Quatro mulheres de O Sol de Portugal em Bordeaux caminham por Portugal “para dar voz à emigração invisível”

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Quatro mulheres aderentes da associação O Sol de Portugal de Bordeaux e protagonistas do livro “Secrets d’étoffes et d’histoires, paroles d’immigrés” iniciaram esta manhã uma marcha de 180 km entre Águeda e Aveiro, integrando um projeto de divulgação do livro em Portugal e sobretudo para “divulgar estes testemunhos que ficaram demasiado tempo encerrados nas mais profundas das memórias”.

Cidália Duarte, Antónia Estável, Teresa da Cruz e Isabel Pereira Vincent querem “dar voz a esta Comunidade silenciosa”.

A marcha começou esta manhã, pela chuva e vai terminar no dia 5 de novembro, “seguindo a pé, tal como os nossos pais o fizeram quando partiram clandestinamente para França, caminhando vários dias com medo”.

A escolha de Águeda para o início desta caminhada não foi um acaso: “porque é uma cidade que dá cor à vida”. A cidade tornou-se mais conhecida pela instalação artística de guarda-chuvas “Umbrella Sky Project”, lançada em 2011.

A primeira etapa desta caminhada pelos caminhos de Santiago de Compostela é a Mealhada e as quatro mulheres da associação O Sol de Portugal destacam o vinho da Bairrada e o leitão. Mas esta é também a localidade onde vão apresentar o livro depois dos primeiros 26 km de marcha.

E vai ser assim durante as 8 etapas seguintes, passando por Coimbra, Conímbriga, Rabaçal, Ansião, Bofinho, Caxarias, Fátima e Aveiro.

 

Projeto começou em Viana do Castelo

Mas este projeto da associação O Sol de Portugal de Bordeaux para apresentação do livro “Secrets d’étoffes et d’histoire, paroles d’immigrants” começou na semana passada, no dia 24 de outubro, na Escola de Hotelaria de Viana do Castelo, na presença do ator Tiago Martins, do Teatro do Noroeste, que participou nas gravações de alguns dos testemunhos do livro. Estas gravações tiveram lugar no Forte de S. Jorge da Barra, onde está atualmente instalada a sede da Região de Turismo do Alto Minho e a Escola Hoteleira.

Todas as turmas suspenderam as aulas para que os alunos assistissem, neste edifício histórico, à apresentação do livro. Apesar do ceticismo de alguns professores, este encontro entre as quatro mulheres e os alunos foi um autêntico sucesso.

Ainda em Viana do Castelo, o livro foi apresentado no Centro de Dia da ARPVC. “Os seniores adoraram este momento de partilha, alguns falaram-nos da sua própria saudade e da tristeza quando deixaram partir as famílias que passaram a ver apenas uma vez por ano” contam as representes da associação franco-portuguesa. “Claro que falamos das pessoas que partiram, mas também, um pouco, das que ficaram, dos pais, dos avôs. Notámos os brilhos nos olhos e o sorriso por debaixo das máscaras”.

Durante os dois dias que passaram em Viana do Castelo, Cidália Duarte, Antónia Estável, Teresa da Cruz e Isabel Pereira Vincent apresentaram o livro na Escola secundária de Monserrate. Uma das alunas tinha regressado definitivamente a Portugal, com a família, há apenas três meses. “Foi um regresso que ela não escolheu, deixou amigos em França para acompanhar a mãe. Nem sempre é simples, como testemunhou esta jovem de 16 anos que tem de lutar todos os dias para seguir as aulas” já que tem algumas dificuldades a dominar a língua portuguesa. “Ela estava muito contente por ouvir falar francês, pode exprimir as suas dificuldades e quer ultrapassar todas as barreiras, mas confessa que não é fácil”.

As quatro delegadas da associação O Sol de Portugal motivaram-na, pedindo-lhe para não baixar os braços, não se deixar abater e a utilizar as ajudas que tem à sua disposição.

 

Serão emocionante no Porto

No dia 27 de outubro, quinta-feira, a apresentação do livro teve lugar no Porto, na Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, Unicepe. É um espaço criado no dia 19 de novembro de 1963, no seguimento da revolta académica dos estudantes de Coimbra, em 1962.

“Foi uma honra para a associação, ser recebida neste lugar histórico de partilha de ideias” durante um evento intitulado “Memória coletiva de todos os que cruzaram as fronteiras à procura de uma vida melhor”, onde também foram ouvidos cantares ligados à emigração, interpretados por Ana Ribeiro do grupo Ajanorte.

Foi com muita emoção que Cidália Duarte, Antónia Estável e Isabel Pereira Vincent leram textos sobre o exílio. Foi um evento rico em partilha com o público, já que muitos dos presentes evocaram a época em que viam partir muita gente, estudantes opositores ao Regime, desertores, pessoas que fugiam da miséria… Ana Ribeiro ia cantando canções de Zeca Afonso que muito agradaram os presentes.

 

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LusoJornal