Próximo filme de José Vieira fala de baldios, migrações e fronteiras

Os baldios em Portugal, concretamente no interior do país, são tema do novo filme de José Vieira, a estrear em 2020, revelou o realizador radicado em França.

Os baldios andam a ser trabalhados “há alguns anos” pelo realizador, “já com muitas horas” de filmagens e “muito trabalho feito”, mas “só agora é que chegou o financiamento do lado português, porque de França já havia”, revelou José Vieira à Lusa. O realizador desejava ter apresentado o filme ainda este ano, mas, agora, “já será possível em 2020”.

Com todo um historial cinematográfico dedicado à emigração, José Vieira não esconde que, todos os seus filmes têm a emigração presente, como este em que está a trabalhar.

Este novo projeto, porém, “é mais dedicado aos baldios, que o Estado ocupou nos anos 1940, deixando os mais pobres na miséria, sem terra, e obrigando as pessoas a saírem dali, porque não havia meios para viver”.

“Pedi que explicassem o que é um baldio, porque as pessoas em França não sabem o que é um baldio, porque baldio é uma coisa portuguesa. Existiu em toda a Europa, mas desapareceu, mas em Portugal ainda existe”, contou.

Mais do que saber o que é um baldio, a José Vieira, porém, o que “interessa é descobrir através da história das pessoas” a realidade de que ouvia falar em miúdo, em casa, e, para isso, e “sempre com a máquina de filmar na mão”, foi para “a serra gravar as pessoas, estar com elas, gravar as cantigas e as histórias de vida”.

A par deste filme, José Vieira tem em mãos outros projetos, um deles, também já com financiamento, tem em foco a fronteira, os migrantes e a fronteira, neste caso a franco-espanhola, em Hendaye, na atualidade, e as que emergem a partir dessa passagem. “Há muitas pessoas, milhares mesmo, que morrem nas fronteiras, sabemos bem. Também morreram alguns Portugueses na década de 60, mas agora é diferente. Como é que se passa a fronteira geográfica e como é que se passam todas as outras fronteiras? Da língua, da cultura, tantas outras que não são geográficas?”, questionou.

Ainda por terminar está também a história de Adsamo, na Serra do Caramulo, no concelho de Vouzela, distrito de Viseu, onde fez o filme “O Pão que o Diabo Amassou”, estreado em 2012. Agora, “a minha ideia é ver como é que uma aldeia está a desaparecer – e vamos ver se vai desaparecer ou não -, é ver como é que as pessoas vivem numa aldeia assim, como é que as pessoas vivem o dia-a-dia e como é que veem o futuro da aldeia. É um projeto que não está muito concreto, mas continuo a filmar a vida das pessoas e eles falam do que se passa”, revelou o cineasta que há mais de 30 anos filma fenómenos de emigração, porque a emigração portuguesa era uma história desconhecida, e por isso fez do documentário “uma militância”.

 

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LusoJornal