Representação da peça “Saudade, Ici et là-bas” no Théâtre des Muses no Monaco


Um verdadeiro sucesso, o Théâtre des Muses, no Monaco, foi pequeno para acolher durante quatro dias, de 18 a 21 de abril, com lotações esgotadas, a peça de teatro “Saudade, Ici et là-bas” da autoria da lusodescendente Isabel Ribeiro, encenada por Alexis Desseaux, uma peça de teatro musical sobre o desenraizamento e a transmissão, com cores lusófonas. Acompanhada pelos atores-músicos Dan Inger dos Santos e Simon Quintana, Isabel Ribeiro assume igualmente o seu papel de atriz.

A história desenvolve-se à volta da venda da casa familiar e é a ocasião para dois irmãos abrirem as portas a uma vida de recordações e confidências. É um tempo de Saudade onde o presente e o passado se confundem, ao se abrirem as janelas da casa dos anfitriões.

Os dois irmãos sofrem abertamente ao se aperceberem, de forma diferente, que vão vender uma casa cheia com a história das gerações precedentes. Um sentimento de nostalgia os invade. Um sentimento de nostalgia que, simbolicamente, está longe de afetar o sobrinho que os acompanha, nascido em França, longe de padecer desses sentimentos.

Mas a saudade sentida pelos irmãos assume formas diferentes. Ela, que nasceu em França, estudou, conhece a história e a literatura, sente que pode contribuir para o seu país, ao mesmo tempo que este tem qualquer coisa para lhe oferecer. Pertence a uma geração que quiz voltar para Portugal, o seu ideal é diferente do do irmão que deixou o país natal e sofreu de certas críticas e de racismo. Ele não quer vender a casa, é ela que toma a iniciativa necessária. Ele é casado com uma francesa e há uma dualidade no interior dele próprio.

Na sua escritura, Isabel Ribeiro baseou-se na sua própria vivência, também nas experiências conhecidas de tantas outras famílias de portugueses e outos lusófonos e consegue, de forma inteligente, deixar a interrogação de como transmitir a história das gerações precedentes e mesmo de um país inteiro às novas gerações ?

Espaços de saudade divinamente escolhidos e preenchidos musicalmente por Dan Inger e Simon Quintana, excelentes atores-músicos que acompanham a voz clara de Isabel Ribeiro, numa representação teatral em que se mistura a melancolia, a tristeza e a alegria. A música assume uma grande importância e permite transmitir, no tempo, mais do que os próprios diálogos. Todas as músicas estão ligadas à lusofonia, uma forma de embarcar os espetadores no tempo e no espaço.

O grupo estará presente no Festival de Avignon em 2024 e, entre outras representações, no Studio Hébertot, em Paris, às segundas às 19h00 e às terças às 21h00, de 29 de abril até 28 de maio.

LusoJornal