevista ao LusoJornal.
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Eu costumo começar estas entrevistas com a situação de um eleitor que mora na Guadeloupe. Se ele quiser votar por si, ele vai ter que apanhar um avião e vir votar a Paris, porque nem pode ir votar a Portugal. É claro que ele não vai votar por si, nem por nenhum outro candidato. Acha que isto é democracia? Acha que esta situação é aceitável?

Penso que não. Nós precisamos de incentivar a participação e não de impedir a participação. E aquilo que se faz é impedir a participação. Aliás, os resultados da participação estão muito claros. Quando nós olhamos a participação nas eleições legislativas, temos cada vez mais portugueses que residem fora a votar. E quando nós temos eleições para Presidente da República, há uma diminuição dessa participação. Nós temos que encontrar um critério único que facilite a participação.

Defende a uniformização das metodologias de voto?

Sim, um critério único. A Administração eleitoral é que tem que encontrar essa solução na base dos seguintes critérios: o primeiro critério, que é claro, é fomentar a participação dos portugueses que vivem fora, e o segundo critério, que é também muito importante, é garantir segurança de que o voto é respeitado. Muitas vezes fala-se no sistema eletrónico de votação e que esse era aquilo que facilitava muito mais. Mas temos que ter toda a confiança no sistema. Como se sabe, em Portugal as pessoas votam presencialmente, e votam num papel, não votam num sistema eletrónico. Portanto, temos que fazer uma evolução, mas a situação como está, e como refere, não é uma situação agradável. Pelo contrário, ela dificulta a participação dos portugueses que residem fora.

A sua opinião sobre o voto eletrónico é negativa?

Não. O que eu defendo é que deve haver um estímulo à participação e que se deve uniformizar. Agora, eu não sei se é através do sistema como nas legislativas, ou seja, enviando carta para casa, ou se, pelo contrário, é através de um sistema eletrónico. Portanto, o que eu digo é que tem que haver confiança. Agora, há confiança para as eleições legislativas: as pessoas recebem o voto em casa, votam, enviam pelo correio, e não precisam de se deslocar. Não é só o nosso compatriota que vive em Guadalupe. Também aqui, mesmo em território francês continental, há situações em que as pessoas precisam de fazer 400, 500 quilómetros para se deslocar e votar.

Não sabemos quais são as soluções…

Não, não me quero comprometer. O meu compromisso é que tem que se aumentar a participação e tem que haver o mesmo sistema. Se é o do envio da carta para casa, ótimo, está resolvido. Mas tenho ouvido falar também no voto eletrónico, que esse ainda facilita mais. Portanto, é a Administração eleitoral a dizer se é uma coisa ou outra. Agora, o princípio, e a minha resposta à sua pergunta, é muito clara: se não houver melhor, que se faça como se aplica nas legislativas.

O número de portugueses recenseados no estrangeiro passou de 300 mil, para mais de 1,5 milhões de eleitores. Se antes tínhamos 4 Deputados, agora continuamos a ter quatro. Acha que esta representatividade está ajustada para quem mora fora?

O princípio que tem existido é um princípio de representação simbólica. Foi essa a decisão que foi tomada quando se criou a Constituição. Portanto, no fundo há um princípio universal, que as pessoas votam onde pagam os seus impostos, onde vivem, onde contribuem, e onde os Governos tomam decisões que as afetam diretamente. Essa é uma matéria de revisão constitucional, é uma matéria que depende do Parlamento, o Presidente não se deve meter nisso.

Mas o Presidente pode dizer se há discriminação ou não porque deve defender a união do país.

Mas a discriminação vem dos portugueses que pagam impostos em Portugal?

Não, é porque não temos a mesma representação. É porque o meu voto não é igual ao seu, não pesa tanto como ao seu.

Porque não vive em Portugal, não trabalha lá.

Eu percebo que o Presidente da República não tem missão executiva, mas há de haver um momento em que o Presidente da República diz, há aqui um problema, é necessário resolvê-lo. E com a sua influência, fazer com que se resolva. Isto está nas suas prioridades ou não?

Muitas das matérias que referiu são matérias do Parlamento, ou são matérias do Governo. O que me diz respeito a mim, como candidato a Presidente da República é garantir que somos um único povo, independentemente do local onde as pessoas trabalham e onde as pessoas vivem. Essa, para mim, é a grande preocupação. E isso traz muitas vantagens porque os imigrantes sentem-se, naturalmente, portugueses. São portugueses como eu, como o senhor que me está a fazer esta entrevista. Portanto, com as Comunidades de portugueses e de lusodescendentes, devemos caminhar para sermos um todo. Evidentemente, com as especificidades que existem. Portanto, o meu papel como Presidente da República é, na palavra, no discurso, mas também na ação, contribuir para que haja uma maior coesão entre os de dentro e os de fora.

