Primeira Jornada Luso-Francesa de Indústrias de Defesa termina esta tarde em Paris


A primeira edição da Jornada luso-francesa de indústrias de defesa começou ontem e termina esta tarde, na Embaixada de Portugal em Paris, com a participação de todas as associações industriais do sector e mais de 50 empresas, francesas e portuguesas.

A jornada é organizada por uma parceria bilateral entre Portugal e França, integrando a Embaixada de Portugal em Paris, a Direção-Geral de Política de Defesa Nacional, a Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional, o Estado-Maior-General das Forças Armadas, a Aicep Portugal Global, a idD Portugal Defence e a AED Cluster Portugal, do lado português, e a Direction Générale de l’Armament (DGA), o Groupement des Industries Françaises Aéronautiques et Spatiales (GIFAS), o Groupement des Industries de Construction et Activités Navales (GICAN) e o Groupement des Industries Françaises de Défense et de Sécurité Terrestres et Aéroterrestres (GICAT), do lado francês.

Grande parte dos participantes são pequenas e médias empresas, estando também presentes grandes empresas francesas como a Airbus, Exail, KNDS, MBDA, Naval Group, Safran e Thales, bem como as portuguesas CEiiA, Critical Software, Edisoft/Thales Portugal, EID, Sonae e Tekever, entre muitas outras.

Esta manhã, o Embaixador de Portugal em Paris, José Augusto Duarte, abriu a sessão, estando na sala a Cônsul-Geral de Portugal em Paris, Mónica Lisboa. Para além de uma intervenção de Eduardo Henriques, Diretor da Aicep em Paris, houve a intervenção do Adido de Defesa na Embaixada portuguesa, Comandante Sérgio Pinto, principal organizador do evento.

Sérgio Pinto respondeu às perguntas do LusoJornal.

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Porque foi organizada esta Jornada Franco-Portuguesa das indústrias de defesa dos dois países?

Isto parte de uma reflexão estratégica que nós fizemos em Portugal. O novo contexto geopolítico que a Europa está a enfrentar, com uma muito maior conflitualidade, leva a que a própria Europa tenha de investir mais em defesa, para que as suas Forças armadas sejam capazes de defender o território e a população europeia. Ora, isso só é possível, se houver uma forte indústria de defesa. Não há boas Forças armadas, não há Forças armadas fortes e interoperáveis na Europa, se não houver uma indústria de defesa também forte e integrada, que não seja apenas segmentada e muito fragmentada como hoje é caracterizada a indústria da defesa na Europa. E é com iniciativas destas – que é a primeira de muitas que nós queremos que venham a acontecer – que nós podemos contribuir para a integração das indústrias da defesa na Europa, neste caso entre Portugal e França. Como vimos nesta primeira sessão de apresentações, com cerca de 25 empresas francesas e 25 portuguesas, que não se conheciam – algumas sim, porque já temos muitas empresas francesas a operar em Portugal e também algumas portuguesas a fazer parcerias com França – mas é deste conhecimento mútuo que se podem extrair parcerias, não só para que as nossas empresas integrem mais as cadeias de produção das empresas francesas, mas também para que, em conjunto, possamos criar consórcios e concorrer a fundos da União Europeia, nomeadamente o Fundo Europeu de Defesa, que permite angariar fundos da UE para que as nossas empresas também tenham um maior crescimento.

O que é que as indústrias portuguesas de defesa podem trazer para a indústria francesa, muito maiores e muito mais robustas que as portuguesas?

Poderíamos falar em duas dimensões: na dimensão das pequenas e médias empresas portuguesas, nós temos nichos de mercado, nichos de capacidades tecnológicas, que são muito interessantes para as grandes empresas francesas incorporarem nas suas cadeias de produção. E vimos aqui empresas portuguesas altamente tecnológicas, a uma escala ainda pequena, mas que estão prontas a poder trabalhar com grandes empresas e ajudá-las, porque essas grandes empresas, com o maior investimento na área das indústrias de defesa, também elas próprias não têm capacidade, sozinhas, para dar vazão a tudo o que são os pedidos das suas Forças armadas. Mas depois, temos aqui também umas empresas portuguesas já com uma dimensão maior – para a nossa escala são grandes empresas – que podem entrar no mercado das Forças armadas francesas. As duas próximas sessões, este fim da manhã, são os dois Ministérios da Defesa que vão apresentar quais são os grandes programas de investimento que têm para as suas Forças armadas e as nossas grandes empresas podem concorrer a esses concursos e vir a entrar no mercado francês, que é isso que também tentamos promover aqui.

