“Réfléchir avec les Wayana”, de Jean Lapointe – A etnografia de um povo brasileiro à beira da extinção

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“Réfléchir avec les Wayana, ethnographie d’un peuple autochtone du Brésil” é a mais recente edição que a L’Harmattan dedica aos povos autóctones brasileiros. Jean Lapointe, antigo professor de antropologia na Universidade de Otava (Canadá) e que estudou na Universidade de Columbia em Nova Iorque (EUA), explora nesta obra o seu tema predileto: o povo Wayana. Durante décadas, utilizou os Wayana para iniciar os estudantes universitários à análise das culturas.

O povo Wayana habita atualmente a região fronteiriça entre o Brasil (rio Paru de Leste, Pará), o Suriname (rios Tapanahoni e Paloemeu) e a Guiana Francesa (alto rio Maroni e seus afluentes Tampok e Marouini), mas este trabalho etnográfico analisa este povo de língua karib tal qual ele era nos anos 60 do século passado, antes do grande avanço colonial das últimas décadas que continua a destruir a Amazónia e os povos que nela vivem.

Este trabalho de Jean Lapointe salienta a capacidade dos Wayana em explorar o seu ambiente e repartir os seus recursos. Graças a tradições e regras de conduta imutáveis, os Wayana estabeleceram uma política de controlo de natalidade capaz de manter a população estável e, consequentemente, exigindo sempre os mesmos recursos. Uma sociedade organizada, embora sem qualquer posição de autoridade ou hierarquia piramidal, cuja ordem social era assegurada pelo respeito da tradição, sendo esta codificada através de histórias orais, reuniões rituais e cerimónias capazes de explicar o mundo terreno, mas também a origem do universo, a presença do mal, do sofrimento e da morte. Todas estas práticas permitiram aos Wayana viver uma vida pacífica e satisfatória.

Os Wayana mantêm uma relação de grande proximidade com o povo Aparai, vivendo as mesmas aldeias e casando-se entre si, sendo muitas vezes referidos como um único grupo, embora apresentem histórias e traços culturais distintos. Como para a maioria dos grupos indígenas da região, a estrutura social dos Wayana caracteriza-se pela ausência de unidades sociais permanentes – clãs, linhagens – e pela sua distribuição em pequenas aldeias dispersas e autónomas (hoje serão 15), de população bastante limitada, mas sempre ligadas por graus de parentesco. No Brasil a população Wayana (e Aparai) não ultrapassará os 500 indivíduos.

Foi a partir da década de 1950 que os “gateiros” (homens que caçavam a onça por causa das peles) e os garimpeiros entraram em contacto com os Wayana na floresta profunda, visando o comércio. Porém, como sempre acontece na América, desde o século XVI, o contacto desses povos isolados e pouco imunizados com indivíduos exteriores à floresta levou a gravíssimas epidemias que reduziu a sua população aos números atuais.

“Réfléchir avec les Wayana, ethnographie d’un peuple autochtone du Brésil” é mais uma obra de grande importância que deixa registado o modo de vida de um povo (e das suas línguas) que tenderá a extinguir-se.

 

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LusoJornal