E como é que isso se faz?

Por exemplo, em termos empresariais, nós, se tivermos uma rede de bons contactos entre os que estão dentro e os que estão fora, potenciamos muito a nossa economia. E também potenciamos o investimento de cada empresário, seja ele em França, seja ele em Lisboa, ou no Porto, ou noutro sítio qualquer. Portanto, esta relação com a diáspora, para mim, não é uma relação como existia há 20, ou 30, ou 40 anos. É um mundo completamente novo. E cada português onde está é, se quiser, um ativo, é um porta-voz, é um embaixador. E isso traduz-se em bens económicos, criação de riqueza, melhores salários, melhores pensões. E isso traduz-se também na afirmação da nossa língua portuguesa e na afirmação da cultura, a mais tradicional, e a outra mais nova. E faz-nos sentir mais pertença do mesmo povo. E eu quero fazer isso.

É por isso que eu terei sempre um assessor dedicado às questões das Comunidades portuguesas, dos lusodescendentes, para que haja um canal direto entre o Palácio de Belém e os portugueses que vivem fora. Porque é muito importante ouvir, é muito importante escutar, e é muito importante as pessoas saberem que, quando há um problema, há um canal aberto junto da Presidência da República.

Os mais jovens o que é que querem? Querem que Portugal tenha uma economia mais competitiva. Ora, o Presidente pode estimular isso. Os menos jovens, aqueles das gerações de 60 e 70, o que é que eles querem? Um Estado que funcione. Porque vão a Portugal, querem às vezes tratar de uma burocracia da casa, de um imóvel, naqueles 20 ou 30 dias que passam em Portugal, e não conseguem tratar. E mesmo os que querem regressar, têm o famoso problema da questão da dupla tributação, que precisa de ser resolvido e precisa de ser esclarecido. E agora começa também a surgir um problema relacionado com os cuidados de saúde, as pessoas têm ouvido notícias que em Portugal os cuidados de saúde estão a retroceder, que o acesso à saúde não é aquilo que eles desejam e têm essas preocupações. Então, querem que um Estado funcione, que possam, digamos, viver os últimos anos da sua vida na terra que eles tiveram que deixar por necessidade.

Um dos assuntos que evocou agora é a língua. Ora, Portugal também falha, porque está na Constituição que Portugal deve ensinar o português aos filhos dos portugueses que moram fora, isso não acontece.

Nós temos duas formas de ajudar a combater essa discriminação. Uma é através dos Estados e através dos acordos bilaterais. Onde isso for possível, temos de ter o português lecionada e onde as pessoas podem escolher aprender essa língua. Isso não traz só vantagens para os portugueses que querem aprender português, ou os lusodescendentes, mas também traz vantagens para aqueles que, não sendo portugueses, querem aprender a nossa língua. A nossa é uma das línguas mais faladas no mundo e isso é um ativo e uma afirmação, inclusive, da nossa portugalidade.

A outra é o ensino fora do sistema normal. Isto é, a possibilidade de termos professores contratados que possam ensinar português ou através de associações que se criam ou através de escolas que disponibilizam esse espaço. Portanto, há diferentes formas, mas o objetivo é o mesmo. É que, de facto, quem queira aprender o português tenha a oportunidade de o fazer.

Quando me perguntam medidas concretas, naturalmente isso tem que ser o Parlamento a fazer. Mas há coisas que eu não abdicarei. As questões da língua portuguesa. O Presidente tem um papel aqui muito importante de impulsionar nos seus contactos internacionais, de falar com outros Presidentes, de os estimular e dizer que a língua portuguesa é muito importante, na dinamização da própria CPLP, para que a afirmação da língua portuguesa não seja apenas uma preocupação dos portugueses, mas possa também ser uma preocupação designadamente dos brasileiros, que são muitos milhões de pessoas e isso é muito importante que o português esteja, por exemplo, para as pessoas poderem aprender como língua oficial. Se for só Portugal a dizer nós queremos que o português seja uma língua oficial, tem um peso, se for Portugal e o Brasil, tem outro peso completamente diferente.

O que vai dizer o seu manifesto?

Esta ideia, este desígnio de um só povo, uma só nação, independentemente do local onde residem, é para mim crucial. Segundo, não há só uma natureza de fluxos migratórios. Há várias, porque cada geração procurou fórmulas diferentes e mesmo as primeiras gerações que vieram para a França, tiveram uma mudança brutal. Houve pessoas que vieram a salto. Eu sou beirão e, portanto, recordo-me muito bem das histórias que os meus pais me contavam e de pessoas que me explicavam como é que passavam a fronteira. Passaram as passas do Algarve, como se diz. Comeram o pão que o diabo amassou. Passaram muitas dificuldades. E hoje são empresários fantásticos aqui em França e dão emprego e criam riqueza. Isso é um orgulho fantástico. E agora estes jovens que não encontram em Portugal as oportunidades para aplicar a sua inteligência, a sua competência e outros que, em termos de mobilidade, estão espalhados pela Europa toda a trabalhar em grandes empresas. Portanto, nós não temos só uma imigração de uma determinada natureza.

