Home Cultura Quinteto Indigo estreou em concerto bandas-sonoras para filmes de Jacques TatiLusojornal·18 Outubro, 2020Cultura O quinteto de jazz Indigo, descrito pelos fundadores como “o único no mundo” com a sua constituição instrumental específica, fez ontem, sábado, em Santa Maria da Feira, a estreia em concerto de bandas-sonoras para filmes do realizador francês Jacques Tati (1907-1982). Destinadas a duas curtas-metragens do ator e realizador francês, as obras concebidas pelos músicos portugueses resultam de uma encomenda do gnration, em Braga, e foram apresentadas pela primeira vez em palco, ao vivo, na 43ª edição do FIMUV – Festival Internacional de Música de Paços de Brandão, a decorrer até final de novembro em diversas salas do município da Feira, no distrito de Aveiro. As composições em causa são para o filme “Procura-se Brutamontes” (1934), realizado por Chales Barrois com argumento e interpretação de Jacques Tati, então em início de carreira, e para a curta documental “Força, Bastia” (1978), a última obra de Tati como realizador, só tornada pública em 2002 após edição pela sua filha, Sophie Tatischeff. As músicas criadas para esses filmes foram executadas com recurso à combinação instrumental que distingue os Indigo – violoncelo por Ricardo Januário, guitarra por Tiago Machado, contrabaixo por Jorge Castro, bateria e percussão por Pedro Oliveira, e oboé, corne inglês e duduk por Pedro Teixeira – e, em palco, as peças sairam com “mais liberdade criativa e interpretativa” do que quando sujeitas aos tempos das imagens gravadas em 1934 e 1978. Em entrevista à Lusa antes do concerto, Jorge Castro explica: “É um facto que todos os nossos concertos são diferentes porque damos espaço à improvisação e gostamos de arriscar com os instrumentos, mas neste caso estamos com uma expectativa ainda maior porque será a primeira vez que tocamos estas peças em formato concerto e vamos poder explorá-las com mais liberdade, sem estarmos presos às cenas dos filmes”. À ansiedade normal de um espetáculo juntou-se o “entusiasmo do regresso ao palco” em contexto pandémico, considerando que os Indigo “perderam imensas oportunidades profissionais desde março” e que a concretização dos convites por parte do gnration e do FIMUV reflete agora “o retomar gradual da atividade do setor”. Ainda na perspetiva da crise social e sanitária associada à Covid-19, a produção das novas partituras para os filmes de Jacques Tati foi um desafio diferente: por um lado, impôs “discussões a cinco pela plataforma de videochamadas Zoom” e envolveu “mais ensaios individuais do que seria normal, com cada músico a tocar sozinho em casa mais tempo do que antes”; por outro, obrigou ao visionamento das duas curtas-metragens várias vezes “mas sempre sem som, para ninguém ser influenciado pelas bandas-sonoras originais”. Esse exercício revelou-se criativamente diversificado. “Criámos música para duas peças totalmente antagónicas. Uma com sonoridade de comédia, para a história sobre as enrascadelas em que se mete a personagem de Tati no papel de um ator à procura de um boxeur que possa defrontar perante as câmaras, e outra em tom mais sério, documental, para o filme que regista uma final histórica da Taça das Taças de futebol entre o PSV Eidhoven e o SC Bastia”, diz Jorge Castro. O concerto dos Indigo no FIMUV incluiu, contudo, mais repertório, nomeadamente temas do primeiro álbum do quinteto que, fundado em 2018, reuniu no disco “Indigo Session” o que os respetivos músicos descrevem como “uma abordagem tímbrica e musicalmente desafiante ao universo da música instrumental”. Jorge Castro garantiu “diversidade” na performance do grupo, que é constituído por artistas que se formaram em escolas de referência do meio erudito nacional e hoje têm lugar nas mais internacionais orquestras portuguesas. “A nossa música sempre teve muito de cinematográfica. Evoca imagens, leva a outros cenários, mostra outras facetas destes instrumentos e acreditamos que pode realmente surpreender”, conclui. [pro_ad_display_adzone id=”37509″]