Este encontro começou ontem, com visitas a duas empresas, esta manhã decorreu esta apresentação rápida das empresas e à tarde é que se vai falar de negócios. É isso?

É isso mesmo. Nós tivemos ontem duas visitas a duas grandes empresas francesas, a Safran, com quem algumas das empresas portuguesas já trabalham, mas há ainda um interesse em entrarmos mais na Safran, e à Exail, que também é uma empresa muito interessante, muito aberta e tem dois diretores, que nos receberam ontem, que são portugueses, e isso também facilita a nossa entrada no mercado francês. Hoje à tarde vamos dedicar-nos a cerca de 250 reuniões B2B – empresas em frente a empresas. Todos estes salões da Embaixada vão-se transformar, vamos ter 31 mesas de reuniões em que, de 15 em 15 minutos, as empresas têm oportunidade de falar. Vamos tentar aqui criar casamentos, casamentos rápidos entre empresas portuguesas e francesas. O objetivo não é que saiam daqui contratos, obviamente, mas que saiam posteriores contactos e há empresas que vão ficar cá nos próximos dias, porque sabem que daqui vão resultar contactos que podem vir a ser mais explorados.

Este evento vai ter ações similares noutras capitais europeias?

Eu estou em Paris, mas também sou Adido de Defesa na Itália e estou a trabalhar já com o Diretor da Aicep em Milão, com o Embaixador de Portugal em Roma, com a Associação de indústrias de defesa italianas, com quem já temos uma proximidade grande, e temos vindo a trabalhar para que, no próximo ano, nos dias 2 e 3 de julho de 2025, fazermos o mesmo evento de hoje, mas em Roma, que é uma indústria também muito interessante, com grandes empresas, e nós também vamos tentar penetrar nesse mercado. Outros camaradas meus, Adidos de Defesa noutros países também estão a promover idênticas iniciativas, por exemplo na Turquia e há também oportunidades de fazermos isto com a Alemanha. Por outro lado, eu também sou Adido de Defesa nos Países Baixos, onde vamos ter, daqui a duas semanas, uma missão empresarial, neste caso, uma grande empresa neerlandesa, a Damen Group, que é empresa que vai fornecer o navio multipropósito da Marinha portuguesa, mais conhecido por porta-drones. Este tipo de aquisições a outras empresas da União Europeia, leva a que, depois, também se criem oportunidades das empresas portuguesas cooperarem com essas grandes empresas, em que o nosso cluster naval, que é um cluster muito interessante, com cerca de 20 ou mais empresas que atuam na área dos sistemas marítimos, possam também cooperar com a Damen e serem fornecedores desse grande estaleiro neerlandês.

E no que se refere a França, qual vai ser o próximo passo?

O próximo passo, nós queremos que venha a ser já a Salão Euronaval, onde nós vamos estar presentes com um pavilhão de Portugal e onde se consiga identificar que há ali uma identidade de Portugal. As pessoas que estão aqui nesta reunião, já estão a trabalhar com o Gican, que é o grupo das indústrias francesas na área naval, que organiza essa grande exposição de 2 em 2 anos e que vai ter lugar de 4 a 7 novembro. Logo a seguir, vamos continuar esta ligação com as entidades francesas porque no próximo ano há dois eventos que queremos organizar: os AED Days – a AED Cluster Portugal é a Associação das indústrias aerospaciais e de defesa. É um evento anual onde vamos convidar os franceses, como já o fizemos este ano, por via desta ligação. E depois teremos logo a seguir, um grande evento mundial que se realiza aqui em Paris, que é o Salão do Bourget, onde temos vindo a ter sempre uma participação muito expressiva de Portugal e das empresas portuguesas e esperamos dar continuidade a esta cooperação.

LusoJornal