Como é que nós vamos casar estes movimentos todos, de modo a que as pessoas se sintam portuguesas quando estão fora de Portugal, junto do Estado e junto dos poderes públicos e como é que nós, país, ganhamos em trabalhar todos juntos? Isto, para mim, é um desígnio a partir do qual se vão concretizar todas as ações que devem existir.

Nas definições constitucionais, o Presidente é um garante da unidade nacional. E, portanto, eu olho para a unidade nacional e para aquilo que é o meu papel, se vier a ter a confiança dos portugueses, não apenas ser circunscrito ao território nacional, por isso é que eu digo e reafirmo, onde há um português está Portugal. Portanto, essa unidade que eu quero, este um só povo, uma só nação, é um desígnio que eu trago para esta candidatura.

O Presidente não governa, mas eu vou reunir todas as quintas-feiras com o Primeiro-Ministro. E, portanto, se eu tiver um assessor dedicado às questões dos lusodescendentes e dos portugueses que vivem fora de Portugal, naturalmente, isso é para eu agir, e para eu perguntar, e para eu sugerir, e para eu resolver. Portanto, esta ideia de que os portugueses, muitos deles sentem que foram abandonados pelo seu próprio país, isto tem de ser revertido. Não é uma coisa de um dia para o outro, mas tem de ser revertido.

Na verdade, estas questões de emigração não são faladas em Portugal. Não digo que estão contra os emigrantes, mas não se fala, deixa-se andar…

Eu compreendo o que me está a dizer, compreendo a realidade. Mas se aplicar isso a problemas que o país tem, também é um deixar andar. Nós neste momento estamos a viver um problema gravíssimo na área da saúde. Mesmo gravíssimo. Ontem já era tarde para resolver este problema. Porque se fala, fala, fala e depois não há ação. Eu não estou a culpar o Governo A ou o Governo B, é uma responsabilidade do país. Parece que há aqui um certo encolher de ombros. Porque os problemas têm de resolver mais cedo ou mais tarde.

Nós temos que agir. Temos que tomar decisões. Eu serei um Presidente muito exigente. Quer junto do Governo – este ou outro que esteja – quer junto dos atores políticos. A política ou serve para resolver problemas das pessoas ou não serve para nada.

O que espera levar desta visita às Comunidades?

Em primeiro lugar, as reivindicações e as necessidades das pessoas. Uma coisa é ter uma folhinha a dizer olha, há aqui um problema dos impostos, há aqui um problema da representação… Quero ouvir as pessoas, conversar com elas. Ontem, por exemplo, estive em Genebra, onde estavam 2 mil pessoas numa festa de afirmação da Portugalidade. Eu gosto de falar e de ouvir. Gosto muito de ouvir e perceber, não é o que se diz, é a maneira como se diz, olhar olhos nos olhos das pessoas e perceber verdadeiramente a intensidade quando as pessoas se sentem que não estão a ser tratadas como devem ser ou que podiam ajudar mais o país.

Ontem houve uma coisa que me emocionou imenso. Uma rádio que envia camiões TIR com equipamentos hospitalares e que oferece gratuitamente a instituições e hospitais em Portugal. Isto é uma coisa fabulosa. É de um orgulho imenso. Disso, as televisões em Portugal, não falam. Muitas das vezes, nós podemos criar uma nova cultura e um novo orgulho partilhado entre os portugueses de dentro e os portugueses de fora, que não passe necessariamente por uma medida do Parlamento. Passa por um Presidente que compreenda. Por um Presidente que esteja presente. Por um Presidente que inspire.

Se calhar nem devia contar isto nesta entrevista, mas uma pessoa disse-me: ‘mas porque vai estar uma semana fora quando é preciso andar aqui a fazer campanha? Os votos estão aqui, as pessoas na imigração votam pouco’. Eu disse-lhe, não, eu quero estar junto das pessoas onde há portugueses, quero ouvir, quero perceber o que está a acontecer e não apenas só a questão das coisas que me chegam por memorandos ou que me chegam por folha Excel. Eu gosto muito de estar junto das pessoas, de as ouvir.

É isso que eu espero também encontrar neste dia e meio em que estou aqui em Paris.

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Na foto: António José Seguro com António Oliveira e Emília Ribeiro